A presença de um "invasor" atrasou o trabalho das equipes de uma companhia de eletricidade no Vale do Rio Pardo. Com ordem de substituição de três postes condenados, os profissionais da Rio Grande Energia (RGE) de Santa Cruz do Sul depararam com um ninho de tucano-de-bico-verde instalado dentro da coluna de madeira em que se apoiam os fios de luz. O abrigo foi montado a mais de 10 metros de altura, a partir de um buraco circular no poste.
Assim que a ave foi encontrada, surgiu o impasse: como manter o habitat do animal e efetuar o serviço, indispensável devido ao risco de desabamento das hastes, degradadas pela ação do tempo? De acordo com o técnico de Redes de Distribuição da RGE, Joilson Brites Antunes, inúmeras discussões foram realizadas, até que se chegou a uma decisão: manter parte do poste antigo na nova estrutura.
— Serramos o antigo poste na altura do ninho e afixamos no poste novo, de concreto — explica o especialista.
Entre os debates, o planejamento e a execução, se passaram três meses. O serviço foi finalizado no final de outubro.
O toco de madeira com o ninho virou então um "anexo" do poste de alvenaria. Para afixar a estrutura antiga, sem risco de queda, se usou o mesmo material empenhado nos componentes de distribuição de energia: cintas metálicas e arames de sustentação.
Durante a obra, em torno de 12 pessoas trabalharam na ação. Os servidores informaram à companhia que o tucano permanecia sobre os cabos de energia, à espreita do que acontecia no entorno do ninho que mantinha seus filhotes.
Para evitar lesão às aves recém-nascidas, não foi feito contato com o interior do ninho – contudo, o tucano adulto foi visto alimentando os pequenos pássaros frequentemente. Não há, devido a esse distanciamento, uma contagem de quantos filhotes vivem no local
Construção feita por pica-paus
Ao analisar a arquitetura do ninho, com perfuração da madeira, os profissionais constataram se tratar de uma construção feita inicialmente por pica-paus. O tucano, portanto, se apropriou do espaço para chocar os seus ovos.
Nesta quinta-feira (26), um mês após a iniciativa ter sido posta em prática, o animal ainda era visto no poste, em guarda para manter o ninho seguro.
A repercussão local do caso alegra quem está acostumado a ser acionado em situações de emergência, quando há interrupção no abastecimento – o que gera, naturalmente, reclamações dos usuários.
— É muito gratificante. Conseguimos minimizar o impacto ambiental e eliminamos o risco de queda dos postes — diz o funcionário da RGE.
Antunes revela que, após o caso, ficou conhecido como “o cara do tucano” pelos colegas e vizinhos no município. Ele confessa ainda que, muito antes do caso, já prestava assistência às aves.
— Na frente da minha residência eu alimento os pássaros sempre. Mas não gosto de vê-los em gaiolas. Sempre os deixo soltos — afirma.