Um dos mais tradicionais bares de Porto Alegre, referência da boemia na zona central da cidade ao som de jazz, tango e MPB, o bar Odeon foi colocado à venda e corre o risco de fechar as portas de vez após 35 anos de atividade.
O local onde se apresentaram nomes como Plauto Cruz e Jorginho do Trompete deixou de funcionar no começo da pandemia, e as restrições sanitárias exigidas para voltar a receber público desestimularam os proprietários a retomar a operação.
– Estudei os protocolos para um tipo de bar como o nosso, com música ao vivo, e concluí que seria muito difícil operar em razão das restrições. Como nosso espaço não é muito grande, poderíamos receber umas 20 pessoas, o que não me parece valer a pena – explica o fundador Celestino Paz Santana, 75 anos.
As exigências sanitárias envolvem obrigatoriedade do público ficar apenas sentado e com distanciamento, por exemplo. Outra razão apresentada para a decisão de colocar o ponto à venda, por um valor “em aberto” a ser negociado com os possíveis interessados, é a idade. Quando lançou a ideia de um bar voltado ao happy hour no número 81 da Rua Andrade Neves, Celestino, ou “Tino” como é conhecido, tinha 39 anos e um fôlego de trompetista de jazz para tocar o negócio.
Agora, com um ritmo de vida mais cadenciado, estilo bossa nova, se mostra menos disposto a enfrentar os obstáculos deixados pela pandemia a esse setor.
– Estou há muito tempo nesse negócio, cerca de 35 anos. A idade também pesou na decisão de colocar à venda – complementa Celestino, que é o responsável pela operação do estabelecimento.
A notícia começou a circular nos últimos dias e já motivou contatos de alguns interessados. A prioridade é dar preferência para alguém que se disponha a manter o espaço funcionando com as características atuais. Um dos motivos para isso é perpetuar um dos pontos de referência da cultura porto-alegrense.
Pelo Odeon já passaram músicos como o célebre flautista Plauto Cruz, morto em 2017, Jorginho do Trompete, Cláudio Sander (saxofone), Luiz Mauro Filho (piano), e o bandoneonista Rafael Koller, que atraiu para o bar amantes do tango ao longo de mais de uma década. Koller morreu em 2019.
– Outra possibilidade é fazer algum tipo de acerto com os atuais proprietários, mesmo que não seja uma venda do ponto, que dê alguma sustentação financeira para as portas do Odeon reabrirem.
Há muita gente interessada em salvar o bar, talvez fazendo algum outro tipo de composição. O bar está à venda, mas todas as opções estão em aberto, e seguimos conversando – explica o fundador.
O local foi lançado em 1985 com o objetivo de ser uma nova opção de happy hour na zona central da cidade. Já na primeira noite, lotou. O sucesso se seguiu pelos anos seguintes, e o endereço se tornou também referência musical nos anos 2000, quando agregou apresentações ao vivo.
Agora, a história do Odeon pode estar perto do fim. Mas, como seu Tino segue disposto ao improviso, a exemplo dos melhores solos de jazz, ainda é possível que o tradicional bar volte a fazer do número 81 da Andrade Neves uma das referências boêmias da Capital.