Uma instituição de ensino de Porto Alegre carrega cinco nomes diferentes ao longo de seus 122 anos de história. Trata-se do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, localizado no bairro Santana. Conhecido popularmente como Julinho, o local abrigou em seus bancos escolares importantes personagens do cenário gaúcho, como Leonel Brizola, Ibsen Pinheiro, Paulo Brossard, Antônio Britto, Luciana Genro, Manuela D’Ávila, Moacyr Scliar, entre outros.
O primeiro nome da escola, fundada em 23 de março de 1900, foi Gymnasio do Rio Grande do Sul. Originou-se do curso preparatório ao apoio do ensino da engenharia. O então ginásio era uma espécie de parte integrante da faculdade, que se situava no andar térreo. Meia década mais tarde, o nome do ginásio mudou para Instituto Ginasial do Rio Grande do Sul. No ano posterior, até prédio próprio ganhou.
Em 1908, em homenagem ao presidente do Estado, Júlio de Castilhos, falecido em 1903, a Escola de Engenharia decidiu trocar o nome para Instituto Gymnasial Júlio de Castilhos. Era o terceiro nome diferente em apenas oito anos de existência.
O tempo passou mais um pouco e, na década de 1930, o Júlio de Castilhos se desligou da Escola de Engenharia, passando a integrar a Universidade Técnica do Rio Grande do Sul. Repartiu-se transitoriamente em Ginásio Júlio de Castilhos (seu quarto nome) e Colégio Universitário. O quinto e atual nome chegou em 1942, como consequência da reforma do ensino secundário – Colégio Estadual Júlio de Castilhos.
O apelido apareceu em 1945. A escola participava de um campeonato estudantil de futebol e os torcedores adversários, para fazer chacota, gritavam “Julinho, Julinho, Julinho”, de forma pejorativa. A provocação teve efeito contrário, e a alcunha pegou entre alunos e professores da própria escola, sendo assim conhecido até hoje.
— Posso dizer que o Julinho é um grande símbolo da educação gaúcha, assim como o Instituto de Educação. Poucas instituições possuem essa longevidade — avalia a vice-diretora do turno da manhã do colégio, Paola Cavalcante Ribeiro.
Conforme a dirigente, o Julinho é uma espécie de bastião da resistência nas mais diferentes épocas da história brasileira.
É um espaço de resistência e luta, que se estende desde o corpo docente até os alunos. O Julinho é um importante símbolo da sociedade e habita o imaginário gaúcho
PAOLA CAVALCANTE RIBEIRO
vice-diretora do turno da manhã
— É um espaço de resistência e luta, que se estende desde o corpo docente até os alunos. O Julinho é um importante símbolo da sociedade e habita o imaginário gaúcho — completa, citando que a instituição passou por períodos difíceis, como a ditadura militar, e ainda sofre com algumas políticas governamentais.
Um triste momento do Julinho aconteceu em 16 de novembro de 1951, quando um incêndio destruiu o prédio localizado na Avenida João Pessoa. A escola ficou temporariamente em funcionamento no Arquivo Público do Estado, situado na Rua Riachuelo. Em 29 de junho de 1958, foi reinaugurado na Praça Piratini, onde existe até os dias atuais. Os tempos de tristeza ficaram no passado.
Ex-alunos também reconhecem o papel combativo do Julinho nos campos político e social. E demonstram, além de gratidão, saudosismo pelos tempos vividos ali.
— Havia um túnel que servia para os alunos fugirem durante a época da Ditadura Militar — relata o ex-estudante do colégio Gustavo Matos, 18, que esteve por dois anos no Julinho, ouviu sobre essa história e guarda carinho pelos professores e pela própria visão de mundo desenvolvida nas salas de aula.
Em relação ao túnel mencionado, há relatos de que ao menos um teria existido e acabava no Arroio Dilúvio. Com as reformas da escola, teria sido fechado.
— Tinha um córrego que passava por aqui e desembocava no Arroio Dilúvio. Com o crescimento da cidade, ele secou. As obras do Julinho canalizaram o túnel, que dava quase em frente ao Palácio da Polícia. Muitos estudantes se escondiam e até escapavam dos agentes da ditadura por ali — diz a diretora do Julinho, Fernanda Schmidt Gaieski.
Até quem não conhece muitos detalhes acerca do Julinho sente algo de especial pela instituição de ensino que tantos nomes já teve. O trabalhador do setor de logística Roberto Pereira, 60, matriculou a filha Luana no colégio.
— Vejo o Julinho como parte de Porto Alegre. Os professores, os alunos de gerações tão significativas que passaram por aqui, tanto pela parte estudantil como política — avalia, citando que a esposa estudou e o sogro trabalhou no colégio, no passado.