Você sabe quantos quilos de lixo cada pessoa produz diariamente? Para onde esse lixo vai? Quais são os efeitos que nossos resíduos provocam no meio ambiente?
Os alunos das turmas de segundo ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Antônio de Castro Alves, de Alvorada, foram provocados com estes questionamentos durante uma aula na disciplina de mercantilismo. Quem instigou os adolescentes a pensarem sobre a sustentabilidade foi a professora Camila Morano da Conceição, 33 anos.
Ela conta que a adesão ao Projeto Consumo Consciente, que abrange quase 300 estudantes, foi instantânea.
— Não estou surpresa com a atitude deles, mas, sim, animada. Eles voltaram para a sala de aula depois da pandemia com vontade de fazer a diferença no mundo — afirma, orgulhosamente, Camila.
Consumo Consciente
A ação está sendo desenvolvida da seguinte maneira: cada grupo de alunos foi buscar um assunto dentro do tema para desenvolver uma atividade prática. Com essa liberdade, a imensidão de possibilidades de ajudar o meio ambiente floresceu na cabeça dos adolescentes. A temática de cada grupo variou, desde a utilização de produtos vendidos em refil até a arrecadação de roupas. O projeto ocorre até o fim do ano, quando os alunos terão que produzir um artigo científico sobre seu determinado assunto, na disciplina de Linguagem na Construção de Projetos.
Atualmente, a escola conta com 20 galões de cinco litros de água espalhados no local para a coleta de tampinhas de garrafa pet. As mesmas serão doadas para uma ONG municipal que realiza castração em animais de rua. Caixas para o armazenamento de garrafas cheias de óleo utilizado, de livros, de roupas, de cartelas de remédios vencidos e/ou vazias e de pilhas também estão disponibilizadas para que toda a comunidade escolar (cerca de 1,5 mil alunos) possa dar o destino correto destes lixos e materiais não mais utilizados. Camila comenta que todo o produto arrecadado será encaminhado para o lugar correto, onde poderá ser reutilizado.
Óleo usado vira sabão
A estudante Maria Eduarda Soares, 16 anos, e outros seis colegas desenvolveram o trabalho sobre a importância do descarte correto do óleo de cozinha. Ela conta que ficou muito animada quando viu que outros estudantes participaram e levaram óleos utilizados.
— Foi muito legal ver a caixa mais cheia. É um sinal de que outras pessoas estão se conscientizando também — relata, animada.
Segundo o biólogo e doutor em Ecologia Jackson Muller, as ações que a sociedade precisa tomar perante o meio ambiente são urgentes.
— É extremamente elogiável a escola ter esse movimento de provocação. É importante para a mudança — conclui.
Maria Eduarda conta que desde seus 12 anos guarda o óleo de cozinha usado, "porque aprendi a fazer o sabão utilizando o que seria lixo", conta a estudante, afirmando que o produto reciclado se torna um baita aliado na lavagem das panelas.
O biólogo Jackson conta que o óleo de cozinha utilizado é um resíduo extremamente poluente.
— Apenas um litro de óleo de cozinha usado pode poluir cerca de 20 mil de litros de água limpa quando descartado irregularmente — comenta.
A estudante contou que quer ser chefe de cozinha depois que terminar o Ensino Médio, e afirma que em seu restaurante o óleo utilizado será descartado da maneira correta.
A importância do destino correto
Segundo o levantamento Manejo dos Resíduos Sólidos Urbanos de 2020, realizado pelo Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento, a massa coletada estimada de Resíduos Sólidos Domiciliares e Públicos é de um quilo por pessoa, por dia. Levando em consideração a estimativa da população residente apenas no nosso Estado, que fica em torno de 11,4 milhões de pessoas — número divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em julho de 2021 —, a quantidade de lixo produzida diariamente é muito grande.
Ainda segundo os dados do Manejo, 73,8% dos resíduos brasileiros são destinados à decomposição final para 652 aterros sanitários; 14,6% deles vão para 1.545 lixões brasileiros; 11,6% são destinados aos 617 aterros controlados brasileiros.
Segundo Jackson, o lixão é o pior dos procedimentos de manejo dos resíduos, uma vez que causa problemas como o impacto nas águas superficiais por conta do chorume. Os aterros controlados são aqueles lugares que possuem alguns tipos de controle, como cercamento da área e tratar parcialmente o chorume.
— O tratamento é ideal é o do aterro sanitário, pois o local deve estar de acordo com as normas vigentes; existem centrais de triagem, além da impermeabilização da base para evitar que as águas contaminadas atinjam águas subterrâneas — afirma.