A proximidade com o verão trouxe para parte dos porto-alegrenses um problema já conhecido dos períodos de calor na Capital. Nos últimos dias, multiplicam-se nas redes sociais relatos de alterações no cheiro e no sabor da água que sai da torneira. Moradores do Centro, Cidade Baixa e outros bairros da região estão entre os mais afetados.
Somente em uma postagem de uma usuária que levantou a questão no grupo Vizinhos do Centro Histórico no Facebook, na quarta-feira (16), mais de 90 pessoas comentaram ter percebido as alterações. Há quem também reclame de mudanças na coloração da água tratada.
Em postagens feitas pela reportagem no grupo do Centro e no Vizinhos da Cidade Baixa, diversos outros moradores relataram terem identificado cheiro ou gosto ruins, inclusive, ao preparar bebidas saborizadas, como café e suco.
Moradora da Rua João Alfredo, na Cidade Baixa, a empresária Cristina Mittermaier começou a sentir diferença na semana passada. No começo desta semana, ao tentar tomar um chimarrão, viu que a situação tinha piorado. Nem o purificador instalado junto à torneira atenuou o gosto desagradável.
— Eu ponho gengibre na água, mas nem isso está camuflando. Parece terra molhada. Nem os gatos estão conseguindo tomar. Estou tendo que comprar água mineral — conta.
Na casa de Daniela Pires de Andrade, na rua Riachuelo, o filho foi quem alertou que havia algo estranho na água.
— Sábado eu percebi que estava com uma coloração, e, no banho, meu filho reclamou do cheiro da água do chuveiro. A pia também está com um cheiro ruim. Quando lavo a louça, sobe bem forte — diz a moradora do Centro Histórico, que diz ter ouvido reclamações de outros vizinhos.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou, através de sua assessoria de imprensa, que recebeu “algumas reclamações” de gosto e odor no dia 15 de dezembro. Para amenizar o problema, o órgão ampliou a dosagem de dióxido de cloro utilizada no tratamento de água, mas alerta que “as medidas tomadas demoram alguns dias para serem percebidas pelos usuários, visto que a água armazenada no sistema e nas caixas de água nas residências leva um tempo para ser consumida e reposta”.
O órgão não informou a causa do problema, mas disse que “como é comum nestes períodos de estiagem e forte calor, o estado de alerta é constante”. Segundo o departamento, estão sendo tomadas “medidas cautelares” e intensificado o monitoramento nos pontos de captação.
Episódios de alteração no cheiro e no sabor da água da torneira não são incomuns nos meses de calor na Capital. Embora nem sempre sejam causados pelo mesmo motivo, um fator reincidente é a floração de alga, o que, segundo o Dmae, não ocorreu até agora. Apesar da experiência desagradável, o órgão garante que não há riscos em consumir a água da torneira, que atende a padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Estudo-piloto pode ajudar
Casos como os que têm ocorrido em alguns bairros da Capital costumam ser tratados com pequenas alterações nas etapas finais do tratamento de água, para tentar amenizar o impacto no consumo. Mas uma alternativa no horizonte da prefeitura pode trazer uma solução definitiva.
Um estudo piloto em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) irá testar um sistema de ozonização, alternativa utilizada principalmente em cidades da Europa e da Ásia. O tratamento, que utiliza ozônio para eliminar compostos orgânicos e microrganismos da água, permite neutralizar uma gama maior de substâncias do que o método convencional, com carvão ativado e dióxido de cloro.
O projeto, orçado em R$ 15 milhões, deve ter duração de dois anos a partir da contratação _ ainda não há, no entanto, previsão para o lançamento do edital.
Enquanto as alternativas são restritas, o Dmae recomenda que, em caso de mudanças no gosto, cheiro ou aspecto da água, seja aberto um protocolo via 156 opção 2 ou pelo aplicativo EuFaçoPOA. A notificação ajuda os técnicos a investigar pontualmente a qualidade da água que chega às residências e orientar a população.