É crítica a condição para abastecimento de água através da captação no Rio Gravataí. Tanto na estação de medição no município que leva o mesmo nome do manancial, quanto na estação que capta água em Alvorada, os níveis estão abaixo dos parâmetros estabelecidos para captação de água. Além destas duas cidades, Cachoeirinha, Viamão, Santo Antônio da Patrulha e Glorinha dependem da água extraída do Gravataí.
De acordo com as regras definidas pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), quando a medição fica abaixo de 0,50 metro é determinado estado crítico e a retirada de água fica suspensa para todas as finalidades, exceto para a distribuição ao consumidor. Nesta quarta-feira (28), em Gravataí, a medição apontou que o nível está em 0,40 metro.
Quando o nível está acima de 0,80 metro, é definido estado de atenção e a captação de água acontece normalmente, mediante monitoramento permanente. Abaixo dessa marca, começa o estado de alerta, tornando intermitente a possibilidade de captação para irrigação e outras finalidades que não sejam o abastecimento para o consumo humano.
Em Alvorada, o sistema de medição é semelhante. Os parâmetros são um pouco diferentes. Acima de 1,60 metro é atenção. Abaixo disso, alerta. Quando o valor medido é menor que 1,30 metro, a situação passa a ser considerada crítica.
A réguas são calibradas entre elas e o nível do mar. Os boletins de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí são publicados todos os dias no portal da Sema para que as informações sejam acessíveis tanto parta gestores, quanto para empreendedores e cidadãos.
— Na bacia do Gravataí ficou estabelecida por muitos anos uma disputa entre captação para a agricultura e para o abastecimento da população. Há cerca de dois anos, a Sema normatizou os limites em uma portaria que passou a ser o balizador desta relação — explica o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
Cardoso afirma que as apurações de níveis podem amparar decisões de administradores públicos da área sobre o abastecimento em suas comunidades.
— Estes dados devem impulsionar também a divulgação de recomendações para o uso racional do recurso hídrico, campanhas em favor da economia e quaisquer iniciativas positivas que podem ser adotadas antes de uma situação indesejável, que é o desabastecimento — comenta.
A Corsan, por sua vez, informou em nota que o abastecimento de água não está comprometido pela estiagem. Segundo a operadora do sistema de esgoto e água tratada, o Rio Gravataí, é um "ponto de atenção, pois está em um nível crítico". "É importante a conscientização da população destes municípios para o consumo consciente", completa a nota.
Efeitos da estiagem evidenciados por comunidade ribeirinha
As marcas da estiagem ficam registradas no ambiente e são constatadas com muita clareza para quem convive com o manancial. No modesto balneário do Passo das Canoas, em Gravataí, a impressão da baixa no nível da água é percebida pela costureira Loreci Machado, 52 anos.
— Faz um ano que estou morando por aqui e nunca tinha visto o rio tão baixo assim. No inverno a água chegava perto da calçada, na frente das casas — descreve Loreci.
Morador do local há 50 anos, o servidor aposentado Breno Duarte, 69 anos, relata que as variações de nível são facilmente notadas nos diferentes períodos do ano. Nesta quarta-feira, ele vestiu o macacão de pesca, aqueles com botas de borracha acopladas à roupa, e foi revisar as canoas que aluga para quem visita o local para praticar pesca esportiva.
Para chegar aos barcos, Breno caminha entre 10 e 15 metros pela faixa de terra lamacenta que se desnuda da vestimenta de água em tempo de estiagem. Partes do trecho já exibem o ressecamento do barro, criando fissuras entre os torrões de terra. Nas laterais do leito, barrancos desenhados pela erosão mostram terminações das raízes da vegetação ciliar.
— O olhar da gente que mora perto do rio é sempre de cuidado e atenção, porque tanto a seca, quanto a cheia, podem trazer problemas. Mas o verão sempre traz a repetição de uma preocupação, pois não sabemos até quando o rio é capaz de recuperar sua força para enfrentar a próxima estiagem — define o ribeirinho.