Quando a porteira do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho foi aberta, às 5h deste sábado (13), os cantos estridentes dos pássaros que vivem no local passaram a se misturar com os sons de conversas animadas, marteladas e serras elétricas que transformam as tábuas em moradia temporária para centenas de tradicionalistas. São os sinais de que começou a montagem dos piquetes do Acampamento Farroupilha, na região central de Porto Alegre.
O período de organização segue até 7 de setembro, dia no qual se abre oficialmente o evento com o acendimento da Chama Crioula. O acampamento perdura até 20 de setembro, data que rememora o início da Revolução Farroupilha.
O servidor público Maurício Melo, de 47 anos, faz parte do contingente de tradicionalistas que desfruta das férias entre agosto e setembro para viver o Acampamento Farroupilha.
— Todo o mês de setembro eu programo as minhas férias. Hoje é barraca, amanhã se Deus quiser já vai ter telhado, e vamos montar! — conta, empolgado, o patrão do Piquete Amigos do Cavalo Branco.
Além do investimento de tempo, é preciso, em alguma medida, despender dinheiro para a imersão no tradicionalismo. Melo, que no passado já se debruçou sobre as tábuas, atualmente contrata uma equipe para montar o piquete. O custo total, relata, fica na casa de R$ 27 mil.
— São R$ 1 mil para a infraestrutura (aluguel do lote), mais R$ 1 mil para alugar o banheiro, e no nosso piquete de 8m x 14m, gastamos R$ 22 mil em madeira e mão de obra. Outros R$ 3 mil serão gastos em instalações elétricas — afirma Melo.
A infraestrutura é paga à concessionária GAM3, que administra o parque, e inclui o custeio de energia elétrica, água, limpeza do parque e recolhimento de resíduos. O Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, também conhecido como Harmonia, é o primeiro parque concedido à iniciativa privada na Capital.
O acampamento deste ano terá 228 piquetes, além da praça de alimentação, mercado e feira. A montagem termina em 31 de agosto.
Retorno após hiato de dois anos
O Acampamento Farroupilha volta ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, após dois anos de atividades remotas, por conta da pandemia. Parte dos piqueteiros, contudo, foi vitimada pela covid-19, o que dá à edição de 2022 do acampamento contornos de resiliência e saudades, diz a presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas, Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos Duarte.
— É o marco inicial pós-pandemia, de a gente trazer resistência e resiliência. A concessionária junto à prefeitura traz pautada a recepção deste povo que, há dois anos, com muita saudade, começa a erguer os galpões. Foram muitas perdas, de muitos piqueteiros, de chefes de famílias, de mães — ressalta Liliana.
O tema dos festejos farroupilhas neste ano será Etnias do Gaúcho: Rio Grande, Terra de Muitas Terras. A ideia é reverenciar as origens dos gaúchos, passando por portugueses, espanhóis, negros, indígenas, alemães e italianos.
Ao longo do acampamento, a prefeitura de Porto Alegre estima que cerca de mil alunos vão visitar o espaço, em um projeto chamado Ciranda Escolar. Entre todos os visitantes, a expectativa é receber um milhão de pessoas.