Sebastião Melo não despacha mais do Paço Municipal, prédio tombado que desde 1901 era utilizado pelos gestores municipais de Porto Alegre. O gabinete do prefeito foi transferido há um mês para o 17º andar do edifício situado na esquina das ruas João Manoel e Siqueira Campos, em uma sala com carpete bege, paredes revestidas com madeira e vista para o Guaíba.
Também já estão instalados no mesmo prédio os gabinetes da primeira-dama e do vice-prefeito, a Secretaria de Planejamento e Assuntos Estratégicos, o Gabinete de Comunicação Social, a Secretaria de Parcerias, a Junta Militar e a Secretaria de Obras e Infraestrutura.
Começou no final de fevereiro a mudança de equipes para a nova sede da prefeitura, também no Centro Histórico, a meio quilômetro do Paço. Ainda há oito andares em obras ou à espera de intervenções. Eles devem receber a Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa), a Secretaria de Governança Local e Coordenação Política, o Gabinete de Inovação, além de uma espécie de coworking no térreo, que vai ser usado por servidores de secretarias localizadas em outros bairros quando tiverem compromisso na prefeitura. A estimativa é de que a mudança seja concluída até o final do ano — previsão anterior apontava que seria realizada ainda no semestre passado.
Quem está comandando as obras é o engenheiro Marcus Vinícius Caberlon. Ele apresentou o prédio à reportagem na segunda-feira (8), se mostrando uma das figuras mais populares da prefeitura — por onde passava, alguém requisitava alguma pequena alteração em sua sala.
— A frase que mais se ouve é: preciso falar com o Caberlon — diz um assessor.
A transferência foi considerada positiva pelos servidores ouvidos por GZH. O secretário de Obras e Infraestrutura, André Flores, destaca que o prédio da pasta na Borges de Medeiros não tinha condições de trabalho: apresentava desgaste da construção em pilares externos e defasagem na estrutura elétrica.
— Não podíamos nem ligar todos os ventiladores ao mesmo tempo. Esse aqui é um prédio funcional — afirma Flores.
Ele também aponta a proximidade de outras equipes da prefeitura como uma grande vantagem. O principal motivo alegado pelo município para escolher uma nova sede foi a centralização de diversas secretariais e órgãos municipais em um único local.
O Paço Municipal vinha sendo apontado como um imóvel que, com o tempo, tornou-se inadequado para expedientes de trabalho. De características muito antigas, concluído em 1901, dificulta intervenções simples, como a instalação de ar-condicionado. Além disso, há a questão da economia: secretarias como a de Parcerias e o atendimento da Junta Militar deixaram de pagar aluguel.
— Vamos economizar, só no atacado, R$ 2,5 milhões por ano — diz o prefeito.
Após encerrada a mudança, cerca de 550 servidores deverão trabalhar no edifício, adquirido pela prefeitura junto à empresa Habitasul em troca do abatimento de uma dívida tributária de R$ 24 milhões. A operação foi feita sem desembolso de recursos públicos: para calcular o valor atualizado do passivo, a empresa do ramo imobiliário aderiu ao Refis, programa de parcelamento e quitação de tributos em atraso. A maioria do débito era de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), de uma área sem construção vizinha à Arena do Grêmio, mas também foram envolvidos passivos de Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).
Em março, o Paço Municipal foi entregue oficialmente à Secretaria Municipal da Cultura para ser transformado no Museu de Arte de Porto Alegre. Segundo a pasta, esse plano está em fase de elaboração do projeto. “O prédio foi desocupado pelos gabinetes e demais órgãos e será feita uma restauração e ampliação dos espaços expositivos”, conforme a assessoria de imprensa. Ainda não há previsão de quando o imóvel será transformado em museu.
A nova sede
Além de um auditório e de um espaço para almoços oficiais na cobertura — há, inclusive, uma churrasqueira —, o prédio da nova sede da prefeitura também terá uma copa com cozinha e mesas para os servidores fazerem suas refeições no terceiro andar, em obras no momento. Outra vantagem elencada pelos novos ocupantes é a vista, especialmente nos andares mais altos do prédio: é possível ver navios no Guaíba, as ilhas, as pontes antiga e nova.
Camila Giuliani, assessora de gabinete da Secretaria de Planejamento, trocou uma salinha fechada no prédio da Siqueira Campos por uma mesa à janela com vista para o Guaíba no 15º andar da nova sede.
— Todo mundo que passa aqui fala da vista. Eu fico nas duas telas de computador, quem curte mais é quem senta aqui na minha frente — comenta ela.
No meio de uma reunião com servidores, o prefeito também levantou para apresentar a vista do seu gabinete ao fotógrafo de GZH:
— O mais bonito do prédio é isso aqui.
O 17º andar era onde ficava a presidência da Habitasul. Além do gabinete, tem uma ampla sala de reuniões com mesa de madeira e 18 cadeiras estofadas, mobiliário que pertencia à empresa e ficou no prédio.
No Paço Municipal, o Salão Nobre ainda poderá ser usado para lançamentos de programas, visitas de ministros e eventos oficiais, por exemplo. O espaço, que abriga três quadros monumentais de Carlos Scliar, com representações da vida da cidade, permanecerá intacto, assim como o gabinete do prefeito, que receberá ornamentação de quadros ou esculturas. O prédio também deve receber parte da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, que hoje está localizada na Casa Torelly, na Avenida Independência, 453.