Um almoço entre amigos, na localidade de Três Vendas, em Cachoeira do Sul, no feriado de 12 de outubro, acabou marcado pelo resgate de um bugio no Rio Jacuí. O inusitado episódio foi registrado em vídeo, que viralizou nas redes sociais.
Os amigos estavam no almoço comemorativo do grupo que serviu em 1992 no 3º Batalhão de Engenharia de Combate, em Cachoeira do Sul. Por volta do meio-dia, um deles, que pescava às margens do Jacuí, viu o macaco reduzir a velocidade do nado durante a travessia. Ele já havia nadado cerca de 100m dentro do rio. Na mesma hora, o grupo entrou no barco e decidiu auxiliá-lo.
— Não entendo de animais silvestres, mas no momento em que alcancei o remo, ele ficou quietinho. Não teve nenhuma reação. Ele estava muito cansado, mesmo sendo um animal selvagem. Em nenhum momento, tentamos trazê-lo para o barco. Ele é muito bonitinho, mas é um animal silvestre e não é doméstico. Só fizemos o que estava ao nosso alcance para ele conseguir atravessar — contou Cléber.
As imagens, filmadas pelo caminhoneiro Renato Quadrado, de Guaíba, de 47 anos, mostram o animal nadando lentamente contra a correnteza do rio. Ele estava tentando atravessar o Jacuí. O barco com Renato e outros três amigos se aproxima do macaco na tentativa de auxiliá-lo. Neste momento, o também caminhoneiro Cléber Martins, 46 anos, estende um remo para o bugio se equilibrar. O macaco segura a madeira, sem tentar se aproximar do barco. Os amigos reduzem a velocidade do motor para que o bicho se mantenha equilibrado até a outra margem, onde é deixado sobre as árvores e segue seu destino.
— Aquele trecho do rio tem muita correnteza. Para deixarmos o barco parado, precisamos de uma âncora bem pesada. O bugio corria o risco de não chegar na outra margem — conta Cléber.
— Fechamos o encontro do grupo com um final completamente diferente. Inesquecível — resume Renato.
O especialista em primatas e professor titular na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Júlio César Bicca-Marques, viu o vídeo e aprovou a iniciativa dos amigos de Cachoeira do Sul.
— Não é comum encontrar bugios nadando, mas isso acontece. É claro que eles evitam, mas podem fazê-lo para ir de uma margem à outra de um rio, por exemplo. As pessoas que fizeram este, digamos, resgate, agiram corretamente, especialmente porque evitaram se aproximar do animal. Se eles não o tivessem auxiliado, também estariam corretos. O rio parecia ter uma certa correnteza que podia estar dificultando o bugio-ruivo de chegar na margem. E ele podia estar cansado de todo o esforço. Também não sabemos se ele caiu na água ou se entrou para atravessar o rio. Os amigos que o ajudaram não correram risco porque mantiveram o animal na ponta do remo e não tentaram se aproximar dele. O animal não os atacaria por isso. Se algum deles tentasse tocá-lo, o animal poderia tentar se defender — comenta o professor.
Alguns macacos não nadam, mas os bugios são capazes de nadar, de acordo com o especialista. Bicca-Marques relata que este não é o primeiro caso que ele vê em vídeo de um bugio atravessando um rio. Num dos mais recentes, o animal também parecia cansado, subiu no barco e foi de carona, mesmo ficando distante da tripulação.
— As pessoas devem evitar o contato próximo com os animais silvestres. Não devem tentar um contato físico porque ele pode, ao se defender, acabar atacando — alerta o especialista em primatas.