O "Maio Amarelo", tradicional campanha mundial de conscientização no trânsito, iniciou com um desafio em Porto Alegre neste ano: chamar a atenção da sociedade sobre o alto índice de mortes e feridos. Os dados de abril foram divulgados nesta semana e revelam um aumento no número de mortes em relação ao mesmo período de 2020 e também ao três primeiros meses deste ano.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) tem outra preocupação ainda. Todos os óbitos foram de motociclistas, sendo que três deles estavam sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou com documento irregular. Especialistas na área alertam para fatores como maior fluxo e direção perigosa, principalmente por parte de motoboys, principalmente porque houve uma média de nove acidentes diários envolvendo motociclistas no mês passado.
Sobre mortes, foram seis casos contra apenas dois no mesmo mês de 2020. Mas considerando que em abril do ano passado foi um dos períodos com maior índice de distanciamento social, especialistas em trânsito consideram uma outra comparação para o risco deste tipo de ocorrência no trânsito. Se em abril foram seis óbitos, no primeiro trimestre inteiro do ano também foram seis casos, ou seja, média de dois a cada 30 dias.
Também houve um aumento no número de feridos em razão de acidentes. Foram 389 registros contra 239 em abril de 2020, uma elevação de quase 63%. E ainda sobre óbitos, do total de seis pessoas que morreram, todas eram homens. Se levar em conta o acumulado do ano, quando houve 20 óbitos desde janeiro, 86% são vítimas do sexo masculino e, do total de casos, nove foram no turno da madrugada.
Motivos
O aumento da circulação das pessoas para diversas atividades é considerado pela EPTC um dos principais fatores para o número de mortos e feridos no trânsito da Capital em abril.
— Muitas pessoas que estavam em home office retomaram às atividades presenciais. O nosso apelo é para que circulem com mais cuidado — diz o diretor-presidente da EPTC, Paulo Ramires.
Mas o engenheiro civil e doutor em Transportes, João Fortini Albano, diz que são dois fatores importantes para que a EPTC tenha registrado, somente em acidentes, 279 casos em abril envolvendo motociclistas, que é um aumento de 18% na comparação com o mesmo período de 2020, com 236 acidentes na Capital. Segundo o especialista, a regra é simples, mais motos nas vias, mais exposição ao risco. No entanto, ele destaca também os casos em que ocorrem a questão da direção perigosa.
A professora Christine Nodari, do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta que a retomada das atividades é uma fase de transição perigosa, pois há mais usuários circulando pelas vias, ao mesmo tempo em que os usuários habituais seguem com atitudes mais displicentes.
- Quem sempre esteve no sistema ainda está com um comportamento de menos usuários e isso pode trazer um problema de adaptação do comportamento para um novo ambiente, que não é mais o mesmo por que está mais complexo. Nesta fase de adaptação é necessário mais cuidado - explica Christine.
Como todos os óbitos foram de motociclistas em abril, a EPTC reforçou a operação Duas Rodas — que alerta para itens de segurança, documentação e estado de conversação das motocicletas — e busca orientar, além de estabelecer metas com empresas de telentrega, que utilizam motoboys. Este setor foi um dos que apresentou crescimento durante a pandemia e consequentemente gerou uma maior circulação de motociclistas pelas vias da Capital.
Sindimoto
O presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto), Valter Ferreira, diz que um dos fatores para as mortes envolvendo motociclistas é que houve um grande aumento de pessoas atuando como motoboy durante a pandemia. Mas ele ressalta que foram desempregados que passaram a guiar estes veículos sem qualquer tipo de preparação, por exemplo, em curvas, em dias de chuva, entre outros casos.
— Passamos de 18 mil em Porto Alegre, antes da pandemia, para 45 mil, com ou sem formação qualificada para isso, o que deixa o condutor mais vulnerável. Eu entendo que um motociclista profissional tem que ter no mínimo cinco anos de experiência para começar a ficar mais preparado e enfrentar o trânsito — explica Ferreira.
O presidente do Sindimoto discorda da questão envolvendo direção perigosa ou o fato do motociclista ter de se acostumar com a volta de um trânsito mais intenso. Ele também destaca que a formação em si do condutor no País deveria ser melhor, caso contrário, a fiscalização precisa ser mais efetiva para coibir o descumprimento geral das regras.
Acumulado no ano
Apesar do alerta em relação ao mês passado, de janeiro até abril, houve cinco mortes a menos do que no mesmo período de 2020. Foram 20 ocorrências deste tipo em 2021 e 25 nos quatro primeiros meses do ano anterior, uma redução de 20%. O número geral de acidentes no ano, até abril, também baixou, passando de 3.145 em 2020 para 3.078 neste ano, o que representa 2% a menos.
Maio Amarelo
Uma das formas que a EPTC encontrou neste ano para conscientizar motoristas durante a campanha do Maio Amarelo foi a utilização de manequins amarelos, que foram colocados em pontos estratégicos da cidade.
Eles representam a humanização dos dados, além de reforçar a importância da vida, a empatia e o respeito no trânsito.
A gerência de Fiscalização de Trânsito, em conjunto com a coordenação de Educação para a Mobilidade, programou pelo menos três operações semanais chamadas No Limite da Via. Na atividade, os agentes abordam motoristas que circulam na velocidade permitida e parabenizam os condutores por suas atitudes que auxiliam na segurança do trânsito.
Há também a Operação Pedestre Seguro. O objetivo é garantir a correta utilização das travessias de pedestres para minimizar os riscos de acidentes. Nas ações, os agentes de fiscalização orientam transeuntes e condutores sobre o respeito à sinalização e às normas de circulação em áreas de grande movimento na cidade.