É clássica a imagem do céu de Torres colorido durante o Festival de Balonismo, que se encaminha para a 30ª edição, no final de abril. Mas não é só durante o evento que dá para chegar mais perto das nuvens dentro de um balão. Ocorrem passeios o ano inteiro no município, com demanda que vem crescendo no verão.
Apenas uma das empresas voltadas para o balonismo em Torres realizou 177 decolagens ao longo de 2017. Especializada em voos panorâmicos de instrução, a Trip Balonismo já tem três vezes mais procura do que na sua fundação, em outubro de 2016, de acordo com o sócio da empresa e presidente da Associação Torrense de Balonismo, Ricardo Lima. São grandes as aspirações do representante da entidade. Além do título de capital nacional do balonismo, Lima quer ver Torres como a grande referência em voos de balão ou, por que não?, a "Capadócia brasileira", em uma referência à região da Turquia célebre pelos passeios aéreos.
— Estamos trabalhando para que o voo de balão em Torres seja como o buggy em Natal ou teleférico em Camboriú — relata. — A sementinha já foi plantada, agora é só divulgar.
— O balonismo é um dos esportes que potencializam o turismo por aqui e movimentam comércio e serviços — acrescenta o prefeito de Torres, Carlos Alberto Matos de Souza.
Os balões da Trip já foram frequentados por italianos, indianos, muitos argentinos, uruguaios e gente dos mais variados Estados brasileiros, em uma faixa etária dos dois aos 87 anos. Houve ensaios fotográficos e uma dúzia de pedidos de casamento nas alturas.
— Temos parceria com Santo Antônio — diverte-se Jane Kellen Lima, 37 anos, esposa de Lima e integrante da equipe.

Os pastores Tércio, 46 anos, e Marta Evangelista, 40, moradores de Porto Alegre, ganharam um passeio de presente dos amigos da Igreja Batista. Eles já haviam voado na Turquia, mas no último dia 8 promoveram a estreia das filhas Lailah, 14 anos, e Hadassa, 12.
— Além da vista, a sensação de ser levado pelo vento é maravilhosa — diz Marta, destacando o silêncio e a paz durante o voo.
Os passeios precisam ser agendados com antecedência e é necessário respeitar as condições climáticas — costumam ser cancelados se houver muito vento, chuva ou previsão de frente fria. Outro fator que pode ser restritivo é o custo, justificado pelo valor do gás. Pelo menos cinco empresas oferecem voos na cidade, e o preço parte de R$ 350 por pessoa.

Sucesso por acaso
O Festival Internacional de Balonismo é o mais tradicional evento de Torres, reunindo cerca de 50 balões e uma média de 250 mil pessoas a cada edição. O curioso é que essa história iniciou por acaso. Em 1989, durante os preparativos da II Febanana, a festa local da banana, os organizadores resolveram inovar e trazer alguns balões para divulgação. O interesse do público foi tanto que, em outubro daquele ano, surgiu o festival voltado ao balonismo. A 30ª edição já tem data marcada: ocorre entre os dias 27 de abril e 1º de maio deste ano.
"Nosso primeiro voo"

Eu e a repórter fotográfica Isadora Neumann fizemos nossa estreia a bordo de um balão em 8 de janeiro, com o piloto Ricardo Lima. O ponto de encontro foi um posto de combustíveis na entrada da cidade, ainda no escuro, às 5h40min. Além de acompanhar as condições em um aplicativo, lá as equipes soltaram uma sonda (bexiga com gás hélio) para ver a direção do vento.
Os pilotos decidiram decolar em um campinho de futebol às margens da BR-101. A medida que o dia começava clarear, equipes com quatro pessoas inflavam os envelopes com uma ventoinha: primeiro com ar frio, para dar forma ao balão, e daí com ar quente, que é o que deixa o balão leve a ponto de flutuar.
Quando colocaram em pé o envelope de 30 metros onde Tércio Evangelista voaria com a família, ele arrancou as palavras da minha boca:
— UAU!
A decolagem é quando dá o maior frio na barriga. Especialmente quando o piloto acende o maçarico e você sente pela primeira vez o calor da chama sobre a cabeça. O momento em que o cesto deixou o chão foi muito sutil — quando reparei, já estávamos voando.
A partir daí, vivemos meia hora de um agradável passeio. Lima apontou as lagoas de Itapeva, do Jacaré e do Sombrio. Também enxergamos ao longe os edifícios do Centro de Torres, o parque da Guarita e, é claro, o mar. O dia amanheceu encoberto, mas entre a água e a camada espessa de nuvens, o sol deu as caras por alguns deslumbrantes segundos.
Não voamos muito alto — 400 metros no máximo, variando a altitude em vários momentos. Deu para ver gado, cavalo e galinhas correndo nas propriedades rurais abaixo da gente, e perto do pouso respondi ao aceno de uma senhora que assistia ao voo do chão.
Nosso piloto decidiu descer em um campo entre a praia de Itapeva e a Estrada do Mar. Nesse momento, quando ele avisa para guardar o celular e se segurar nas alças do cesto, eu sugiro que você siga a recomendação — é possível se desequilibrar.
Além dos carrapichos no sapato, levei comigo a vontade de repetir a experiência.