Em cena oposta ao início do ano, quando a estiagem secou rios e levou a uma situação crítica das bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, quem passa pela saída de Porto Alegre nesta semana se surpreende pela paisagem tomada de áreas inundada. A água do Rio Gravataí se acumula dos dois lados da rodovia que cruza a Região Metropolitana em direção ao Litoral Norte, deixando os tradicionais outdoors do terreno que margeia a freeway dentro d’água.
Apesar do contraste extremo em relação ao cenário do verão, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, o geólogo Sérgio Cardoso, explica que a área é naturalmente propícia a inundações deste tipo, pela própria característica do terreno.
— O Gravataí é um rio de planície, ou seja, o desnível é muito pouco da cabeceira até Porto Alegre. Da RS-118 até a foz, que seria na BR-448, há um desnível muito baixo, quase próximo de zero. Quando chove nos outros rios, as águas que chegam a Porto Alegre acabam represando a água do Gravataí — diz Cardoso.
A planície que está cheia d’água na região é o reflexo disso e só deve esvaziar quando o Guaíba conseguir absorver esta porção acumulada. Conforme o geólogo, a água da chuva que está chegando ao Rio Gravataí, não encontra vazão suficiente no Guaíba e por isso se acumula nas regiões de planície.
Nos últimos dias, o nível do Gravataí está em nível “extremamente alto” nos dois pontos em que há acompanhamento de medição. Na segunda-feira (24), a medição no Passo do Negros, na altura da fábrica da GM, era de 3m34cm. Seis meses antes, em 24 de janeiro, o nível da água no mesmo ponto era de 21 centímetros.
A possibilidade de a água invadir a rodovia é remota. Mesmo com a precipitação prevista para ocorrer ao longo da semana, a chuva deve fazer com que a água apenas fique acumulada por mais tempo na região.
O alagamento da área também não é uma situação anormal, segundo o geólogo. Ele acrescenta que a chuva recente está repondo água aos banhados que estavam muito secos nos primeiros meses do ano:
— Agora é que está criando uma umidade suficiente após o verão que foi extremamente seco.
Cardoso ainda lembra a importância de as áreas de várzea não serem ocupadas, porque justamente servem para absorver a água de rios que não escoa rapidamente.
Lixo acumulado
Em fevereiro, reportagens de GZH e RBS TV mostraram que parte do curso d'água do Rio Gravataí ficou coberto de lixo. Uma faixa de 70 metros foi tomada por uma camada de cerca de 40 centímetros de resíduos diversos, como plástico, isopor e até pneus.
A prefeitura de Cachoeirinha contratou uma empresa para fazer a retirada do lixo. A limpeza foi concluída em março, com a remoção de cerca de 200 toneladas de resíduos. Desde então, a paisagem não tem mais o acúmulo de lixo registrado nos primeiros meses do ano.