Com planos de ser concedido à iniciativa privada há pelo menos oito anos e futuro ainda indefinido, o Parque Zoológico de Sapucaia do Sul abrirá os portões excepcionalmente na próxima segunda-feira (1º) para comemorar o aniversário de 61 de anos de inauguração. O ingresso para pedestres será um quilo de alimento não perecível por pessoa, ação solidária que deve movimentar o local durante o feriado do Dia do Trabalho.
A reportagem de GZH esteve no Zoo de Sapucaia do Sul nesta sexta-feira (28) para conferir a conservação do parque, a estrutura para receber os visitantes e o cuidado com os animais. O que se encontrou foi uma área limpa, com grama aparada, e uma vasta quantidade de espécies nativas e exóticas, como bugios-pretos, macacos-pregos, onças-pintadas, hipopótamos, rinocerontes e um raro tigre siberiano.
— Nós temos duas datas no zoo que são mais movimentadas, que são o 1º de maio e o 12 de outubro. No dia 1º, nós normalmente fazemos alguma ação para comemorar (o aniversário). É um feriado mais familiar. Já as escolas vêm mais no Dia das Crianças — conta a gestora do parque, a veterinária Caroline Costa Gomes.
Normalmente, o zoo fica fechado às segundas-feiras para o descanso dos animais. O horário usual de funcionamento é terça a domingo, das 9h às 17h.
Preservação de espécies
Quem já esteve no zoológico na época do colégio ou em alguma excursão partindo da Capital ou do Interior no início dos anos 2000 talvez fique desapontado em um primeiro momento por não encontrar mais girafas ou o famoso leão Jerônimo, que morreu em 2021. Ambos são espécies originárias da África, exóticas no Brasil. E, sim, nota-se a falta deles. Mas há, por outro lado, uma diversidade imensa de animais, especialmente os nativos do Brasil, que podem ser observados pelo olhar curioso de crianças, jovens, adultos e idosos.
Diferente dos tempos em que os animais eram vistos como mera atração turística em jaulas, hoje a principal proposta do zoológico é ajudar a conservar espécies e promover a educação ambiental da população que tem pouco ou nenhum contato com a fauna brasileira. A gestora do parque, Caroline Costa Gomes, explica que o bem-estar dos bichos é priorizado no tratamento diário. Vários deles têm até ar-condicionado, especialmente aquelas espécies que não são acostumadas com as condições de temperatura do Rio Grande do Sul.
— O conceito de zoológico e de recinto dos animais mudou e a gente tem que se atualizar e ir atrás disso. A gente não pode mais aceitar zoológicos como eram antigamente, que priorizavam o público e não os animais. A pessoa não tem que chegar e encostar no leão, não é isso que queremos. Ela tem que saber observar e respeitar o animal — avalia a gestora.
Durante a visita ao parque, a reportagem de GZH acompanhou algumas ações conhecidas como "enriquecimento ambiental". Basicamente, são intervenções em que os tratadores entram na jaula (quase sempre separados dos animais, por segurança) para oferecer alimentos e objetos que estimulam os bichos a interagir e sair da rotina.
Os macacos-prego, por exemplo, ganharam caixas recheadas com folhas de hibisco e insetos — eles adoram devorar ambos. Primeiro, eles olham e mexem na caixa com curiosidade. Depois, para conseguir comer, eles precisam enfiar as mãos nos furos feitos na parte de cima da caixa, sentir a textura e puxar o alimento para fora.
Já a onça-pintada Cheetos ganhou algumas caixas de papelão para se entreter. Como se fosse um gato tamanho família sem consciência das dimensões do próprio corpo, ela tentou entrar em uma das caixas e rolou no chão, para alegria de quem assistia à cena — não resta dúvida de que felinos são fissurados em caixas, independente do tamanho.
Cheetos é um macho de aproximadamente cinco anos, que foi trazido para Sapucaia do Sul em um avião da Força Aérea Brasileira, em 2021. A onça estava em Jundiaí, no interior de São Paulo, depois de passar por um centro de reabilitação. O animal não tinha condições de ser solto novamente na natureza.
Além dele, há também uma onça-pintada fêmea, a Mimosa. Os dois convivem no mesmo espaço em períodos curtos de tempo, pois ainda estão se acostumando com a presença do outro. De forma geral, as onças são animais solitários. A ideia é que futuramente o casal possa se reproduzir de forma natural, para conservar a espécie.
O caso de Cheetos ilustra bem a missão executada pelo parque de conservar espécies ameaçadas por diferentes fatores. É comum que animais que foram atropelados ou resgatados de cativeiros ilegais sejam recebidos em Sapucaia do Sul. O tigre siberiano Dan, por exemplo, veio de uma apreensão no Paraná. O felino é natural da Ásia e está em uma jaula provisória enquanto aguarda a conclusão da obra em outro espaço maior e mais cômodo.
— É o tipo de instituição que não tem como não existir, nem no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo. É muito essencial para a conservação das espécies e para a educação ambiental. São as duas principais vertentes de um zoológico. O grande problema é o custo de manutenção alto, porque exige uma equipe especializada, custo de alimentação. Mas é uma instituição extremamente necessária — observa Caroline.
Em outra ala do parque, quatro hipopótamos fazem a diversão da criançada. São dois machos e duas fêmeas, que vivem separados como forma de evitar que se multipliquem rapidamente — hipopótamos se reproduzem facilmente. Mais adiante, estão os dois espécimes de rinoceronte, o Nico e a Nica.
O Mingo, filhote de flamingo de apenas dois meses, é um dos animais mais jovens do parque. Ainda coberto de plumas acinzentadas nessa fase da vida, Mingo deve ganhar as primeiras penas rosas em alguns meses. Sua criação foi facilitada pela intervenção dos técnicos do zoológico, que perceberam a dificuldade que as aves vinham encontrando para se reproduzir de forma natural.
No extremo oposto está o condor Severino, o membro mais antigo do parque. Severino chegou em 1972, apenas 10 anos após a inauguração oficial do parque pelo então governador Leonel Brizola. Está há tanto tempo no local que já assistiu à passagem de 14 governadores diferentes pelo cargo. O condor é uma das maiores aves do mundo.
Concessão
O zoológico recebe normalmente de 25 mil a 30 mil visitantes por mês. As épocas de maior movimento são as férias de verão e de inverno, além de outubro, quando é comemorado o dia das crianças. Cerca de 100 funcionários, entre servidores e terceirizados, atuam diariamente em serviços de manutenção, jardinagem, limpeza, atendimento ao público e tratamento em uma área colossal de 780 hectares — dos quais 40 estão abertos à visitação.
Procurada por GZH, a Secretaria de Parcerias e Concessões recusou o pedido de entrevista sobre o futuro do parque, mas reforçou que mantém a expectativa de conceder a área. O governo do Estado já tentou, em duas oportunidades, repassar a administração do zoológico para a iniciativa privada, mas não houve interessados.
O principal desafio é encontrar uma forma de viabilizar a concessão, isto é, encontrar uma forma de que o investimento seja remunerado. Na última tentativa, o vencedor precisaria fazer um investimento de R$ 70 milhões, dos quais R$ 25,5 milhões deveriam ser destinados em até dois anos após a assinatura do contrato.
O custo de manutenção do parque é de R$ 10 milhões anuais ao governo, conforme a última estimativa divulgada.