Moradora do bairro Hípica há 11 anos, a policial civil aposentada Martha dos Santos, 59 anos, convive com um problema comum em lugares da zona rural de Porto Alegre e do Estado: um terreno baldio abandonado. Algo que possibilita a aparição de animais que costumam trazer riscos ao homem. Martha e os vizinhos já depararam com cobras e lagartos nos pátios de suas casas, e cobram da prefeitura uma solução, já que a área pertence à Secretaria Municipal de Educação (Smed) e seria destinada à construção de uma escola.
Para tentar espantar as cobras, Martha e a vizinha, a autônoma Daniela Arruda, 40, organizam vaquinhas anuais entre 10 vizinhos da Avenida Nossa Senhora de Guadalupe para contratar o serviço de poda do mato no local. Também limpam por iniciativa própria a parcela de vegetação que toca o muro das suas casas. Elas contam que em abril de 2021 juntaram R$ 400 e pagaram cinco funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) que varriam a rua para limpar o terreno de onde os répteis vêm.
Em outras oportunidades, pessoas contratadas para executar o serviço se assustaram e desistiram da tarefa quando se depararam com o ninho de cobras que fica ao lado de uma bananeira no fundo do lote.
— Ninho de cobras, lagartos, tem de tudo. Parece que vivemos em uma selva — protesta Martha.
Ela relata que o filho, Matheus, 26, foi picado por uma cobra falsa coral e precisou de atendimento médico em 2016 devido a uma reação alérgica. O neto Dominik, de seis, encontrou outra serpente na frente de casa, dia 29 de novembro, enquanto andava de bicicleta. O susto fez o guri entrar correndo em casa aos gritos, o que alarmou os vizinhos. A avó e outros moradores da rua vieram ajudar e terminaram por matar o bicho.
Depois desse susto, Martha ligou mais uma vez para o telefone 156 da prefeitura, pedindo ajuda nos cuidados do terreno baldio. Os pequenos da vizinhança são a maior preocupação, já que Daniela tem uma filha de um ano e 10 meses, e Matheus, filho de Martha, espera outro bebê para o começo de 2022.
Um terceiro espécime, ainda filhote, entrou na casa da família há dois anos, e também foi morto. Permanece desde então dentro de um pote de vidro com tampa vedada, que a ex-agente da Polícia Civil mostra como prova da convivência com os bichos.
E a escola?
A Smed explica porque a obra da escola não saiu do papel. A justificativa para a ausência de planos no lote é que ele foi adquirido em alguma gestão municipal passada, com data não informada pela pasta, e que a atual estratégia da prefeitura consiste em não construir, mas sim adquirir vagas em creches e escolas já existentes.
Veja, na íntegra, a nota enviada pela Smed
"Sobre os propósitos que levaram à aquisição do terreno por gestões anteriores, não temos o histórico de decisões tomadas para poder avaliar. Podemos adiantar, porém, que não está entre as sete obras financiadas pelo Fundeb e cuja conclusão é prioritária em relação a esta. Também não há uma destinação definida atualmente para este terreno. A gestão atual optou pelo sistema de compra de vagas em escolas parceiras já existentes, ou de entes particulares, especialmente em creches, que são a prioridade do momento. Por derradeiro, informamos que já foi determinada a limpeza do terreno, que deve ser agendada, conforme a disponibilidade das equipes de limpeza da prefeitura.
Nosso setor administrativo já pediu para o DMLU fazer a limpeza deste terreno."
O que fazer ao topar com bichos peçonhentos
Ao topar com algum bicho peçonhento, deve-se ligar para o telefone 156 e abrir um chamado de remoção de animais silvestres. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) mantém uma equipe especializada em fauna silvestre, que pode ser chamada diretamente no telefone 3289-7517, das 8h30min às 18h, em dias úteis.
Além da remoção de cobras, a Secretaria Municipal de Saúde opera a desratização de vias públicas, captura de morcegos - apenas os que estiverem deslocados de seu habitat - e busca de escorpiões, sempre por meio do telefone 156, com indicações claras de qual espécie de animal se trata.
A orientação da prefeitura é que não se entre em confronto com os animais, ligando imediatamente para o 156 para abrir o chamado. O Centro de Informações Toxicológicas do Estado (CIT/RS) disponibiliza uma cartilha com medidas preventivas, primeiros socorros e o que não fazer no caso de encontrar espécimes que possam envenenar ou ferir, além de ter um telefone 24 horas à disposição para atendimento de emergência: 0800-721-3000.