Circulando pela área das vilas Tio Zeca e Areia, em Porto Alegre, caminho por onde os acessos da nova ponte do Guaíba devem cruzar, os moradores têm seus sentimentos divididos entre esperança e cansaço. Esperança de que o tema tenha uma definição tão rápido quanto possível, com a saída deles ou não. E cansaço em razão do tempo pelo qual a novela do reassentamento das famílias se estende. O sentimento se intensifica pelo impedimento de que os moradores façam obras na região, mesmo que sejam reparos nas residências.
— Estamos presos, não podemos mexer em nada porque dizem que a área vai ser indenizada. Nem energia elétrica regularizada consigo colocar aqui — reclama o mecânico Márcio Dutra, 46 anos.
Márcio vive no local com a esposa e dois filhos há cerca de 10 anos, quando se iniciaram tratativas para construção da nova ponte. Ela conta que participou de diversas reuniões com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), mas que os encontros foram suspensos há mais de dois anos, sem qualquer novo contato do órgão federal com os moradores.
A auxiliar de serviços gerais Fátima Laudina da Silva, 32, está afastada do trabalho em razão da gravidez. A filha que nascerá em breve é a primeira menina da família, terá quatro irmãos. O marido de Fátima também divide a casa com ela e a família. A pequena residência tem sala, cozinha, banheiro e um quarto para os seis moradores — sem contar a sétima a caminho. Mas, com os embargos para novas construções, além do medo de "jogar dinheiro fora", fica difícil garantir mais conforto.
Temos medo de fazer algo hoje e amanhã nos mandarem embora. Só que também não sabemos quando isso vai acontecer, fica essa incerteza. É muito difícil viver assim
FÁTIMA LAUDINA DA SILVA
Auxiliar de serviços gerais
— Temos medo de fazer algo hoje e amanhã nos mandarem embora. Só que também não sabemos quando isso vai acontecer, fica essa incerteza. É muito difícil viver assim — lamenta Fátima.
Com vista para o canteiro abandonado, a dona de casa Regina Saldanha, 50, também vê distante a chance de sair da região das vilas Tio Zeca e Areia para um lugar melhor. Deseja que o impasse seja resolvido logo, mas também sabe que o sumiço dos órgãos públicos da região tem um motivo. Regina precisa procurar vagarosamente na memória o último encontro que se recorda entre moradores e o Dnit. Foi há três anos, garante ela. Ainda assim, espera que um dia o reassentamento ganhe novos capítulos e as famílias possam seguir em frente.
— A esperança é a última que morre — diz ela, usando o velho ditado popular.