A prefeitura divulgou na semana passada, por meio da Diretoria de Vigilância em Saúde, um alerta epidemiológico confirmando o segundo caso do ano de raiva em morcego em Porto Alegre. O animal foi encontrado no bairro Bom Fim neste mês. Em junho, a Vigilância emitira o primeiro alerta após a confirmação da doença em morcego hematófago (que se alimenta de sangue) capturado de forma inédita em área urbana, na Zona Sul.
Médico veterinário da equipe de Antropozoonoses do município, José Carlos Sangiovanni explica que não se trata de uma situação fora da curva: o morcego é considerado um reservatório natural de raiva. Em 2018 e 2019, também foram localizados animais com o vírus.
Ele relata que, de acordo com estudos realizados em São Paulo, um a cada cem morcegos que entram em uma residência está contaminado.
— Isso ocorre de uma maneira muito pontual, mas, considerando a gravidade da doença, cabe o alerta: ela é extremamente rara, mas fatal — avisa.
O especialista faz duas recomendações importantes: que o morador não tente pegar o morcego com a mão (leia mais abaixo) e que vacine os seus pets anualmente contra a raiva.
— O cachorro ou o gato podem tentar brincar ou caçar o morcego e acabar se contaminando, qualquer lesão de pele pode ser um risco. O morcego costuma fugir de humanos e animais, não tende a atacar, mas pode tentar se defender — explica.
Quando o morcego está contaminado com raiva, fica desorientado, mas esse não é o único motivo para entrar em residências. Não é incomum que acabem aparecendo em dias de muito vento, e há também casos de filhotes entrando pelas janelas enquanto aprendem a voar.
Com relação ao morcego hematófago localizado no bairro Teresópolis em junho, o veterinário nega que exista uma preocupação, apesar de ter sido encontrado em área urbana — essas espécies são próprias de áreas rurais.
— Trata-se de um comportamento anômalo, a gente não sabe o quanto ele voou. Foi um caso pontual e não se repetiu — pondera.
Ele ainda explica que essa espécie costuma se alimentar de sangue de animais de grande porte, como vacas e cavalos, e é extremamente raro ver casos de ataque a humanos.
Bióloga da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade e doutora em Diversidade e Manejo da Vida Silvestre, Soraya Ribeiro destaca que é proibido matar morcegos: eles são protegidos por lei. O animal faz um serviço ambiental porque come insetos como mosquitos, baratas e cupins.
— São animais silvestres importantes no equilíbrio ambiental — destaca.
Veja perguntas e respostas:
Como a raiva se espalha?
A raiva é uma doença transmissível que pode atingir qualquer mamífero – como cães, gatos, bois, cavalos, morcegos e o homem. Ela é transmitida quando a saliva do animal infectado entra em contato com a pele lesionada ou mucosa, por meio de mordida, arranhão ou lambedura do animal.
O que a raiva causa?
O vírus ataca o sistema nervoso central, levando à morte após pouco tempo de evolução. É caracterizada por uma encefalomielite fatal, doença extremamente grave, com letalidade de quase 100% se a pessoa não tomar a vacina antirrábica. No Brasil, apenas dois homens sobreviveram à raiva, vivendo com sequelas graves.
Quais os cuidados com o pet?
Para proteger o animal doméstico da raiva, o tutor do pet deve vacinar cães e gatos contra a raiva anualmente. A carteira de vacinação do animal deve ser verificada. A vacina é válida por 12 meses.
O que fazer ao encontrar um morcego?
Caso encontre algum morcego vivo ou morto em situação anormal, por exemplo, caído no chão, pendurado em janelas, cortinas etc., o animal não deverá ser tocado.
— Não peguem com a mão, não brinquem, não subestimem — destaca José Carlos Sangiovanni.
Deve-se ligar para o Serviço 156 – Fala Porto Alegre ou para o setor de Antropozoonoses na DVS (51) 3289-2459 – para orientações.
Se possível, o animal deve ser capturado sem encostar diretamente nele, utilizando panos, caixas, baldes ou mantendo-o preso em ambiente fechado até que a equipe municipal realize o recolhimento.
Não é permitido matar o animal, protegido por lei.
E o que fazer em caso de acidentes?
Acidentes envolvendo contato com morcegos são considerados graves e devem ser notificados imediatamente.
A notificação de suspeitas ou de acidentes permitirá medidas de prevenção, controle e monitoramento necessárias, seja para a saúde animal ou humana — como, por exemplo, tomar vacina antirrábica pós-exposição.
Serviços veterinários devem notificar suspeitas ou acidentes à Equipe de Vigilância de Antropozoonoses da Vigilância Sanitária.
Em que época é mais comum encontrar morcegos?
Durante o verão. Em outubro, começa o deslocamento sazonal dos morcegos urbanos, da espécie Tadarida brasiliensis, muito comum em Porto Alegre. Nos meses de calor, eles buscam a zona urbana devido à abundância de alimento, como cupins, baratas, mosquitos e mariposas, e têm seus filhotes. Conforme os recém-nascidos se tornam aptos a voar, inicia-se a migração de saída da cidade, que ocorre por volta de fevereiro. Neste período, ocorre um expressivo aumento de solicitações envolvendo questionamentos sobre morcegos.
O que faço se tiver uma colônia no meu prédio?
No caso de ocorrência com morcegos, o procedimento adequado e permitido por lei é aguardar até que os animais abandonem o local e, após a saída, proceder a limpeza para remoção das fezes.
No período de frio, até meados de agosto, é possível realizar intervenções nos telhados das propriedades para que os animais não se instalem no local. Vedar as frestas nos forros também evita que as fezes possam cair para o interior da residência, no caso de já existirem morcegos instalados.