Aguardada há décadas pelos porto-alegrenses, a revitalização do Cais Mauá parecia um sonho distante quando, em maio de 2019, o governo do Rio Grande do Sul rompeu o contrato com o consórcio Cais Mauá do Brasil, que, ainda na gestão de Yeda Crusius, venceu a licitação para recuperar a área. Entre os motivos apontados para a ruptura, estava a ausência de obras relevantes, o descumprimento de prazos e a falta de licenças para o serviço.
Quase dois anos depois, Porto Alegre está perto de ver a inauguração da primeira "ponta" revitalizada: o projeto Cais Embarcadero, localizado em uma área de 640 metros entre o Armazém A7 e a Usina do Gasômetro.
Com bares, restaurantes, praça náutica e área cultural, o espaço abriria as portas nesta sexta-feira (26), dia do aniversário de 249 anos de Porto Alegre. No entanto, com o agravamento da pandemia, a inauguração foi suspensa e ainda não tem data para ocorrer.
A revitalização, feita pelas empresas DC Set Group e Tornak Holding, começou em novembro de 2019. O local poderá ser explorado por cinco anos e meio, período em que os empresários desejam ver a devolução do cais à cidade e à população:
– É um momento histórico para Porto Alegre, um divisor de águas, porque a comunidade há muito tempo reivindica algo nos espaços dos antigos armazéns. E o Embarcadero vai preencher esta lacuna lá na ponta. O lugar é absolutamente diferenciado. Todo o processo que vai começar a partir do Embarcadero, a gente acredita, vai valorizar todo o centro da cidade - aposta Eugênio Corrêa, diretor da DC Set e sócio do Embarcadero Empreendimentos.
De fato, o projeto é visto como uma espécie de piloto para a modelagem da parceria público-privada pensada pelo governo do Estado. Para o secretário extraordinário de Parcerias, Leonardo Busatto, o Embarcadero é o "aperitivo da refeição principal" que dará impulso a outros investimentos.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) trabalha na formatação da modelagem. Em vez de conceder toda a área à iniciativa privada de uma só vez, há uma ideia de "fatiar" o espaço, fazendo a concessão das áreas tombadas e repassando em definitivo as demais, que ficam perto da rodoviária. Com isso, as empresas poderiam investir a longo prazo, sem necessidade de devolução para o Estado após o prazo de 30 anos:
- É uma área muito grande. Nenhum parceiro privado vai conseguir atacar toda a região de uma vez só. Se começar tudo ao mesmo tempo, provavelmente vai demorar muito mais do que se começar a atacar as áreas de maneira individualizada. E a gente imagina, por questão de sinergia, que vão iniciar próximo ao Embarcadero, seguindo em direção à Rodoviária. E tem esse efeito multiplicador: quanto mais as pessoas usam, mais pessoas querem ir - explica Busatto.
Mesmo que a modelagem não tenha sido definida, o secretário projeta que a área poderá contar com hotel, shopping a céu aberto e centro de eventos. Os empreendimentos deverão respeitar o Plano Diretor e o Estudo de Viabilidade Urbanística - e um dos impedimentos é o de grandes construções que bloqueiem a visão do Guaíba, por exemplo. Todo o processo deve contar com a participação de setores sociais, culturais e ambientais da cidade.
A expectativa é finalizar o edital até, no máximo, o início de 2022, com as regras da concessão. Com o edital publicado, a licitação deve ocorrer até março do ano que vem, com assinatura do contrato ainda no primeiro semestre. Assim, o governo espera, já no próximo ano, ver o início de trabalhos para a revitalização:
- A gente imagina que, já no ano que vem, tenha uma empresa começando os trabalhos no Cais Mauá. É uma grande missão que o governador nos passou, é um desafio, que até o final da gestão a gente possa ter pelo menos uma parte do cais aberta novamente para visitação, além do Embarcadero.