Uma reunião virtual do Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) para discutir medidas de contenção do coronavírus terminou sem consenso no começo da tarde desta quinta-feira (25). Mais tarde, os prefeitos devem participar de um encontro com o governador Eduardo Leite, desta vez em um fórum ampliado, com todos os prefeitos gaúchos, representados pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).
Foram colocadas em debate três propostas para a discussão dos prefeitos da Região Metropolitana. Uma delas previa lockdown completo por sete dias. A segunda, que chegou a ter maior simpatia, previa um chamado “lockdown noturno”, com encerramento diário das atividades não essenciais das 18h às 6h. Seria uma extensão de três horas à restrição que encontra-se em vigor atualmente, por decreto de Leite, com paralisação das 20h às 5h.
A terceira proposta, defendida pelo prefeito de Sebastião Melo, de Porto Alegre, era manter as restrições da forma como estão, nas regras da bandeira vermelha e com a manutenção do sistema de cogestão. A posição de Melo, que ingressou no debate no final da reunião virtual, causou irritação em alguns de seus pares.
— Tínhamos construído posição quase unânime de adotar a bandeira preta na região. Havia exceção do prefeito de Esteio (Leonardo Pascoal), que divergia do encaminhamento, mas aceitava a posição para que pudéssemos construir unidade. E o Melo não aceitou nada disso. Aí os prefeitos acabaram recuando. Registrei minha posição de que isso é um absurdo. Tinha de ser levado ao governador a posição da maioria dos prefeitos e a posição do prefeito das Capital — protestou o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi.
Diante do impasse, o presidente da Granpal, Rodrigo Battistella, de Nova Santa Rita, deverá apresentar a Leite o cenário de falta de unidade.
— O presidente Battistella vai levar as três propostas para o governador e ver o que ele está pensando e o que vai determinar. A ideia é construir algo conjunto com o governador. A maioria dos prefeitos quer manter a cogestão. Mesmo que tenhamos medidas mais duras, a ideia é que os prefeitos possam ter possibilidade de discutir na sua região — diz Miki Breier, prefeito de Cachoeirinha.
Durante a reunião, havia líderes municipais dispostos a adotar uma medida mais severa, como o lockdown de sete dias, entre eles Vanazzi. Outros também simpatizavam com maiores restrições, como os gestores de Canoas, Jairo Jorge, e de Novo Hamburgo, Fátima Daudt.
— Sou a favor de medidas mais restritivas por pelo menos 10 dias. No entanto, por estarmos inseridos na Região Metropolitana, é preciso que ela seja regional. No difícil e atual cenário, restrições locais não terão resultados — avaliou Fátima.
A definição pela opção menos restritiva acabou sendo fruto, principalmente, da resistência de Melo, que não quer fazer um fechamento completo das atividades econômicas devido aos desgastes já produzidos à economia e ao emprego desde o início da pandemia. Um dos argumentos apontados foi de que “o problema não está na atividade comercial, que está tomando todos os cuidados”.
— Defendi a adoção de medidas mais restritivas em razão do avanço da pandemia. O pior está por vir — diz Jairo Jorge.
Dentre os prefeitos que defendiam um lockdown mais rigoroso, a avaliação é de que uma posição “unificada” era necessária para surtir efeito em toda a Região Metropolitana e, dentro desse contexto político, a dependência pela posição de Porto Alegre é significativa.
— Somos favoráveis à cogestão, mas se continuar do jeito que está, vamos ter de analisar um lockdown noturno — diz Volmir Rodrigues, prefeito de Sapucaia do Sul.
Em reação, Melo disse que anunciou novas restrições na Capital, atingindo o transporte coletivo e os espaços culturais do município, mas com manutenção da economia aberta. Ele defendeu a continuidade da cogestão do sistema de distanciamento controlado estadual para que os prefeitos participem das decisões.
— Respeito todos os prefeitos e suas posições. Eu dei a minha. Se a minha oposição fez alguém mudar de opinião, eu não sei. Não vejo crise nisso. Eu não entendi o Vanazzi, ele mantém bandeira preta e ao mesmo tempo o comércio aberto. É o que esta acontecendo em São Leopoldo — afirmou Melo.
Os prefeitos avaliam que a Granpal terá de voltar a se reunir para debater o avanço da pandemia.