Indo pela Avenida Borges de Medeiros em direção ao Centro Histórico, você dobra na Duque de Caxias, entra na Marechal Floriano Peixoto e faz o retorno – ao passado. É que a Marechal é a rua dos antiquários de Porto Alegre. Em uma quadra apenas, tem 10 lojas que vendem peças raras, antigas e colecionáveis.
Lá você encontra lustres antigos em cristal ou bronze, cristaleiras em estilo Luís XVI e trecos mais modestos que apelam para a memória afetiva, como os chaveiros com o escudo antigo do Inter e aquela almofadinha que os gremistas usavam nas arquibancadas de cimento do Olímpico.
— Essa rua mexe com lembrança, com memória — diz o comerciante Daniel de Andrade, 63 anos.
Um dos antiquários mais tradicionais é o Mercado Negro, em um prédio centenário pintado de amarelo e verde. Sócio e gerente, Paulo Hippen, 54 anos, se empolga quando provocado a mostrar peças inusitadas. Primeiro, pega um objeto de porcelana pintado a mão, de pouco mais de 10 centímetros de altura. Parece ser um castiçal, mas não é. Conta que se trata de uma cuia de mate doce, vendida por R$ 249.
— No início do século passado, os homens queriam chimarrão, mas, como as esposas tinham colocado açúcar dentro, ficava o gosto na cuia. Então, havia cuias específicas para mate doce — explica.
A loja é abarrotada de conjuntos de chá, telefones “de gancho” e fotografias de desconhecidos vendidas a R$ 15 dentro de uma caixa de sapato. Ele passa reto por tudo isso para brincar novamente de “adivinha o que é isso?” com uma peça de louça furada no meio:
— Isso é uma salivadeira, ou escarradeira. Mais de cem anos atrás, durante uma refeição, à mesa, as pessoas cuspiam nisso aqui.
Faz careta e acrescenta:
— Era nojento, ainda bem que caiu em desuso.
Do outro lado da rua, fica o Ao Belchior, o primeiro antiquário. Aberta apenas aos sábados, a loja é tocada por uma antiga funcionária do fundador, um português chamado Joaquim, comerciante desde 1918 que faleceu em 1995.
Foi algo “natural” surgirem outros antiquários na Marechal Floriano e ruas ao redor, segundo os comerciantes, e formou-se o percurso Caminho dos Antiquários. Em 2005, eles realizaram a primeira edição da feira na rua. Dezoito antiquários da região participam da iniciativa, que também reúne expositores de outros locais.
A feira ocorre aos sábados, das 9h às 15h.
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