Os foliões foram presenteados com uma tarde quente e ensolarada nesta terça-feira (21), quando puderam aproveitar o Carnaval de rua em Porto Alegre. Por volta das 15h20min, o bloco No Caminho te Explico partiu da Praça General Braga Pinheiro, no Centro Histórico, para levar alegria e diversão para as pessoas que prestigiavam a festa ou acompanhavam das janelas dos edifícios.
— Não temos um líder, é uma coisa orgânica. O Carnaval é bem de rua e aberto — explica a economista Caroline Dutra, 29 anos, uma das integrantes do bloquinho.
A concentração começou por volta das 14h. Aqueles que chegavam carregavam instrumentos musicais e usavam diferentes fantasias, alguns exibiam os rostos pintados. A folia uniu famílias e diversas gerações, como pais e filhos ainda em carrinhos de bebês.
— A gente faz Carnaval não porque a vida está boa, mas pelo sentido contrário. O poder público de Porto Alegre nada fez para que o Carnaval da cidade se juntasse, tomasse o Centro de uma forma segura, com banheiros químicos e com policiamento. Um Carnaval popular que as pessoas não gastem nada — critica o corretor de imóveis Carlos Eduardo, 36 anos, um dos primeiros integrantes a chegar ao local de encontro.
Todos os foliões entrevistados por GZH reclamaram da ausência de banheiros químicos disponíveis. As lixeiras e contêineres existentes são os que já ficam em frente aos prédios normalmente, nada foi colocado em função da festa. Houve críticas à prefeitura por não apoiar o evento, o que já havia sido tema de debate na última quinta-feira (16), na Rádio Gaúcha, quando lideranças dos blocos da Capital fizeram as mesmas queixas.
Na ocasião, o secretário municipal de Cultura, Henry Ventura, admitiu que "não há uma política estruturante continuada para os blocos" e que por isso a prefeitura havia chamado uma reunião com os representantes Carnaval de rua da Capital, na qual foi criado um comitê para tratar das questões relativas aos festejos.
— Esperamos dar continuidade para os próximos carnavais — completou Ventura na semana passada.
Na tarde desta terça-feira, havia agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) em alguns pontos, mas, na esquina das ruas Washington Luiz com Espírito Santo, os próprios foliões tiveram de orientar os carros durante o deslocamento dos participantes em direção à Praça Júlio Mesquita, para onde o bloco rumava. Três brigadianos acompanharam a movimentação do público.
O bloco No Caminho te Explico existe desde o ano passado e se organiza especialmente pelas redes sociais. Para a diretora de arte Evelyn Abs, 30 anos, é importante participar.
— A maioria do pessoal que está aqui teve de ficar em Porto Alegre por questões de trabalho. Já que não tivemos Carnaval neste ano, decidimos fazer esse movimento — conta.
"É um ato de luta e de fazer pela gente"
A estudante de Letras Maria Eduarda, 25 anos, foi uma das que se queixou de falta de apoio da prefeitura e ressaltou que sair às ruas é simbólico.
— É um ato de luta e de fazer pela gente — reflete, sobre as próprias pessoas organizarem o evento, acrescentando: — Deveríamos ter apoio da prefeitura e banheiros químicos. Fica difícil, mas estamos tentando fazer a alegria.
Questionada por GZH, a assessoria de comunicação da prefeitura informou que 12 blocos comunicaram a prefeitura que sairiam no Carnaval, mas que o "No Caminho te Explico" não teria avisado. Além disso, a prefeitura diz que a EPTC prestou apoio no controle do trânsito "porque os agentes viram a movimentação".
"Não é nem questão de prefeitura proibir ou permitir, mas de avisar. Assim, podemos mobilizar DMLU para a limpeza, EPTC para o trânsito. É uma questão de organização", diz a assessoria.
Além disso, a prefeitura acrescenta que "está trabalhando em um edital com foco no Carnaval de rua, que infelizmente não ficou pronto para este ano. Está conversando com os grupos, buscando ouvir demandas, ajudar no que for possível. Para 2024 acreditamos que estará mais estruturado. Foi criada uma comissão do carnaval de rua também, com blocos e prefeitura".
Antes do deslocamento iniciar, os integrantes se reuniram debaixo das árvores da Praça Braga Pinheiro. Havia diversas gerações se divertindo junto. A professora Marlise Roca, 55, estava paramentada e segurava o porta-estandarte com o nome do bloco.
— Acho que a rua está chamando para a festa. Precisamos de cultura boa e barata. Onde tem bloquinho, as pessoas vêm. Porto Alegre está morta — observa.
As redes sociais levaram, de fato, muita gente até o local. O estudante Arthur Mengue, 19, e a secretária Andriely da Rosa, 22, participavam do Carnaval de rua pela primeira vez.
— Vimos no Instagram — compartilha ele.
O empresário Cristiano Ribeiro, 48, animava os presentes tocando tamborim. Perto dele, outros tiravam som de instrumentos como surdo, pandeiro, agogô, trombone, trompete, flauta e saxofone.
— Participo de vários blocos independentes. Principalmente, trata-se de inclusão social — afirma Ribeiro.
Marchinhas de Carnaval como Ó Abre Alas, Trem das Onze e Bandeira Branca garantiram o samba no pé dos presentes.
— A rua é do povo. O Carnaval é uma coisa cultural do brasileiro, não pode ser monetizado — analisa o estudante Douglas Reginatto, 33, enquanto tocava um tambor afro chamado Ilu.
A engenheira Diuliana Kuspik, 31, destaca a aglutinação de públicos distintos em torno da diversão:
— O mais interessante é a festa conseguir voltar para a rua e juntar pessoas de vários lugares.
Veja outras atrações desta terça:
- 18h às 23h - Ensaio de rua da Estado Maior da Restinga (Avenida João Antônio Silveira, 2359, bairro Restinga)
- 18h - CarnaFuga, com Turucutá, no Fuga Bar (Rua Álvaro Chaves, 91, bairro Floresta, com ingressos por R$ 40)
- 18h30min às 21h30min - Terça de Samba (escadaria da Borges de Medeiros, junto ao Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico).