O telefone do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o 192, é usado para atender acidentes de trânsito, pessoas que passam mal em diversas situações e vários outros tipos de ocorrências. Quanto mais rápido uma linha for desocupada, assim como a precisão das informações repassadas, mais chance de se salvar uma vida.
No entanto, de janeiro a julho deste ano, em Porto Alegre, 58,7% das mais de 113 mil ligações não geraram atendimento. Foram ligações por engano, pedidos de informações não vinculadas ao serviço em específico, chamados interrompidos e repetidos, bem como trotes e casos fora da área de atuação da Capital.
Apesar desses perfis de ocorrência terem diminuído, na comparação com o mesmo período do ano passado, segue o alerta.
Pois, casos assim, congestionam as linhas, impedindo outras pessoas de ligarem ou desviando profissionais das suas funções, além de estarem retardando o tempo de atendimento a uma vítima.
Ligações
Em relação aos primeiros sete meses de 2020, o número de chamados em 2021 diminuiu, assim como as ligações que não geraram atendimentos de emergência. De janeiro a julho do ano passado, foram 135.864 chamados para o 192 — com 34,4% gerando atendimento e 65,6%, não — contra 113.624 em 2021 — com 41,3% resultando em casos concretos e 58,7%, não.
Do total de chamados que não geraram ocorrências de fato em 2020, 28% foram por engano, 15,2% pedidos de informações sobre outros serviços, 10,1% de ligações interrompidas e 5,7% de trotes — 7,7 mil, ao todo. De janeiro a julho deste ano, os casos por engano caíram para 20,8%, mesmo assim, 112 por dia.
Os pedidos de informação sobre outras áreas foram 76 registros diários. Também caíram, mas representam 14% do total.
As chamadas interrompidas tiveram o mesmo volume do período anterior e os trotes diminuíram, em torno de 4,5% do total. Mesmo assim, os 5,1 mil casos configuraram um trote por hora.
Em relação aos trotes, os casos podem ser enquadrados como crime no Código Penal Brasileiro. Por exemplo, no artigo 265 — atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública. A pena é de reclusão de um a cinco anos, além de multa. Mas também podem ser enquadrados no artigo 266 — interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento. A pena é de detenção de um a três anos, mais multa.
Serviço
O médico Fabiano Barrionuevo, coordenador do Núcleo de Educação Permanente (NEP) em Porto Alegre, destaca que a ligação — que chega pelo 192 — passa primeiro por um técnico auxiliar de regulação médica, quando se repassa nome e local da ocorrência. Depois disso, o chamado vai para um médico regulador, responsável por verificar tipo de trauma, gravidade, número de vítimas, tipo de transporte a ser usado, como por exemplo, uma unidade básica ou uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além do número de atendentes e de viaturas.
Barrionuevo tem como exemplo o caso mais grave nos atendimentos: parada cardíaca. Segundo ele, os minutos perdidos em trotes, ligações por engano ou para atender pedidos de informações que não são do Samu, são cruciais para salvar uma vida.
— O uso correto, o uso consciente do 192, pode estar salvando uma vida de um amigo, de um vizinho, ou até de um familiar seu. Importante seguir orientação do solicitante e otimizar. Uma linha desocupada mais rápida fica livre para um novo atendimento a ser realizado. No caso de parada cardíaca, por exemplo, a cada minuto sem atendimento, a vítima perde 10% da chance de sobreviver — diz Barrionuevo.
O médico ainda cita o fato de que, após o tempo da ligação, ocorre a comunicação da equipe, para depois ter ainda o deslocamento em meio ao trânsito, além da procura pelo endereço e só depois o atendimento em si. Já o serviço de triagem na Capital, conforme o horário de pico, tem até cinco técnicos e cinco médicos responsáveis.
Educação
A enfermeira responsável por coordenar o NEP em Porto Alegre, Dinorá Cenci, destaca dois serviços que têm ajudado a orientar e conscientizar a população sobre o 192, bem como a ajudar na questão dos primeiros socorros. Um deles é o “Samuzinho”. Segundo ela, são atendimentos básicos de socorro emergencial em escolas e empresas para que as pessoas saibam como agir nas situações de urgência, quando acionar, o número exato para ligar e quais as informações necessárias pra chamar o socorro.
Para receber a visita do “Samuzinho”, basta agendar pelo e-mail: nep.samu@portoalegre.rs.gov.br.
Tem ainda o “Samu Cidadão”, que é um espaço para primeiros socorros a qualquer cidadão com interesse no assunto, sem a necessidade de grupos. É um serviço mensal, com duração de quatro horas na sede do Samu, na Capital, tendo ainda aulas teóricas e práticas com manequins, inclusive com certificado. Agendamentos podem ser feitos no primeiro dia útil de cada mês pelo mesmo e-mail do NEP e ainda pelo telefone 51 – 3289-2539.
— Essas atividades, como visitas técnicas, atividades com instituições de ensino e estágios, contribuem para que todos saibam como é o serviço, quando utilizar, em quais situações. Isso se percebe nos números. Trote diminui e número de chamados desnecessários também — explica Dinorá.
Ela destaca ainda as perguntas e respostas básicas durante uma ligação para otimizar o atendimento:
Outros telefones de urgência:
- Bombeiros - 193
- Brigada Militar - 190
- Defesa Civil - 199
- EPTC - 118
- Fala Porto Alegre - 156
- Polícia Civil - 197
- Polícia Rodoviária Federal - 191
- Polícia Federal - 194
* Ouça na íntegra entrevista com o médico Fabiano Barrionuevo, coordenador do Núcleo de Educação Permanente (NEP) em Porto Alegre: