Quando o temporal atingiu Guaíba e destruiu parte da Escola Estadual de Ensino Fundamental Carmen Alice Laviaguerre, no bairro Santa Rita, na segunda-feira (17), a diretora Carla Salazar estava longe, mas não em pensamento. Logo depois da chuva acalmar, ela pegou o carro e dirigiu de Eldorado do Sul até o colégio onde trabalha há 20 anos, temendo pelos efeitos da força dos ventos que costumeiramente assustam a região.
— Não imaginava que o estrago seria tanto — disse a diretora, na manhã desta terça-feira (18). — É muito triste porque afeta tudo o que a gente construiu, todas as melhorias dos últimos anos — lamentou.
Carla estima que 80% da estrutura física do centro educacional tenha sido danificada. Telhas e pedaços de madeira voaram durante o temporal, atingindo casas da avenida que fica em frente ao colégio. O concreto da laje que cobre as salas de aula impediu que o espaço também fosse perdido.
Desde o portão de entrada, pedaços de telhas se misturavam a vegetação e barro pelo chão na manhã desta terça. Cacos de vidro e água cobriam o espaço onde os alunos vão reencontrar colegas e professores quando o ano letivo começar. No refeitório e no ginásio, poças de água e pedaços de madeira também são encontrados.
— Vamos ter que correr contra o tempo. Contamos com a mantenedora e o governo estadual para conseguir atender da melhor maneira possível as mais de 800 crianças que estudam aqui (...) Depois de ver e me assustar com como ficou a escola, só penso em como está a casa de cada aluno que vive aqui perto — disse a diretora.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, a vice-prefeita e secretária da Educação de Guaíba, Claudia Jardim, lamentou o episódio e afirmou que o Executivo irá trabalhar para recuperar a escola até a volta das aulas, daqui um mês.
— Temos muita tristeza quando acontece algo desse porte, seja em qualquer cidade ou bairro. Eu fui professora nessa escola, meus filhos estudam lá — disse.
Segundo Claudia, a escola tem mais de 700 alunos, tanto da rede estadual quanto municipal.
— Dentro de tantos estragos materiais, graças a Deus não temos nenhum ferido. Tivemos muitas mãos auxiliando. Passamos a madrugada no bairro. Conseguimos auxílio da Policia Civil, do Corpo de Bombeiros e de pessoas do bairro — afirmou.
Estragos na vizinhança
Nas ruas vizinhas à escola, árvores, postes e fios caídos são o resultado das "cenas de filme" que o bairro Santa Rita presenciou na tarde de segunda-feira.
— Estou aqui há 23 anos e nunca tinha visto nada parecido — afirmou José Magri, dono do mercado mais próximo ao colégio.
Ele e a esposa, Vera Maria, contam que acolheram quatro pessoas dentro do mercado no momento do temporal.
— Veio um vento daqui, que o céu tava todo preto, e outro lá de traz, onde tem a lagoa, e as árvores caíram todas. Aqui na frente tudo girava, era um redemoinho levantando madeira e telha por cima de tudo — relatou José.
O único dano no imóvel do casal foi em uma telha dos fundos do apartamento que fica em cima da loja. Sem luz, eles precisaram juntar todo estoque de comida perecível em freezers com gelo e deixar os armazenadores fechados.
Conforme balanço divulgado por volta das 7h pela CEEE Equatorial, aproximadamente 9,5 mil clientes ainda estão sem energia elétrica em Guaíba.