A futura demolição e implosão do Edifício Galeria XV de Novembro, conhecido como Esqueletão, no Centro Histórico de Porto Alegre, causa receio aos comerciantes dos arredores do prédio.
Com previsão de durar quatro meses, os trabalhos para colocar o edifício abaixo vão ser realizados de modo que "ocorra o menor transtorno possível", segundo a prefeitura. O engenheiro responsável pela avaliação do projeto de demolição, Marcus Vinícius Caberlon, afirmou que trata-se de um transtorno provisório para ter "uma solução definitiva".
A chinesa Shuqin Liao, 39 anos, possui loja ao lado do imóvel e decidiu encerrar as atividades em definitivo.
— Estou triste com essa situação — afirma, com auxílio da funcionária Daniela Ramos, 25, que a ajuda na tradução do idioma português para a sua língua natal.
Nesta sexta-feira (4), Shuqin Liao chegou a deixar escorrer algumas lágrimas enquanto era fotografada ao lado do cartaz que anunciava descontos de 30% para os clientes nas compras feitas em sua loja, a Musa Bijuterias, localizada na Rua Marechal Floriano Peixoto.
— Estamos com medo. A loja vai fechar para sempre em razão dessa implosão — conta Daniela, dizendo que o estabelecimento vai seguir em funcionamento até 20 de agosto.
Os clientes aproveitavam as ofertas e compravam perfumes, relógios, anéis, luvas, mochilas e mantas. A loja funciona no local, onde há intensa circulação de pedestres, há seis anos.
Na quarta-feira (2), a prefeitura antecipou como acontecerá o processo de demolição do prédio, que está inacabado desde a década de 1950. O edifício de 19 andares será derrubado de forma convencional, manual e mecânica, nos pavimentos superiores. Os 10 primeiros andares serão implodidos por dinamites.
Na loja Nabe Modas, outro estabelecimento localizado quase ao lado do Esqueletão, a proprietária Simone Kim, 60, atesta a queda no movimento de clientes. Há 41 anos ela tem ponto no local.
— Caiu a clientela em razão de tantas obras que acontecem nessas ruas do Centro — diz, acrescentando:
— Não pensei ainda no que fazer quando demolirem o Esqueletão. Mas não posso fechar, temos aluguel, dívidas e funcionários para pagar.
Na Avenida Otávio Rocha, Iara Portes, 66, possui uma banca de flores.
— Alguma coisa vai cair aqui, mas pretendo fechar a banca no dia da implosão — menciona a florista.
A gerente Laura Ligabue, 21, da Styllus Cell, loja de celulares localizada na Avenida Otávio Rocha, acredita que possa haver algum tipo de dano.
— O nosso receio é justamente cair alguma coisa por ser aqui perto, e a sujeira, é claro. E também o movimento, porque se fecharem a rua vai cair (a movimentação de clientes) — prevê.
A comerciante Maria de Lourdes Barbosa Graminho, 55, vende panos de prato bem em frente ao Esqueletão, onde morou por 18 anos.
— Criei todos meus filhos ali no Esqueletão e a maioria dos trabalhadores daqui eram moradores do prédio — explica.
Maria de Lourdes reclama que, após sair do prédio, recebeu auxílio-moradia de R$ 500 apenas até março. Além disso, alega que não teria recuperado alguns móveis que ficaram no Esqueletão após sua saída.
— Quero respeito da prefeitura. Não é assim tirar gente de dentro de casa. Alguns estão morando hoje na rua — relata.
A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) informou à reportagem de GZH que "a senhora Maria de Lourdes Barbosa Graminho foi desligada porque o benefício socioassistencial é eventual", o qual ela foi beneficiada durante o período de março de 2021 até março de 2023.
"Transtorno temporário e situação definitiva", diz engenheiro da prefeitura
A reportagem de GZH questionou o engenheiro responsável pela avaliação do projeto de demolição na prefeitura, Marcus Vinícius Caberlon, sobre o receio dos comerciantes.
— Estamos tomando todas precauções necessárias para que a gente tenha um processo perfeito e que ocorra o menor transtorno possível para eles — observa Caberlon.
Segundo o engenheiro, apesar das precauções, haverá alguns transtornos:
— Acho que o maior problema para os comerciantes e as pessoas do entorno serão estes quatro meses da obra como um todo.
O engenheiro lembrou o histórico de problemas ocasionados pelo Esqueletão no Centro Histórico:
— Aquele prédio está lá há mais de 65 anos, e quanto transtorno já causou naquele entorno? Agora vamos para um transtorno temporário e para uma situação definitiva. Quatro meses de incomodação para termos depois um terreno livre. E a cidade retira de sua paisagem urbana uma chaga.
— O transtorno não será a implosão. A implosão será um transtorno pontual, em um determinado dia e será muito bem divulgada — conclui.
A ideia da prefeitura é que o transporte do material da demolição seja feito durante o período da noite, para evitar transtornos ao trânsito. Os resíduos serão levados para o térreo pelo fosso do elevador e retirado com o auxílio de caminhões durante a noite e madrugada, entre as 20h e 7h.
O sentido da Rua Marechal Floriano Peixoto será invertido para facilitar o escoamento dos escombros até a Avenida Júlio de Castilhos. Não há detalhes de como os resíduos serão descartados, mas há a indicação de que parte será encaminhada para reciclagem.