Após um período de nove meses de interrupção, as obras na Usina do Gasômetro foram retomadas nesta segunda-feira (18). A paralisação ocorreu em função de ajustes necessários no contrato firmado entre a prefeitura de Porto Alegre e o consórcio RAC - Arquibrasil, responsável pela reforma. A estimativa prevista para a conclusão dos trabalhos é de 10 meses.
— A laje do quarto piso será toda refeita, enquanto na parte hidráulica e no telhado serão realizadas requalificações — diz o secretário Municipal de Obras e Infraestrutura, André Flores, citando que as obras ocorrerão nas partes interna e externa do prédio.
Nos últimos dias, já era possível ver a movimentação de pessoas pelo local. Esta manhã, os operários estiveram organizando banheiros, refeitório e ligando a parte elétrica para a equipe começar os trabalhos de forma efetiva.
Conforme a prefeitura, as intervenções mais robustas serão feitas, de fato, no quarto pavimento e na parte hidráulica. As salas de cinema e de teatro também serão contempladas com melhorias. Por outro lado, a rede elétrica não será feita nesta parte das obras. E para reformar a chaminé, por exemplo, será preciso abrir uma nova licitação.
Por causa da necessidade de ajustes no contrato, os valores sofreram mudanças. Agora, o valor do contrato é de R$ 16,5 milhões, segundo Flores. Isso significa que o atual custo está 44% acima do orçamento inicial, assinado ainda em 2019, quando era de R$ 11,4 milhões.
As obras também puderam ser retomadas agora na Usina do Gasômetro, que está fechada para o público desde novembro de 2017 — quando venceu o Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) —, devido à desistência da Fundação Bienal do Mercosul de abrigar nas dependências do prédio a exposição deste ano. Os organizadores do evento cultural abriram mão do espaço após o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) proibir o uso da chaminé. Desta maneira, o local está livre para passar por melhorias.
A Secretaria Municipal de Cultura (SMC) também acompanhará as obras, e a Secretaria Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos (Smpae) vai supervisionar os pagamentos.
Cuidados durante as reformas
A Usina do Gasômetro é tombada pelo município e pelo Estado. A professora Luísa Durán, da Faculdade de Arquitetura e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cita alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração na reforma de prédios tombados.
— O mais importante é ter um dossiê com histórico, mudanças que ocorreram na edificação, estado de conservação e problemas. Sempre que se faz um projeto é preciso mostrar como está e como ficará o prédio — elenca.
A docente, que realiza pesquisas no campo do patrimônio edificado — redes de povoados, centros e conjuntos históricos, arquitetura vernácula, moderna e de museus — e na história da arquitetura e do urbanismo do período colonial, além de possuir experiência profissional em gestão e intervenção do patrimônio edificado, salienta a importância cultural da Usina do Gasômetro:
— Patrimônio é como a identidade de uma cidade. A Usina foi um prédio muito importante, que tem significado na história e ainda pelo uso da energia. Uma história muito particular e bonita — conclui.
Nome da Usina do Gasômetro surgiu de confusão popular
A Usina do Gasômetro começou a funcionar às margens do Guaíba a partir de 1874, em um local chamado Praia do Riacho, depois conhecida como Rua Pantaleão Teles e, atualmente, Washington Luís, perto da embocadura da Rua Vasco Alves. O registro é do historiador Sérgio da Costa Franco em seu livro Porto Alegre - Guia Histórico.
Conforme o autor revela, o nome surgiu de uma confusão popular. Com o passar dos anos, o povo começou a se referir ao lugar como Volta do Gasômetro. Como a termelétrica era perto da outra movida a gás, a população começou a chamá-la de Usina do Gasômetro.
Mas a verdadeira usina a gás estava fadada ao fim. Com o progresso, os lampiões a gás da cidade desapareceram em 1930. Um modesto serviço de abastecimento de gás para uso em fogões e aquecedores ainda permaneceu em vigência. Com os anos, o serviço desapareceu, substituído pelo gás liquefeito de petróleo, distribuído para as pessoas em botijões de metal.
Já a termelétrica foi desativada em 1974. O prédio foi tombado como patrimônio histórico e cultural em 1983, e a restauração teve início cinco anos mais tarde. A partir dos anos 1990, o espaço começou a ser utilizado como centro cultural, de atividades de estudo, exposições artísticas e lazer. Já as festas da virada do ano ocorrem no lado externo do entorno da Usina do Gasômetro, com interrupção durante a pandemia.
— A Usina do Gasômetro, termelétrica inaugurada em 1928 como palácio de eletricidade, foi o coração motriz da cidade, movimentando suas indústrias, o transporte público e aclarando casas e logradouros. Hoje, patrimônio tombado, ícone da arquitetura industrial, carrega a missão de iluminar culturalmente a alma dos porto-alegrenses, tendo-se tornado em símbolo da Capital, joia da nova Orla — enalteceu o secretário municipal de Cultura, Gunter Axt, que também é historiador.
Em junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a doação definitiva do prédio ao município. O imóvel estava cedido à prefeitura pela Eletrobras desde 1982, e passará oficialmente a integrar o patrimônio municipal.