A barriga inchada reduz a agilidade, mas não é motivo de espanto das mãos que acariciam uma dócil gata de pelos negros, moradora temporária do bairro Floresta, em Porto Alegre. Prenhe, a felina foi retirada das ruas no último sábado (21) pelos trabalhadores de uma fábrica de skates da Zona Norte. Ganhou comida, carinho e o lar provisório. Recebeu também um nome que tem tudo a ver com quem a encontrou: Fadinha, homenagem à skatista Rayssa Leal, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio
— Ela é tão amada! A vontade era levar pra casa, mas já temos quatro, ia ser uma guerra — brinca a médica Luísi Rabaioli, 35 anos, casada com o dono da fábrica.
Fadinha foi notada pelo arquiteto Frederico Padilha Garcia, 35 anos, fundador da Paloma Longboards. Designer dos shapes, Fred, como é mais conhecido, conta que os colegas da empresa alimentavam a gatinha há cerca de um ano. Quando notou que ela estava grávida, acionou uma amiga protetora.
— Estranhei por ser tão dócil, se era de alguém que morava ali. Ela chegava na gente miando, se esfregando. Eu queria ajudar, aí acionei a Adri, que conseguiu uma forma de acolher a Fadinha.
Adri é Adriana Schnell, 49 anos. Jornalista, deixou de atuar na área de formação para se dedicar a outro emprego, que empenha ainda mais paixão: “cat sitter”, cuidadora de gatos.
Em cinco anos, ela já proporcionou abrigo a 17 gatas prenhes e contabiliza ao menos uma centena de “bebês”. Conta com uma rede de voluntários para manter as futuras “mamães”, até que chegue o dia do parto.
Uma ocasião foi especial para a jornalista, o momento em que presenciou o nascimento de uma ninhada:
— Foi muito emocionante. Levei dois meses pra voltar ao meu estado normal, de tanta felicidade que aquela cena me deu. É inexplicável.
A “gata skatista” deve dar à luz em cerca de duas semanas, segundo veterinárias que a acompanham. Por vezes, a data é adiantada, e surpreende quem faz o transporte do animal, como já ocorreu em outros momentos.
— Uma vez uma parceira nossa estava carregando a gata no banco de trás do carro e ela começou a parir ali mesmo. Foi um susto, e nasceram nove — conta Adriana.
O batismo segue uma lógica do grupo de protetores, que é a de conectar a alcunha com a ocasião em que foram resgatadas. Em alguns casos, é o logradouro, como “Juju”, resgatada do bairro de Canoas, Guajuviras, e Agostinha, salva na vila Agostinho, bairro Sarandi, na Capital. Há ainda o empréstimo de nomes de artistas e personagens, como dona Hermínia, personagem de Paulo Gustavo, que morreu aos 42 anos de covid-19, no sucesso Minha Mãe É uma Peça.
A ideia é manter Fadinha e os filhotes na casa atual até que se encontre algum tutor que a adote. Um de seus filhotes já tem destino: o marceneiro que alimentava a gata.
— Eu tive que avisar todo mundo na fabrica, porque a gata sumiu. O Eduardo, um dos marceneiros, já disse que quer um deles.
O trabalho de acolhida é voluntário, e envolve despesas com ração, areia, castração e outros gastos. Toda ajuda é bem-vinda, contato que pode ser feito diretamente com Adriana no telefone (51)99768-1127.