Doze meses se passaram desde que o presidente Jair Bolsonaro desembarcou em Porto Alegre para inaugurar a nova ponte do Guaíba. A liberação era parcial. O eixo principal da ponte foi aberto ao tráfego, juntamente com outras três alças. As quatro restantes seriam concluídas em breve. Um ano se passou e nada aconteceu.
Apesar disso, aquele dia quente de dezembro trazia o otimismo por parte dos gaúchos, que esperaram mais de uma década para ver a nova travessia pronta. Bolsonaro também saudava que o país caminhava para o "finalzinho da pandemia".
O presidente errou tanto ao prever os desdobramentos dos efeitos da covid-19 quanto sobre o término das obras da nova ponte. Nas palavras do ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, as quatro alças eram prioridade. Não foram.
Desde a inauguração, até abril, a construtora Queiroz Galvão executou apenas serviços superficiais. Sem a remoção de ao menos 400 das 600 famílias moradoras das vilas Areia e Tio Zeca, era impossível seguir com a obra. O contrato foi formalmente encerrado em agosto. Procurada, a empresa informou que não irá se manifestar sobre o assunto.
O motivo da demora na retirada das casas — e o prosseguimento da construção — é a falta de dinheiro. Somente para a transferência das famílias, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) precisa investir aproximadamente R$ 100 milhões. Já para o término da obra serão necessários outros R$ 100 milhões. E, até agora, a nova ponte já recebeu R$ 779 milhões, segundo o Portal Cidadão da autarquia.
O orçamento para a obra, previsto para 2021, destinava R$ 51,7 milhões para a construção. Como o recurso passava longe de ser suficiente para finalizar as alças restantes, o governo federal passou a cortar verba da nova ponte e transferir para outros investimentos. Atualmente, sobram menos de R$ 10 milhões para a obra. Sem contrato em andamento, inclusive esse montante deve ser cortado.
Sem apoio no Congresso
Até mesmo o apoio da bancada gaúcha no Congresso Nacional foi perdido depois da inauguração parcial. Em novembro, foram definidos os projetos que receberão verba das emendas parlamentares em 2022. Ao todo, 17 pleitos foram escolhidos. E a nova ponte do Guaíba, assim como a duplicação da BR-116 — entre Guaíba e Pelotas —, foram preteridas.
— Tinha R$ 5 bilhões de pedidos e 85 emendas. E nós tínhamos 17 emendas e R$ 212 milhões. Assuntos grandes deixamos para o ministério resolver — revela o líder da bancada gaúcha no Congresso e vice-líder do governo federal, deputado Giovani Cherini (PL).
Tinha R$ 5 bilhões de pedidos e 85 emendas. E nós tínhamos 17 emendas e R$ 212 milhões. Assuntos grandes deixamos para o ministério resolver
GIOVANI CHERINI
Deputado pelo PL, líder da bancada gaúcha no Congresso e vice-líder do governo federal
Tarcísio Gomes de Freitas já informou qual será o futuro da obra. As alças da nova ponte foram incluídas no projeto de concessão que está sendo elaborado, e que pretende repassar a BR-116 — entre Porto Alegre e Camaquã — e a BR-290, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, para a iniciativa privada.
De acordo com o Ministério da Infraestrutura, o estudo está em "fase final de estruturação". Após ser concluído, o material será apreciado em consulta e audiência públicas.
"Vale destacar que a Nova Ponte do Guaíba estava sem operacionalidade até o início da atual gestão do Governo Federal, que a classificou como prioritária e uniu esforços para dar funcionalidade à travessia principal, o que já trouxe benefícios ao sistema de transportes da capital gaúcha", informa nota do ministério.
Faltam oito meses
Quando a obra for retomada, a previsão é de que ainda sejam necessários mais oito meses de trabalho. Falta ainda a construção de quatro alças da elevada. Um dos trechos mais importantes, que ainda não está liberado, é o de quem vem do Centro de Porto Alegre pela Avenida Castello Branco e pretende seguir em direção a Eldorado do Sul.
Também precisam ser construídos o acesso de quem vem de Gravataí pela freeway e vai para o Humaitá, a alça de quem vem de Eldorado do Sul e vai para o mesmo destino, e o sentido contrário, de quem sai do bairro e vai para Eldorado do Sul.
Tudo parado na Justiça
No começo do ano, o Dnit havia solicitado à Justiça Federal a realização de audiência. No primeiro encontro previsto, todas as 600 famílias seriam convidadas a conhecer a proposta financeira que a autarquia tinha para oferecer em troca dos terrenos nas Vilas Areia e Tio Zeca por onde a nova ponte do Guaíba ainda precisa passar.
As audiências individuais com as primeiras 59 famílias ocorreriam em julho. Porém, o encontro foi cancelado a pedido da própria autarquia.
— Segundo o Dnit, (a nova ponte) será objeto de concessão. Então, infelizmente não tem novidade — comenta o juiz Hermes Siedler da Conceição Júnior, que conduziu as negociações envolvendo as famílias das ilhas que precisaram ser transferidas por causa da obra.
Relembre os discursos de Bolsonaro e de seus ministros de um ano atrás
Nós vamos terminar todas aquelas (obras) que forem possíveis de serem terminadas. Entre terminar obra e começar outra, a diferença, logicamente, tem o trabalho no meio, é muito menos difícil (terminar). E é muito mais proveitoso nós terminarmos obras
Ao contrário de outros governos, que viveram de inauguração de placa de obra, nós herdamos mais de 30 mil placas inauguradas. E desde o primeiro dia de governo, o presidente Jair Bolsonaro desafia a todo o corpo de ministros para que, nesta missão de transformar o Brasil numa grande nação, que nós tivéssemos eficiência, entregas, resultado e conclusão de obras, como nós vamos fazer em poucos minutos
E alguns ficam preocupados. "Bom, vocês vão abrir o trânsito agora? E o resto da obra? E as alças da Vila Tio Zeca e Areia? Pra quem vem da freeway e quer acessar direto a ponte?" Vão acontecer. Ela é prioridade. E continua sendo prioridade. Mas a lógica é essa. E a estrutura está pronta, vamos liberar logo para a população usar