Inaugurado em 23 de outubro, o trecho 3 da revitalização da Orla tem se mostrado um sucesso de público. Voltado para o esporte, atrai multidões para a maior pista de skate de América Latina e para as 29 quadras de outras modalidades. Mas essa paisagem tem contrastado com o mato e o lixo à beira do Guaíba.
A faixa de grama entre as quadras e a água do Guaíba tem areia, pedras, buracos e troncos caídos que dão aparência de um lugar malcuidado justamente em frente ao trecho reformado da orla. Trata-se de uma área prevista no projeto do arquiteto Jaime Lerner, e forma um recanto alternativo para quem procura sombra para aproveitar o local. No entanto, o estado do mato dá uma aparência de descuido.
O casal Álvaro Reis e Mônica Gusmão estava conhecendo o novo trecho na quarta-feira (1º). Ao observarem o entorno, eles gostaram da ideia de haver um espaço verde junto ao Guaíba e às quadras esportivas, mas perceberam problemas, como a ausência de bancos abrigados do sol.
— O lugar é lindo, mas podia ser melhor aproveitado — resumiram.
Já o lixo chamou atenção do casal de ciclistas Carmem, 57, e Cláudio Botomé, 55. Para eles, o problema é cultural. A dupla percorre semanalmente o trajeto entre o Hospital Militar, na Avenida Cristóvão Colombo, e os clubes náuticos no bairro Assunção, na Zona Sul, sempre pelas ciclovias da orla, e se surpreenderam com a sujeira.
— Se cada um se preocupasse em deixar o local tão limpo quanto estava quando encontrou, a situação seria melhor, teria menos lixo aqui e menos lixo na água — sugeriu Carmem.
O que diz a Smamus sobre o mato
A explicação dada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) é que o projeto não prevê aproveitamento da área verde entre o Guaíba e as quadras justamente para deixar que a vegetação exista de forma natural ao longo da margem.
A secretaria respondeu aos questionamentos da reportagem por meio da seguinte nota:
“Conforme o projeto-conceito do urbanista Jaime Lerner, o espaço depois da calçada denomina-se área de regeneração. A recomposição deve acontecer naturalmente, e este local deve ser constantemente manejado e limpo. A Smamus não possui projeto para implementação de equipamentos entre as quadras e a água, e qualquer proposta neste sentido deverá ser avaliada pela secretaria. A área do novo trecho da orla também está sob ingerência das secretarias municipais de Parcerias e Esporte, Lazer e Juventude.”
O que diz o DMLU sobre o lixo
A orla do Guaíba é palco de uma batalha diária travada entre os funcionários do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) e o lixo ao longo da vegetação que cobre a margem do novo trecho. Além de embalagens e plásticos diversos, uma cadeira de escritório, um capacete e móveis como cama e sofá foram recolhidos por 17 servidores do (DMLU) na quarta-feira.
Alguns frequentadores dos espaços revitalizados entre a prainha do Anfiteatro e o Museu da Fundação Iberê Camargo apresentavam queixas aos funcionários em plena atividade. Os trabalhadores argumentaram que a área que é limpa em um dia pode amanhecer no outro suja outra vez, dependendo de quanto o nível da água sobe e deixa lixo espalhado por ali ao descer novamente.
A solução, segundo sugestão dos próprios funcionários, começaria por aumentar o efetivo das equipes - atualmente formada por cerca de 20 coletores divididos ao longo de toda a Orla - disponibilizar mais caminhões e distribuir contêineres ao longo da região para reduzir a quantidade de material que é descartada nas áreas de circulação e chega ao Guaíba com o vento.
Confira a nota com as respostas do DMLU aos questionamentos de GZH:
"A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos por meio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) informa que a limpeza no Trecho 3 da Orla é feita diariamente em três turnos, das 8h às 17h, das 18h às 23h e das 23h às 06h, alcançando um quantitativo de 80 garis executando os trabalhos. Na análise técnica da Diretoria de Limpeza e Coleta do DMLU não há necessidade de aumento de efetivo no momento. O caminhão do DMLU que está fixo no Trecho 3 procura chegar o mais próximo da orla do Guaíba, mas em alguns pontos não é possível por risco de atolamento do veículo junto à margem e também pela existência de interferências como árvores. Somente nestes casos o veículo fica na avenida. Nesta quinta-feira, 02, o departamento vai iniciar a abertura de um acesso para o caminhão chegar mais próximo da margem com maior facilidade. Já existe um caminhão disponibilizado para o trabalho no local.
O DMLU faz atividades de educação ambiental totalmente gratuitas por toda cidade de Porto Alegre. Mas faz-se necessário destacar que os resíduos que chegam pelo Guaíba não são oriundos apenas da Capital, mas de várias cidades do entorno e dos vários afluentes do Guaíba e se acumulam principalmente em dias de vento sul. Neste momento o DMLU tem uma campanha em parceria com a Braskem de sensibilização para coleta de recicláveis na frente da Usina do Gasômetro. Várias atividades como estas ainda serão implementadas.
Sobre os resíduos coletados no Trecho 3 e levados de caminhão até o Trecho 2, é uma rotina de trabalho pois no trecho 3 não há entrada para caminhão grande. Dessa forma, o material coletado no Trecho 3 é levado num caminhão menor até o Trecho 2, onde faz o transbordo para um caminhão maior. Do Trecho 2 o resíduo é levado até a Estação de Transbordo da Lomba do Pinheiro. Com a abertura do acesso no Trecho 3 não será mais necessário levar os resíduos até o Trecho 2."