A prefeitura de Porto Alegre vai realocar um antigo bonde do bairro Partenon para o Centro Histórico. O veículo de cor amarela, com detalhes em vermelho e verde, que pesa 12 toneladas e integrava a linha do bairro Glória, encontra-se hoje em frente à sede da Companhia Carris Porto-Alegrense e deve ser instalado no Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado Público. O Executivo municipal estima realizar a operação até o fim de outubro.
Atualmente, o veículo abriga o Serviço de Atendimento ao Cliente Carris (Sacc) e o setor de achados e perdidos da companhia. A ideia do Executivo é que, com a mudança, em seu interior, passe a funcionar o Centro de Informação Turística (CIT), vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET). Nesta terça-feira (8), GZH foi conhecer o veículo, que está em bom estado de conservação.
— O bonde está em ótimas condições e, de certa forma, não precisa nem ser restaurado. No máximo, necessita ter uma adequação do espaço interno para o que nós queremos que seja — afirma o secretário municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos, Cezar Schirmer. — O Centro Histórico tem toda uma história com a presença do bonde. Sobretudo naquela região da Praça XV, que era o terminal dos bondes — acrescenta.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs) se comprometeu a auxiliar na logística de remoção, transporte e recolocação do bonde.
Como ficará ao ar livre, estão sendo discutidas formas de protegê-lo das ações climáticas e de atos de vandalismo.
— O bonde vai ficar aqui na frente do Largo Glênio Peres, onde já estão os trilhos remanescentes do fim da linha — reforça o diretor do Mercado Público, Ronaldo Pinto Gomes, dizendo que o veículo está "98% em condições" de ser aproveitado.
Para poder abrigar o Centro de Informação Turística, o veículo deverá passar por ajustes no mobiliário interno para receber funcionários e a presença de visitantes. A prefeitura não cita valores, mas acredita que as cifras envolvidas para as melhorias sejam irrelevantes.
Ideia de reativar linha histórica não avançou
Um estudo de viabilidade para implantação de uma linha de bonde no Centro Histórico da Capital foi desenvolvido em 2012 pela prefeitura. A então Secretaria Municipal de Turismo (SMTUR) capitaneou o processo. À época, o consórcio formado pela Quanta Consultoria Ltda e a Água & Solo Estudos e Projetos S/S Ltda obteve a melhor pontuação entre quatro concorrentes e apresentou o resultado em audiência pública, ocorrida em dezembro do mesmo ano, na Câmara Municipal de Porto Alegre.
Na oportunidade, foram analisados dois percursos para a linha do bonde. Um teria extensão de 3,2 quilômetros, passando pelas ruas Sete de Setembro e dos Andradas. O outro trajeto, com 3,8 quilômetros, sugeria a troca da Rua dos Andradas pela Duque de Caxias.
Chegou a ser escolhida a proposta do trajeto de 3,8 quilômetros. Seriam utilizados dois veículos que necessitavam de recuperação estrutural e mecânica, e a alimentação seria realizada por bateria. O prazo estimado para implantação do projeto foi de 26 meses. Porém, a ideia não seguiu adiante.
— Acredito que esse projeto parou. Nunca ouvi essa pauta na prefeitura. Agora estamos fazendo a restauração do Centro Histórico, pelo menos no projeto, até o momento, não entrou o restauro da linha — esclarece a secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Porto Alegre, Júlia Evangelista Tavares.
O secretário Cezar Schirmer, contudo, diz que o projeto não está enterrado, mas possui custo elevado.
— O ideal seria fazer uma linha turística, mas isso é um projeto de médio e longo prazo e custa caro. Estamos trabalhando essa ideia — diz Schirmer, sem estimar datas, e citando o uso turístico de bondes em cidades como Lisboa, em Portugal, e São Francisco, na Califórnia.
Conforme GZH noticiou em 2021, um projeto foi enviado pela prefeitura para a Câmara de Vereadores durante a gestão de José Fortunati tentando retomar as viagens. Na administração de Nelson Marchezan, houve simpatia pela ideia, mas nada saiu do papel.
Os bondes e a Capital
A relação dos bondes com Porto Alegre é antiga. A história começou com a fundação da Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense, em 19 de junho de 1872. Segundo descreve o jornalista Carlos Urbim, no livro Rio Grande do Sul — Um Século de História, "os novos veículos de metal e madeira, com lamparinas a querosene, transportavam até 40 passageiros confortavelmente sentados e atingiam a velocidade de 4,5 km/h."
A primeira linha desses veículos tinha tração animal e percorria o trajeto entre o Centro e o bairro Menino Deus. Era chamada de Arraial do Menino Deus. A viagem podia demorar até seis horas, especialmente porque a parelha de mulas encontrava dificuldades nas lombas. Na sequência, vieram as linhas Independência e Floresta.
Em 1906, a Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense se uniu à Companhia Carris Urbanos de Porto Alegre. Dessa fusão, nasceu a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense, atualmente conhecida por Carris. A nova empresa inaugurou a era dos bondes movidos a eletricidade e também fornecia energia elétrica.
O primeiro bonde elétrico corria sobre os trilhos com velocidade máxima de 8 km/h. A operação dos bondes elétricos de dois andares teve início em 1908. Eram conhecidos como imperiais, embora tenham recebido o apelido de "chope duplo". Por sua vez, o serviço com tração animal foi encerrado definitivamente em 1914.
A partir de 1963, o sistema de bondes começou a ser substituído por ônibus e tróleibus. De acordo com o historiador Sérgio da Costa Franco, em Porto Alegre — Guia Histórico, o serviço de bondes foi extinto em 1970. No dia 8 de março daquele ano, foi feito um último passeio de bonde pela Capital, envolvendo as linhas Glória, Teresópolis e Partenon.
Mais sobre o bonde que irá para o Largo Glênio Peres:
- Ano de fabricação: 1929
- Prefixo: 123
- Modelo: Brill
- Procedência: integrante de uma série de 20 veículos encomendados junto à empresa norte-americana J. G. Brill
- Atuou até quando na Capital: anos 1970
- O que possui: truque duplo, em bitola de 1.435 mm, duas alavancas para captação de energia elétrica e bidirecionalidade
- Restauração: foi completamente restaurado pela Carris em 1999.