Em 2020, havia cerca de 3.850 pessoas morando nas ruas de Porto Alegre. Esse número cresceu 38,73% em relação ao que se observava na cidade em 2019, quando a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) estimou a população de rua em 2.775 pessoas.
Conforme o órgão, até 2019, a média era de 350 novas pessoas indo morar nas ruas da Capital por ano. Mas isso deu um salto a partir de 2020, ano do início da pandemia de coronavírus e do consequente impacto na economia. De acordo com a Fasc, no ano passado, 1.075 pessoas acabaram nesta condição, três vezes mais do que o habitual.
Os balanços da fundação são baseados nas abordagens de 12 equipes da Fasc que circulam pelas ruas da cidade e oferecem assistência. Os números são estimados, pois há pessoas que vivem em situação volante, isto é, voltam para casa e depois retornam novamente para a rua – e há ainda as que vêm do Interior e acabam regressando para a cidade de origem depois.
Os números atuais se refletem no cenário dos bairros da área central de Porto Alegre. É cada vez mais comum ver casas improvisadas construídas em algumas regiões consideradas estratégicas para sustento. São áreas próximo a zonas comerciais, de onde é possível coletar materiais recicláveis, maior fonte de renda de quem busca uma ocupação para sobreviver, mesmo na situação de rua, de acordo com dados da Fasc.
Há também um número expressivo de pessoas que são conhecidas em bairros periféricos e recebem auxílio da comunidade.
Identificada como Cláudia, 48 anos, a moradora de um abrigo construído com tapumes e lonas no canteiro central da Avenida Erico Verissimo, no Menino Deus, proximo à rótula do Papa, vive no local há dois anos. No mesmo canteiro, ao menos outros cinco abrigos estão montados. Segundo ela, a prefeitura já a abordou, mas ela voltou ao local.
– Eu saí de casa por problemas com a família e porque andei usando coisas aí. A gente veio para cá há dois anos. Eles nos tiram, mas a gente acaba voltando – comenta.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quinta-feira (4), a presidente da Fasc, Cátia Lara Martins, afirma que "a pandemia desconfigurou um pouco o atendimento usual":
– A pandemia desconfigurou um pouco o nosso atendimento usual, porque os nossos espaços tiveram que ser adaptados. A política da assistência social é para garantir direitos, para que essa pessoa em situação de rua consiga retomar a autonomia e ultrapassar a barreira da desproteção. Ninguém nasce na rua. Foram anos de déficits. A falta de emprego tem levado muita gente pra essa situação. Nós temos um recorte de que homens de 25 a 45 anos são hoje a predominância. Então é preciso trabalhar diversas políticas além da assistência social, como geração de emprego e moradia - comenta a presidente da Fasc.