Com a pandemia, a oferta de ônibus foi reduzida em Porto Alegre. Só que com o início do ano, muitas atividades estão sendo retomadas, e o uso do sistema também. Usuários relatam aglomeração, ônibus lotados, falta de limpeza e de álcool gel e atrasos nos coletivos. Muitas dessas situações são contrárias ao que indicam especialistas para combater o contágio do coronavírus.
Nesta quinta-feira (14), GZH percorreu os principais pontos de embarque nas zonas norte e leste da Capital. Foram visitados os terminais Triângulo e Cairú e o trecho do Viaduto José Carlos Utzig, na Região Norte, e pontos de ônibus na Terceira Perimetral no cruzamento com as avenidas Bento Gonçalves, Ipiranga e Protásio Alves, na Zona Leste.
Terceira perimetral: lotação das linhas transversais
Ao longo da Terceira Perimetral, de acordo com usuários, o problema maior é com as linhas transversais T11, T2 e T4, operadas pela Carris. A reportagem circulou por três pontos, nos cruzamentos da Terceira Perimetral com as avenidas Bento Gonçalves, Ipiranga e Protásio Alves.
No caso do T11, principalmente no sentido Sul-Norte, a reportagem presenciou cenas de aglomeração dentro dos veículos. Dois coletivos que passaram pelo local, no Viaduto São Jorge, não permitiram o embarque porque os veículos já estavam lotados. Usuários contam que a situação é frequente.
— Todo dia isso, uma hora esperando aqui para chegar um ônibus no qual a gente tenha condições de embarcar — cita a auxiliar de serviços gerais Eliane Medeiros, 31 anos.
Eliane trabalha próximo ao aeroporto Salgado Filho. Ela sai de casa, no bairro Partenon, antes das 6h, pega o primeiro ônibus às 6h18min, chegando no viaduto sobre a Avenida Bento Gonçalves por volta das 6h30min. Daí em diante, a espera é incerta.
Viaduto São Jorge: aglomeração no ponto de ônibus
Além da lotação nos veículos, havia muita gente aguardando nas paradas do Viaduto São Jorge. Isso porque os usuários já sabem que o ônibus virá lotado. Como os usuários não sabem quando aparecerá o próximo coletivo, formam uma aglomeração para tentar entrar no veículo.
A auxiliar de serviços gerais Lucimara Trindade, 48 anos, exibe as fotos na galeria do celular. Diariamente, avisa no trabalho que o ônibus está atrasado, ou pior, estragou, como mostra ela em um dos registros. Moradora do Partenon, Lucimara se desloca até o viaduto caminhando, e dali precisa embarcar no T4. A reclamação é a mesma de outros transversais: superlotação e poucos veículos durante o horário de pico.
— Já era um sistema de transporte ruim, mas (com) a pandemia piorou muito. Às vezes, fico mais de 40 minutos aqui esperando um ônibus — conta.
Já no meio da manhã, depois do horário de pico, o volume de passageiros é menor, mas o de ônibus também. Nesses momentos, os usuários não relatam problemas, mas reforçam que são trechos onde há opções de pegar mais de um ônibus. Para quem depende apenas de uma linha, esperar fora do horário de pico tem sido complicado.
Quando consigo embarcar, são ônibus bem lotados
MARIZETE OLIVEIRA
Sobre as linhas T11 e 441/Antônio de Carvalho
Outro relato frequente é na hora de voltar para casa, no final de tarde. A diarista Marizete Oliveira, 37 anos, usuária das linhas T11 e 441/Antônio de Carvalho, relata esperas superiores a 40 minutos no horário de pico da tarde, quando sai do trabalho.
— De manhã consigo vir tranquilamente, mas o retorno é bem complicado. E quando consigo embarcar, são ônibus bem lotados — pontua Marizete.
A assistente administrativa Alexandra Martins, 29 anos, usa também a linha 441/Antônio de Carvalho e o T8. Pela manhã, ela relata dificuldade em conseguir fazer a viagem:
— O Antônio de Carvalho sai do terminal já cheio. Passam lotados até algum parar e ser possível embarcar.
Terminal Triângulo: ônibus cheio, e fila organizada
A reportagem de GZH chegou por volta das 7h ao terminal Triângulo, um dos mais movimentados de Porto Alegre. No local, passam 950 ônibus por dia e mais de 35 mil viagens são feitas. Foi possível perceber longas e organizadas filas nos pontos de embarque das principais linhas, as pessoas usavam máscara e tentavam manter o distanciamento das demais. As principais reclamações eram das linhas transversais, que também eram as mais procuradas e com as maiores filas.
Distanciamento não existe no ônibus
ELIAS SOARES
Sobre a linha T4
Elias Soares, 48 anos, passou oito meses afastado do trabalho em uma empresa de impermeabilização da Avenida do Forte, na zona norte, por causa da pandemia. Ele tem diabetes e é hipertenso, o que o deixa nos grupos de risco da covid-19. Ao retomar à rotina, sua maior preocupação se tornou o ônibus que precisa pegar, da linha T4, que, segundo ele, aparece lotado com frequência.
— Ele lota, às vezes, na ida e na vinda, e não tem respeito de distância, não. Distanciamento não existe no ônibus. Vai gente em pé, com o ônibus cheio mesmo — relatou.
