A vizinhança agitada do bairro Santa Rita, em Guaíba, voltou a chamar atenção dos moradores. Com o volume de chuvas das últimas semanas, os jacarés-de-papo-amarelo que vivem em valos das principais ruas da comunidade deram mais as caras. Como o nível dos valos subiu, alguns dos animais chegaram a circular pela rua, causando alvoroço, apesar de os moradores demonstrarem tranquilidade com a presença dos animais que, segundo relatos, estão há mais de 10 anos na localidade.
Só que, para além da chuva e do passeio no asfalto, não longe dali, um dos répteis entrou no Hospital Berço Farroupilha e precisou ser retirado pelo Corpo de Bombeiros. Vídeo que circula nas redes sociais mostra os agentes da corporação retirando o animal, que estava embaixo de algumas cadeiras na área de acesso.
Segundo a prefeitura, por meio das tubulações de esgoto, os animais se movimentam entre a região do bairro Santa Rita e um açude próximo do hospital.
Na tarde desta terça-feira (15), a reportagem do Diário Gaúcho circulou pela comunidade e, em menos de uma hora, localizou três jacarés tomando banho de sol. Um dos animais estava a menos de três metros da pista e bem próximo de onde moradores – muitos sem nem notar a presença do bicho – circulavam. Como a presença é tão rotineira, só com a chegada da reportagem é que alguns moradores notaram que o “vizinho” estava próximo.
A dona de casa Jandira Ribeiro, 91 anos, se protegia do sol forte com uma sombrinha. Entretanto, nem notou o animal que lhe espreitava a poucos metros. Questionada, demonstrou surpresa:
– Eu nem tinha visto, senão, não passava ali. Que perigo, na idade que eu estou, se me pega, não ia conseguir reagir. A gente vê muitos por aí, ainda bem que nunca atacaram ninguém.
Em tom bem-humorado, a maioria dos moradores não se diz incomodada com a situação. Entretanto, um relato de que um dos animais teria atacado um cachorro recentemente causou desconfiança. Entre os moradores ouvidos, ninguém presenciou o fato, apenas ouviu a história. Durante a presença da reportagem, muitos cães passavam pela área, mas não despertaram qualquer reação dos jacarés.
Com um estúdio na avenida onde fica um dos valos no qual os jacarés vivem, o tatuador Luciano Coelho, 42 anos, diz que nunca viu os répteis atacando. A única diferença que nota é o tamanho – segundo ele, os animais estão cada vez maiores:
– Dá para ver que eles estão bem alimentados, não sabemos como.
O encarregado aposentado Luís Carlos Gomes, 50 anos, diz que durante a chuvarada da semana passada, sua filha registrou um dos animais andando pela rua. Ele não acredita que houve ataque a um cachorro, mas acha, por vezes, arriscada a proximidade.
– Problema é quando a chuva faz eles saírem para a rua, aí é perigoso mesmo. Mas, do jeito que é agora, não vejo problema. Importante é não aproximar, cada um no seu território.
Proteção para a cachorrinha Dumbo
Mesmo sem confirmação de que um dos jacarés teria atacado um cão no bairro Santa Rita, a história que corre pelas ruas fez com que a comerciante Silvana Czaplicki, 38 anos, construísse uma área de proteção para a cachorrinha Dumbo, mascote adotado por ela e quem trabalha na agropecuária onde é sócia. Dumbo tem costume ficar deitada no gramado próximo ao valo, embaixo de uma pequena árvore.
– Quando está fresquinho, deixamos ela ali com água e ração. Ela adora. Mas, como soubemos dessa história, achamos melhor fazer uma proteção – conta Silvana.
Com o calorão de ontem, a cachorrinha preferiu ficar no pátio do comércio, onde tem uma casinha com o nome estampado na entrada. Longe do calor e, principalmente, dos jacarés.
Açude próximo a hospital deve ganhar cerca
Segundo o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Selito Carboni, não há muito o que a prefeitura possa fazer em relação aos animais. Isso porque o valo onde eles habitam tem ligação com o Guaíba. Então, se os animais são levados para lá, eles voltam. Carboni também ressalta que não chegou ao conhecimento da prefeitura nenhuma notícia de ataque a cão pelos jacarés.
Em relação ao caso do hospital, ele diz que os bichos ficam em um açude ligado a rede de valos, por isso circulam entre o bairro e o local. O fato de o réptil ter entrado no hospital é “caso isolado”. Ainda assim, ele diz que a prefeitura planeja cercar o açude com telas que limitem a movimentação dos animais. Entretanto, não há prazo:
– A nossa orientação é a de sempre: manter a distância, não alimentar e em casos que eles saiam da água para o perímetro urbano, fazem contato com autoridades, como os Bombeiros, para intervir.