Construção inacabada de 19 andares no centro de Porto Alegre, o "Esqueletão" ainda não tem um destino definido pela gestão Sebastião Melo. Uma das possibilidades que será avaliada pelo novo prefeito é a demolição do prédio na Rua Marechal Floriano Peixoto —medida que foi pedida pelo Ministério Público há dois anos.
Laudo preliminar da prefeitura, em 2018, apontou para "risco crítico de desabamento", mas o secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Alegre, Cezar Schirmer, afirma que são necessárias análises mais aprofundadas.
GZH perguntou ao coordenador do curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da PUCRS, professor Felipe Brasil Viegas, como acontece a demolição de um prédio do tamanho do Esqueletão. De cara, ele desconsidera a possibilidade de implosão.
— A demolição de um edifício desse tamanho, encravado em uma área tão urbanizada, descarta soluções rápidas como a implosão. Não é viável implodir um prédio que está ligado a Galeria do Rosário, e tem outros prédios à volta.
Viegas explica que a demolição precisaria ocorrer de cima para baixo. Primeiro, se removeriam os materiais quebradiços, na sequência, as lajes, as vigas (barras horizontais) e, finalmente, os pilares. Tudo isso andar por andar.
— Tu vens cortando o prédio com serras diamantadas, algumas têm quase o tamanho de um trator, que cortam peças de concreto. Vai desmanchando o prédio de cima para baixo, e retira cada pedaço com um guindaste — diz, relatando que que essa técnica foi usada na retirada das marquises do Beira-Rio durante a reforma.
O especialista relata que a demolição seria uma solução demorada e cara. Ele também destaca que precisaria ser levado em conta os transtornos de trânsito e de movimentação de pedestres na área.
Viegas acredita que seria menos oneroso retomar e concluir a obra do que demoli-la. Ele sugere que, prioritariamente, a prefeitura decida que fim pretende dar ao espaço.
— A engenharia tem hoje muitas técnicas para reforçar, para recuperar e sobretudo para readequar a finalidade da obra. Me parece muito mais lúcido pensar o que pretendemos no espaço e, de acordo com essa resposta, orientar os laudos para isso. É possível fazer reforços na estrutura, usando, por exemplo, elementos de aço — exemplifica.
Já o engenheiro civil Paulo Albuquerque Giacomuzzi acredita que o melhor destino para o prédio é mesmo a demolição.
— O projeto é muito antigo, pensar algo em cima daquela estrutura antiga, não tem sentido. Hoje em dia, exigências de projeto são outras, a demanda é outra — afirma.
Ele concorda que a implosão do prédio não é a melhor alternativa, por ter uma vizinhança muito próxima. Ele acredita que a demolição deveria ocorrer "de maneira tradicional", com um rompedor hidráulico que vai quebrando a estrutura.
Giacomuzzi acompanhou de perto uma das únicas implosões de prédios realizadas na história de Porto Alegre, da antiga sede da Caixa Econômica Federal na Praça da Alfândega, em 1976. Ele trabalhava para a empresa que realizou a obra do novo prédio que foi construído no local.
Ele lembra que a detonação foi feita em plena Feira do Livro — havia um temor dos moradores de que fosse colocar todas as bancas no chão. Os explosivos foram acionados por um detonador, e Giacomuzzi diz que era preciso antes rodar uma manivela, cerca de 15 vezes, que carregava o capacitor e acionava gradativamente as espoletas instaladas no prédio. A detonação levou cerca de dez segundos.
A implosão acabaria não afetando nem a feira, mas acredita que alguns jornalistas saíram de lá sujos.
— Foi feita uma área de isolamento grande, a imprensa ficou da metade da praça para trás. Tinha um vento naquela direção, e eu aconselhei a trocarem de posto: "Pode ir poeira vermelha para o lado de vocês". Eles não foram, e acho que alguns foram para casa pintados de vermelho.
Diferente do Esqueletão, a edificação demolida da Caixa não tinha outros prédios colados a ela, e possuía nove em vez de 19 andares.