Pesquisadores do Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LDSM) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão submetendo quatro obras de arte do Palácio Piratini a processo de escaneamento e digitalização tridimensional.
— Participamos desse projeto do laboratório da UFRGS, via a Antonella Caringi (neta do escultor Antonio Caringi já falecido), que está ajudando os pesquisadores a identificarem algumas obras. Fizeram em quatro daqui, não será em todo nosso acervo — afirma o diretor de Conservação e Memória do Palácio Piratini, Mateus Gomes.
As obras em questão são a escala menor de O Laçador, a escultura de Bento Gonçalves e o busto de Getúlio Vargas (as três de autoria do pelotense Caringi), além do busto O Gaúcho, do escultor uruguaio Federico Escalada. A primeira parte do trabalho foi realizada em um dia, sendo que cada peça demorou uma hora para ser escaneada.
— Não temos um projeto especificamente com o Palácio Piratini. Uma parte do nosso trabalho que envolve monumentos acabou esbarrando em obras que estavam no Piratini — explica o atual coordenador do laboratório, Fábio Pinto da Silva.
Criado em 1998 e com proposta multidisciplinar, o LDSM é vinculado à Escola de Engenharia e à Faculdade de Arquitetura da universidade. Fica localizado em um espaço de 150 metros quadrados nas dependências do prédio Château, no Campus Central, e conta com 45 pessoas desenvolvendo pesquisas e trabalhos desde a iniciação científica até o pós-doutorado. O local ainda possui uma outra sala de 30 metros quadrados, situada no sétimo andar da Engenharia Nova.
O coordenador compartilha a relevância desse trabalho:
— A importância é de salvaguarda, de digitalizar e manter os dados guardados para o futuro. Se houver um furto, acidente ou incêndio, por exemplo, temos os dados para reconstruir a peça — ilustra.
— Podemos usar esses modelos para fazer ações de educação patrimonial, imprimir peças para pessoas com deficiência visual tocar, utilizar em ações educativas, museus e escolas. Conscientizar as pessoas para que elas ajudem a manter essas obras preservadas — completa.
Nesta sexta-feira (23), a reportagem de GZH visitou o laboratório, onde pôde acompanhar parte do trabalho e ver algumas reproduções em menor escala de outras obras de arte digitalizadas, como o próprio O Laçador, o Gaúcho Oriental, que fica localizado perto do espelho d'água no Parque da Redenção, e uma das esculturas femininas que atualmente está nos jardins da Hidráulica do bairro Moinhos de Vento.
A importância é de salvaguarda, de digitalizar e manter os dados guardados para o futuro. Se houver um furto, acidente ou incêndio, por exemplo, temos os dados para reconstruir a peça
FÁBIO PINTO DA SILVA
Coordenador do laboratório
— Temos duas etapas no trabalho. Uma para aquisição de dados, quando levamos o scanner 3D até a obra e os trazemos brutos para o laboratório. Depois ocorre o processamento das informações, que leva várias horas e até alguns dias — detalha Silva.
Os pesquisadores possuem seis scanners de última geração à disposição, sendo três mais utilizados (alta precisão, médio alcance e longo alcance).
Para a execução do trabalho no Palácio Piratini, a equipe levou ao local o scanner de luz estruturada, ou branca, como também é conhecido. O aparelho em questão é de médio alcance.
Porém, há scanners de longo alcance capazes de fazerem até fachadas de prédios históricos.
O coordenador cita a reconstrução feita nas placas que integravam o monumento equestre do general Bento Gonçalves, localizado na Avenida João Pessoa.
— No monumento ao Bento Gonçalves, que também é do Caringi, digitalizamos algumas placas. Elas foram furtadas e não existem mais, mas temos os dados digitais para futuramente se fazer a reconstrução e se colocar uma réplica no local — relata.
A placa do monumento foi impressa em 3D. Em seguida, foi feito o molde de silicone, a peça em resina, e aplicada pintura e pátina em cima da superfície imitando o bronze. É possível ver fragmentos dessa reprodução no laboratório.
Estátua de O Laçador passou pelo trabalho dos pesquisadores
Principal símbolo de Porto Alegre, O Laçador é mencionado pelo pesquisador, que conta alguns detalhes sobre os episódios em que o laboratório da UFRGS se envolveu com trabalhos relacionados à escultura de Caringi.
— Já digitalizamos O Laçador em duas oportunidades, em 2011 e 2022 — conta o coordenador, ressaltando que também são desenvolvidos projetos e trabalhos além da área cultural.
— Quando fizemos O Laçador em 2011, identificamos que ele tinha algumas fissuras na perna. Isso ajudou a fazer um alerta às autoridades para o projeto posterior de restauração — recorda.
O tempo acaba sendo implacável com as obras de arte da Capital, especialmente aquelas expostas às intempéries do clima.
— Digitalizamos O Laçador novamente agora com scanner mais novo e de alta resolução. E deu para observar certa ação do tempo pouco mais de 10 anos depois — compartilha.
O monumento aos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, localizado na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre, deverá ser submetido ao mesmo processo ainda em 2023.
Para Wilson Kindlein Júnior, vice-coordenador do LDSM, o laboratório possui "diferentes campos de fala" e se encontra em um nível de padrão internacional.
— A ideia do laboratório é trazer essa cientificidade e tecnicidade da engenharia à disposição de outras áreas — diz.
Dessa maneira, a tônica do laboratório é trabalhar com pessoas de outras áreas, como artes plásticas, comunicação, museologia, design, engenharia mecânica, ciência da computação, arquitetura, administração, entre outras.
— É um laboratório verdadeiramente multidisciplinar — conclui.
Os pesquisadores já digitalizaram peças dos acervos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e do Museu Julio de Castilhos. O laboratório desenvolve projetos ainda com locais como o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo e o Museu de Ciências Naturais da UFRGS.
Para saber mais, acesse o site do laboratório aqui.