Nesta segunda-feira (23), um evento marcou a passagem dos 82 anos do Hospital Colônia Itapuã (HCI), além do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado na última quarta-feira (18). A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul e a prefeitura de Viamão promoveram atividades voltadas a pacientes psiquiátricos da rede pública e ex-hansenianos que moram ou já viveram no complexo, localizado a 53 quilômetros de Porto Alegre.
O espaço foi inaugurado durante o Estado Novo, em 1940, para o tratamento e confinamento de pessoas com a doença na época chamada de lepra — a hanseníase, como é conhecida hoje, tem cura e não requer mais o isolamento dos pacientes. Os moradores que optaram por não deixar o local passaram a dividi-lo com pacientes transferidos do Hospital Psiquiátrico São Pedro na década de 1970. Hoje, há 55 moradores, além dos funcionários.
Aproveitando o sol que brilhou a tarde inteira, foram realizadas apresentações musicais, oficinas de grafite, de mandala, de jardins terapêuticos e de fuxico no gramado logo na entrada do HCI, além de momento de depoimentos dos usuários dos CAPS. Após o pronunciamento de autoridades — a secretária adjunta da Saúde do Rio Grande do Sul, Ana Costa, e o prefeito de Viamão, Nilton Magalhães, estiveram presentes —, o palco montado para o evento virou um karaokê para os homenageados.
Paciente da rede de saúde mental, a artista Solange Gonçalves, 53 anos, pôde expor o seu trabalho: vestidos, macacões e robes que pinta com tinta acrílica e borda. Neles, ela representa desde memórias amargas do passado, como pés acorrentados, até pessoas que foram importantes para o seu tratamento, ao exemplo da terapeuta ocupacional do Hospital São Pedro Simone Meyer Rosa, que marcou presença no evento vestindo uma das criações de Solange.
— Eu pinto o cotidiano que me rodeia. É libertador — diz a artista.
O tema do evento foi “cuidado em liberdade”. Atualmente, o hospital passa por um processo de desinstitucionalização. O governo planeja mudar os moradores para residências terapêuticas ou para moradias individuais semelhantes àquelas onde vivem hoje, mas fora dos muros do HCI. Nem todos aceitam sair.
— Eles (os ex-hansenianos) querem ficar porque é uma vida lá, eles criaram vínculo com o lugar e com as pessoas. É a casinha deles — diz a coordenadora do núcleo local do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Magda Chagas.
A secretária adjunta da Saúde comenta que a reintegração dos moradores “tem o respeito aos moradores como foco”. O processo de desinstitucionalização em Itapuã é baseado na Reforma Psiquiátrica, segundo a pasta. A lei que regulamenta a Reforma Psiquiátrica é de 2001 e prevê o fechamento de hospitais psiquiátricos, com a substituição do modelo asilar pelo cuidado em liberdade.