Além do T4, Elias também usa o A-135 para ir do bairro onde mora, o Sarandi, até o Triângulo. Já essa linha, de acordo com ele, não apresenta superlotação e dificilmente atrasa.
Também no Triângulo, o vigilante Gabriel Ferreira Cardoso, 23 anos, aguardava outro ônibus transversal, o T7. Ele toma essa linha para ir até a empresa onde trabalha, na Nilo Peçanha. O jovem também diz que o ônibus geralmente está cheio, mas "precisa trabalhar e não tem outra forma".
— Tá bastante lotado, tem bastante gente de pé. Para conseguir descer na parada certa, a gente tem que ir bem antes para o final do ônibus. O pessoal passa muitas vezes se encostando uns nos outros, distanciamento não tem nenhum — constatou.
Com uma posição privilegiada para observar a movimentação no terminal, Luiz Segalla, vendedor de café e pastel que trabalha há cinco anos no Triângulo, disse que tem percebido número menor de pessoas aguardando os coletivos, mas, por outro lado, mais ônibus com pessoas em pé. Durante pouco mais de uma hora em que a reportagem esteve no Triângulo, foi possível ver ônibus passando cheios.
Terminal José Eduardo Utzig: pouco movimento e ambiente limpo
Outro terminal importante da Capital, o José Eduardo Utzig estava praticamente deserto na manhã desta quinta-feira. GZH chegou ao local — que corta a Terceira Perimetral e a Benjamin Constant, pouco depois das 8h, já fora do horário de maior movimento. Poucas pessoas aguardavam os ônibus e, a maioria ia ou voltava de Alvorada. O ambiente estava limpo e as escada rolantes funcionavam.
Terminal Cairú: ônibus atrasados e falta de higienização
A reportagem também esteve no terminal Cairú, na Avenida Farrapos, importante ligação entre a Zona Norte e os demais pontos da cidade. O metalúrgico Sérgio Luiz da Silva, 51 anos, avalia que os intervalos entre horários do ônibus que pega, o T12, estão maiores em comparação com o período anterior à pandemia. Ele comenta ainda que a tabela horária "não está sendo cumprida": o ônibus deveria sair às 8h35min do terminal e só apareceu quase 10 minutos depois. O trabalhador também observa redução na higienização dos coletivos.
— No começo, nos finais de linha, sempre tinha higienização nos ônibus. Nunca mais foi feito, a gente nunca mais vê gente limpando dentro do veículo, a gente não sabe se está higienizado ou não. A gente procura também o álcool em gel para subir ou para descer e não tem, só está ali o tubinho, mas não tem mais álcool — atentou.
A gente nunca mais vê gente limpando dentro do veículo, a gente não sabe se está higienizado ou não
SÉRGIO LUIZ DA SILVA
Sobre a linha T12
Outra passageira que aguardava ônibus no Cairú era a auxiliar administrativa Ane Matielo, 52 anos. Ela costuma pegar o T2 ou o T2A na praça Pinheiro Machado, próximo do terminal, mas conta que "seu ônibus não apareceu" nesta quinta-feira. Por isso, decidiu pegar um T12 — o mesmo que Silva. Ela também repara que a tabela não está sendo cumprida e que falta maior cuidado com a limpeza:
— É uma imundice que chega a dar nojo. Quando a gente encosta nos pegadores, aquilo chega a ser grudento. Basta entrar em qualquer ônibus dessa linha da Carris. O chão parece que nunca viu limpeza. A qualidade do serviço deixa muito a desejar.
O terminal Cairú não tinha aglomeração ou concentração grande de pessoas aguardando ônibus.
Vistoria intensificada pela EPTC
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) informou que irá reforçar a fiscalização durante. O órgão ainda disse que realiza operações diariamente para verificar o cumprimento da tabela horária e das medidas de higienização e prevenção à covid-19 estabelecidas pela prefeitura, como a capacidade máxima de passageiros, obrigatoriedade de uso de máscaras por usuários e pela tripulação, circulação com janelas abertas e disponibilização de álcool gel.
A empresa pública orientou que os usuários acompanhem os horários e itinerários dos ônibus em tempo real através da função GPS do aplicativo TRI POA.
A EPTC ressalta que é importante a colaboração dos passageiros ao registrar as ocorrências do transporte público através do número 118 da prefeitura, informando a linha, local e prefixo dos veículos.
O que diz a Carris
"Informamos que a tabela horária oficial vigente está sendo cumprida de acordo com a possibilidade da empresa, com monitoramento constante em tempo real do itinerário e velocidade de cada prefixo nas linhas. Como parte das ações de prevenção e enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo Coronavírus, os colaboradores da Carris que são integrantes do grupo de risco encontram-se afastados de suas atividades profissionais.
O número de clientes transportados nas viagens está de acordo com as determinações da Prefeitura de Porto Alegre. As tripulações são constantemente informadas, para que estejam cientes dessas diretrizes. Reiteramos que o Serviço de Atendimento ao Cliente Carris (SACC) está disponível nos fones 0800-9799855, para ligações fixo, no 3315-5444, para ligações de celular, e através do e-mail sacc.carris@carris.com.br. Todas as demandas recebidas pelo SACC são avaliadas pelos gestores.
Quanto ao T11, há a possibilidade de reforço a partir da próxima semana, quando entrarão em vigor mudanças feitas nas escalas de trabalho."