Pelo segundo ano, a dengue tem causado incômodo em Porto Alegre. O avanço da doença, principalmente, na Zona Leste, apesar de menor do que no ano passado, ainda é bastante significativo.
Conforme o boletim epidemiológico mais recente divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nesta terça-feira (25), neste ano já foram notificados 2.764 casos suspeitos de dengue entre moradores da Capital, dos quais 1.878 (67,9%) foram confirmados. No mesmo período do ano passado, 2.252 casos tinham sido confirmados. É uma redução de 16,6%.
Entretanto, quando comparados aos números de 2021, quando a dengue não era um problema, apenas 70 casos tinham sido confirmados até esta mesma data — o que representa um aumento astronômico de 2.582,8%.
No boletim mais recente, a prefeitura aponta quais bairros mais estão infestados pelo mosquito Aedes aegypti e também os locais que mais registraram casos. E pontos da Zona Leste, como os bairros Vila São José e Vila João pessoa, se destacam nesse acumulado de pessoas contaminadas.
A reportagem circulou pela região. O posto de saúde da São José estava lotado. Informalmente, funcionários citam que a busca por atendimento com sintomas da dengue cresceu bastante. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) orienta que a rede básica é mesmo o local onde os moradores devem fazer o primeiro combate à doença.
No segundo final de semana de maio, a Clínica da Família Campo da Tuca abriu para atendimento exclusivo de sintomas da dengue. E, desde o final de semana passado, cinco unidades de saúde (São Carlos, Bom Jesus, José Mauro Ceratti Lopes, Moab Caldas e Santa Marta) ficam abertas aos sábados e domingos, das 10h às 19h, em maio e nos próximos três meses (período de inverno).
As estruturas servirão de apoio aos prontos-atendimentos, reduzindo o tempo de espera, com foco em consultas médicas.
Famílias atingidas pela dengue
Circulando pela região, alguns pontos de foco de lixo chamam atenção. Rodeada também por mata e umidade, a região é um lar convidativo para as larvas do Aedes aegypti. E a diarista aposentada Eloísa Bressane da Costa, 74 anos, sentiu na própria pele o problema.
A rua onde mora é lindeira a uma mata densa, parte dos galhos e de outras vegetações chega a invadir o leito da via. Sem movimento, o local acaba sendo também alvo de descarte de lixo. A reportagem encontrou, principalmente, potes de margarina e de outros alimentos, que podem acumular água quando descartados incorretamente.
Com esse cenário, Eloísa não escapou da dengue. O problema não foi só com ela, pois a bisneta que vive na mesma casa também foi contaminada. E o filho ainda se recuperava da doença transmitida pelo mosquito.
— Ele começou a apresentar os sinais na pele, veio a febre e aí ficou de cama. Agora, está um pouco melhor — conta Eloísa.
Segundo ela, em casa, nada que possa representar risco está presente. Até na hora de jogar o lixo fora, ela cuida para que as garrafas de refrigerante estejam vazias e de ponta-cabeça.
— O problema maior é o mato e o lixo aqui perto, precisamos que a prefeitura limpe isso — pede a moradora da Rua Dona Firmina, que divide as vilas São José e João Pessoa.
Cuidados fazem parte do cotidiano
Dono de um mercado na São José, Cristiano Bruxel, 42 anos, tem notado o aumento dos casos de dengue no bairro. No estabelecimento, ele diz que redobrou cuidados, mas aponta que há ocupações nas proximidades que sofrem pela falta de saneamento básico, deixando muito esgoto a céu aberto em pontos do bairro.
— Como passa muita gente por aqui, acabamos sabendo dos casos. Não vi muitas ações da prefeitura, então, acho que nesses locais mais delicados, como as ocupações, deveriam ir mais — sugere Cristiano.
O motorista de ônibus aposentado José Fernando, 59 anos, conta que um casal de vizinhos está recolhido em casa por causa da dengue. Morador da Vila João Pessoa, ele reconhece que a situação está complicada e torce por uma presença constante de ações da prefeitura na região.
O cuidado com as larvas do mosquito também é ponto de atenção na residência do casal formado pelo vendedor Ricardo Fuhr, 48 anos e a dona de casa Andréia Mulder, 45 anos. Eles mostram como as plantas pelo pátio não têm pratinhos onde a água pode se acumular. Entretanto, também reclamam de acúmulo de lixo e esgoto a céu aberto nas proximidades da residência, na Vila São José.
Ação precisa ser conjunta
Tirar uma hora por dia na semana para conferir pela residência se há algum ponto que pode gerar proliferação do Aedes aegypti. Essa é a dica do chefe da equipe de Vigilância da Qualidade da Água de Porto Alegre, Alex Lamas. Ele pontua que desde o pequeno pote de margarina, passando por um ralo, garrafa pet até os pneus, tudo precisa ser verificado.
— Mais de 80% dos focos que encontramos estão nos fundos dos pátios das residências. E os agentes nem sempre conseguem chegar em todos locais. Por isso, é preciso um trabalho conjunto entre prefeitura e comunidade.
Outro ponto comum de acúmulo de água parada são piscinas plásticas, diz Alex. Mesmo passado o verão, algumas famílias não desmontam o equipamento e deixam água parada em seu interior.
Conforme o membro da Unidade de Vigilância Ambiental, são 82 agentes de combate a endemias (ACEs) atuando na Capital, divididos em quatro regiões. Atualmente, os ACEs do eixo norte estão auxiliando também a Zona Leste, em razão do aumento de casos.
Região tem fatores de transmissão
A predisposição da região em concentrar mais focos de dengue está ligada a diversos fatores, aponta Alex:
— São fatores climáticos. É uma região de mais sombra e com muito lixo, a umidade é maior e com isso, os mosquitos se proliferam mais.
Desde janeiro, foram feitas cerca de 15 mil visitas de ACEs na Capital. No ano passado, foram 26 mil. Ainda assim, Alex explica que não se consegue chegar em todos os locais, por isso, o contato pelo 156 para denúncias e informações sobre focos de dengue é bem-vindo.
Em último caso, se flagrado o descumprimento de orientações e constatado o risco para a comunidade, proprietários de áreas com esses focos podem ser multados.
Principais sintomas da dengue
- Febre alta, entre 39°C e 40°C, com duração de dois a sete dias
- Dor de cabeça, atrás dos olhos, no corpo e nas articulações
- Mal-estar geral
- Náusea
- Vômito
- Diarreia
- Manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira
Dicas de prevenção
- Encha os pratos dos vasos de plantas com areia até a borda
- Troque a água e lave o vaso das plantas aquáticas com escova, água e sabão pelo menos uma vez por semana
- Troque a água dos animais de estimação e lave as vasilhas constantemente
- Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira sempre fechada
- Caixas d'água também devem permanecer fechadas e todos os objetos que acumulam água, como embalagens usadas, devem ser jogados no lixo; limpeza também deve ser feita constantemente
- Folhas e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas também precisam ser removidos
- Garrafas e recipientes que acumulam água devem ser sempre virados para baixo
- Mantenha materiais para reciclagem em saco fechado e em local coberto