A precisão da cafeteira do professor de química Gale, auxiliar de Walter White na fabricação da droga cuja venda salvaria sua família da crise financeira na série Breaking Bad, inspirou Maria Helena Gomes, 30 anos, a buscar servir o melhor café possível em Porto Alegre. Em janeiro de 2020 ela criou o Mr. White, uma cafeteria que serve cafés especiais como se fossem feitos em laboratório. Copos de becker em bandejas de alumínio substituem xícaras e pires, e baristas com macacões e máscaras de segurança levam o cliente para os cenários de Albuquerque, cidade no sul dos Estados Unidos onde a trama se passa.
A partir desta sexta-feira (19), Maria Helena e o Mr. White começam a receber seus clientes no alto da Rua Ramiro Barcelos, 1.221, no bairro Independência. A nova casa trará um aumento de 25% na capacidade de atendimento em comparação com a antiga, que comportava até 30 pessoas na Rua Lima e Silva, na Cidade Baixa, e foi fechada. O canto favorito de Maria Helena é o segundo andar, onde está o cenário reproduzindo um laboratório. Porém, foi a nova fachada que fez com que ela se surpreendesse.
— A fachada me fez chorar quando vi ela pela primeira vez. Ficou muito bonita, e agora é possível enxergar e entender a proposta que temos dentro para oferecer, algo que não acontecia antes — relembra Maria Helena.
O local segue aceitando pets, como na sede original, e com um pátio nos fundos. Quando as operações estiverem consolidadas, haverá a possibilidade de reservar o segundo andar para eventos. Mesmo com a porta aberta e os primeiros clientes entrando a partir das 14h desta sexta, a preocupação de Maria Helena era com os mínimos detalhes - desde a pressão da máquina que extrai os espressos até o alinhamento das bandejas com salgados na vitrine.
Os copos de becker e embalagens para cafés especiais também podem ser comprados pelos clientes que quiserem levar o Mr. White para casa. Estampas que lembram as atribuladas jornadas dos químicos protagonistas da série dividem as prateleiras com grãos e itens cafezeiros ao lado do caixa. No segundo andar, uma mesa com tampo de alumínio, bancos altos e vidraria profissional reproduzem o laboratório de Breaking Bad de um jeito que até quem não é fã da série entende a referência.
— Vi que tem a ver (com Breaking Bad) e entrei para conhecer. A questão da identidade é cada vez mais fundamental, olhar para o lugar e saber o que ele serve e representa — comentou Guilherme Barcelos, 34, morador da região e primeiro cliente, enquanto esperava um espresso duplo para levar, mesmo sem nunca ter gostado da série que inspira o local.
— Tentei assistir, mas não me pegou — admite.
Quem o atendeu foi a barista Ágatha Grefenhagen. Ela também não viu toda a série, mas concorda que há um paralelo na busca pela excelência no café. Ela explica que precisou adaptar algumas técnicas aprendidas ao longo de seis anos de experiência na profissão para servir as receitas do Mr. White. Detalhes como a espessura da moagem dos grãos, a quantidade de cada porção que vira uma dose de espresso e as temperaturas do ambiente e da máquina onde ela trabalha fazem toda a diferença.
— Tecnicamente, o café precisaria de uma queda com curva até o fundo da xícara para a correta apresentação, algo que os copos de becker não têm. Mas cada cafeteria faz seus padrões e suas receitas. A qualidade, aqui, vem dos grãos especiais selecionados, torrados em uma intensidade média, e moídos em uma granulometria específica — explica a especialista.
Referência controversa
Na Albuquerque verdadeira, que fica no Estado do Novo México, quase fronteira com o país latino, foi inaugurada uma estátua de Walter White e Jesse Pinkman, personagens principais de Breaking Bad, no último dia 15. As peripécias da dupla durante as cinco temporadas da trama fizeram até o prefeito da cidade, Tim Keller, ir prestigiar o monumento ao lado dos atores Aaron Paul (Jesse) e Bryan Cranston (Walter).
A homenagem causou desconforto entre a classe política, segundo a mídia local, por se tratar de uma materialização do culto à habilidade de dois traficantes e de quanta violência eles, seus coadjuvantes e antagonistas cometeram nos 68 episódios gravados e transmitidos pela TV norte-americana entre 2008 e 2013.
Busca pela perfeição
A mais de 9,3 mil quilômetros de distância e sem fazer nenhuma referência ao tráfico de drogas ou aos violentos dilemas da série, Maria Helena e sua equipe focam na característica mais marcante de Walter White, em sua opinião: a máxima preocupação com a qualidade do produto e serviço. Ela e o marido, Bruno, trabalhavam em uma cafeteria da loja de móveis e decoração Tok & Stok quando decidiram empreender, em 2019.
— Gostamos do ambiente de cafeteria, e queríamos abrir uma que fosse marcada por isso. Assistindo ao episódio em que o Gale (químico auxiliar temporário de Walter White) extrai um café com uma máquina que ele criou com vidraria profissional e faz o Walter exaltar a bebida como a melhor que ele já tinha bebido, percebemos que Breaking Bad poderia ser o tema diferencial — conta a empresária.
Entre maio e julho, o casal abriu uma Mr. White em Gramado. A operação na Serra segue os mesmos princípios temáticos e tem o mesmo cardápio da Capital. Até ser instalada plenamente por lá, a mudança de endereço da matriz precisou esperar.
Veja a cena que inspirou a criação da cafeteria: