Vestidas de azul, centenas de pessoas se concentraram e realizaram uma caminhada no Parque da Redenção, em Porto Alegre, neste domingo (2), Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O evento busca desmistificar o transtorno e estimular a troca de experiências entre as famílias.
A caminhada, realizada anualmente, ocorre dias após o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) divulgar uma prevalência atualizada do transtorno, apontando que uma em cada 36 crianças de até oito anos é autista. O dado é americano, mas levanta o debate sobre como governos e populações devem se preparar.
— Há 20 anos, quando meu filho teve o diagnóstico, era uma criança autista a cada 150 nascimentos. Agora, temos quase cinco vezes mais. Isso mostra que o autismo cresce e a gente precisa de uma sociedade preparada para acolhê-los, porque o autista tem vários graus e ele cresce também — disse Luciana Medina, coordenadora do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab).
Neste final de semana, GZH publica uma série de reportagens em que mães e pais falam sobre o impacto do diagnóstico, a rotina com diversas terapias, os desafios de cada fase e a busca por inclusão (veja nos links ao lado).
Um dos principais desafios é o diagnóstico do espectro, que pode levar de dois a três anos e atrasa o tratamento e desenvolvimento. Mãe do Bernardo, três anos e 11 meses, a corretora de imóveis Larissa Manozzo destaca que os primeiros sinais surgiram cedo, mas que foi um processo longo até o diagnóstico:
— Na amamentação, notei alguma diferença, ele não pegava o seio e o olhar dele era para o nada. Com 10 meses, um primeiro psicólogo comentou que poderia haver algo diferente nele, mas o diagnóstico mesmo só veio aos dois anos de idade, depois que busquei diversos profissionais.
Promessa de 2022
No ano passado, a prefeitura de Porto Alegre anunciava a criação de um Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa), na Avenida Bento Gonçalves. O local, com capacidade de atender até 300 crianças de zero a 12 anos pelo Serviço Único de Saúde (SUS), deveria ficar pronto ainda no primeiro semestre de 2022, com início das operações previstas para agosto. Contudo, burocracias impediram o cumprimento da promessa, de acordo com o coordenador do Centro, o médico psiquiatra Alceu Gomes.
— Precisava, primeiro, ter uma lei, depois de uma lei, um decreto. Depois, como envolve três secretarias, tem muitos aspectos jurídicos, isso provocou um pequeno atraso — justificou.
Segundo Gomes, a obra está pronta e a inauguração depende da assinatura de um contrato com responsáveis pela operação do local, o que, segundo ele, deve ocorrer nos próximos dias.
— Atrasou, mas vai sair. Não tem marcha ré, está na etapa final — prometeu.
Quando pronto, vai reunir neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e atendimento pedagógico especializado. O encaminhamento será realizado por meio das unidades de saúde e por escolas conveniadas do município.