O noticiário pouco muda de cidade para cidade. Porto Alegre tem um parque depenado em uma das suas áreas mais nobres e uma praça de onde até os postes foram carregados. Em Vitória, no Espírito Santo, a turística orla da Praia do Camburi está às escuras desde janeiro. Em Londrina, no Paraná, uma medida desesperada foi circundar os postes com arames farpados.
Embora a dor de cabeça das prefeituras se assemelhe, algumas cidades conseguiram ao menos amenizar ataques aos equipamentos de iluminação pública.
Um consenso é que o furto de luminárias tem sido minimizado conforme as cidades modernizam suas luminárias, trocando para a tecnologia de LED. Embora sejam equipamentos caros, as lâmpadas têm baixo valor de revenda por serem pouco adaptáveis a novos usos e identificadas com números de série: uma adversidade para um receptador de material roubado.
O grande problema para as cidades, por não haver muitas alternativas a ele, é o fio de cobre, fácil de ser manipulado – basta derreter o plástico à volta – e com alto valor de venda tanto no mercado clandestino quanto no legal. No último ano, o valor do metal cresceu até 75%, sendo comercializado a cerca de R$ 35 o quilo. A questão prática, portanto, é como resguardá-lo.
Desde meados de 2017, quando ocorreram casos de postes serrados para o roubo do cabeamento interno, a prefeitura de Curitiba vem adotando um novo modelo de poste cujo interior é “envelopado” de concreto. A caixa também não fica mais na altura do solo, ela é enterrada a mais de 50 centímetros e também concretada. O desestímulo final é a altura do poste: superior a seis metros para evitar o acesso à lâmpada.
A medida vem sendo adotada principalmente em parques e praças, como o Parque Vista Alegre, área de preservação ambiental no bairro que recebeu R$ 42 mil em investimentos nesse tipo de iluminação, com menos postes, porém mais altos, resguardados e com lâmpadas mais potentes. No centro da cidade, onde o sistema de iluminação é mais antigo e as caixas ficam na altura do solo, a situação foi inusitada.
– Nós soldamos as tampas de ferro no chão. Aí você vai me perguntar: mas como faz para consertar? Pois bem, é preciso cortar, abrir e depois fechar e soldar novamente. É uma trabalheira e muito mais caro, mas ainda assim é menos prejuízo do que o furto. Com esse método, o furto foi reduzido em 90% – conta o diretor do Departamento de Iluminação da Secretaria Municipal de Obras Públicas da capital paranaense, Tony Malheiros.
Na Bahia, Salvador foi outra cidade que conseguiu ir na contramão das grandes cidades e reduzir os prejuízos com furtos em 35% entre 2019 e 2020. Conforme Igor Moreira, gerente de manutenção de iluminação pública da capital baiana, a principal solução também foi um maior resguardo do material. Em equipamentos públicos como passarelas, por exemplo, o cabeamento é protegido por eletrodutos galvanizados e as luminárias protegidas por grades soldadas na estrutura. Nos postes, a solução foi semelhante à curitibana: caixas de concreto a 70 centímetros do solo.
– Além disso temos rondas ininterruptas à noite de domingo a domingo, buscando identificar situações de furto e vandalismo e de imediato acionamos os órgãos de segurança pública para tentar aplicar o flagrante – ressalta Moreira.
Em Curitiba, outra medida com boa resposta foi administrativa. Para cada registro de furto, é feito um detalhado boletim de ocorrência. O objetivo, mais do que uma resposta imediata das autoridades de segurança, é municiar as forças de segurança de dados que facilitam investigações, como a maior incidência em determinada região ou por determinado método de ação do criminoso. Isso facilita a identificação de autores e de receptadores.
O que planeja a concessionária que assumiu a iluminação pública de Porto Alegre
Em Porto Alegre, a concessionária IPSul, que assumiu em outubro a gestão do parque de iluminação pública de Porto Alegre, afirma que está repondo cabos furtados utilizando um material menos visado, o alumínio.
— Não é o ideal tecnicamente, mas inibe os furtos. As reincidências não ocorrem nessas áreas onde já fizemos esse tipo de reposição — relata Guido Oliveira, diretor-executivo da IPSul.
Para novos projetos, a empresa também pretende utilizar técnicas de concretagem e evitar postes baixos.
— Na modernização, priorizaremos reposições de luminárias em postes maiores, redesenhando as tipologias das praças e parques que apresentam alto índice de vandalismo — acrescenta Oliveira.
A IP Sul afirma também que mantém contato frequente com a Guarda Municipal, repassando informações para direcionar suas rondas. O delegado Luciano Peringer, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio das Concessionárias e os Serviços Delegados da Polícia Civil, também ressalta a importância dos registros de ocorrência.