É estranho cair na água com os pés atados dentro de um par de botas que está grudado em uma prancha. Primeiro, fiquei estirada de barriga para baixo, tentando girar meu corpo com aquele trambolho nos pés. Cheguei a questionar se seria incapaz até de me virar de frente para a lancha para começar a aula — imagina o fiasco.
Mas vencendo essa e algumas outras dificuldades, vem o prazer de deslizar sobre a água. E é essa é a graça do wakeboard, esporte que pode ser praticado sem sair de Porto Alegre. Na Região das Ilhas, onde o Rio Jacuí deságua no Guaíba, há duas escolas que atendem gente com e sem experiência que quer incluir algo radical na rotina (veja o serviço abaixo).
Funciona assim: sobre a prancha tipo snowboard, o praticante se segura em uma corda e é puxado por uma lancha. Ele utiliza as ondas que o próprio barco gera para saltar e fazer algumas manobras. Dá para fazer mortais, giros, grabs — aquela em que o atleta segura a prancha com uma das mãos.
Mas primeiro é preciso aprender a ficar em pé. Instrutor do WakePoint, Heiner Hofmann, 25 anos, me deu as primeiras orientações na lancha. Assim que o barco começasse a puxar, eu deveria aproximar a bunda do calcanhar para me levantar.
Tem gente que precisa de várias tentativas para isso dar certo. Com base na experiência de repórteres anteriores, ele chutou que eu conseguiria na oitava. Mas dei orgulho para o professor: na segunda investida, meti força nas pernas e consegui me levantar.
Sorrio de novo lembrando do coração pulando com a sensação nova e com a vista deslumbrante do centro de Porto Alegre ao fundo, atrás da água colorida pelo pôr do sol.
Mas não demorou para vir a primeira queda na água. De muitas: estatelar-se é inevitável. Daí você fica lá boiando de barriga para cima, esperando o piloto pacientemente voltar e te alcançar a corda para começar tudo de novo.
Campeão brasileiro adulto em 2018 e vice-campeão na categoria avançado em 2019, Heiner calcula que já “puxou” mais de 500 pessoas.
— A adrenalina de andar em cima da água pela primeira vez é fantástica, a galera sai com um sorriso de orelha a orelha — diz.
Nos quatro anos e meio de operação, a WakePoint já atendeu muito turista, gente que vem de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus e procura na internet o que tem para fazer em Porto Alegre. Foi de uns tempos para cá que o porto-alegrense descobriu a prática, conta a sócia-proprietária Danielle Schleiniger Alves.
Se há uma preocupação relacionada à poluição, Danielle lembra que ali perto, na Ilha do Grêmio Náutico União, é feita a análise da água do Jacuí periodicamente — a última avaliação, de 2021, atestou que é uma água própria para banho.
— Tem vindo muita gente que quer surfar e não quer dirigir cem quilômetros até o litoral. Aqui a onda é líquida e certa — acrescenta.
Além do wakeboard, a escola ensina outra modalidade, chamada wakesurf. Nela, o atleta não tem os pés presos à prancha, que é um pouco diferente da de wakeboard. Se coloca mais peso na lancha para que forme ondas maiores para o praticante surfar como se fosse no mar.
E se você achou que eu tenho autocontrole para chegar ao final desse texto sem citar Armandinho, sinto desapontar. Quem nunca imaginou pegar onda no Guaíba?
Serviço:
WakePoint
Onde fica: Rua João Inácio da Silveira, 125, Ilha Grande dos Marinheiros
Preço: R$ 280 por 30 minutos
Contato: (51) 98589-9179
@wakepoint_
Wake Sul
Onde fica: Marina da Conga, na Ilha das Flores
Preço: R$ 250 por 30 minutos
Contato: (51) 99273-5221
@wakesul