Moradores da Vila Valneri Antunes, na zona norte da Capital, sofrem com uma incerteza em relação aos novos locais onde vão morar. A comunidade, que fica em uma área ocupada no Parque Chico Mendes, no bairro Mario Quintana, abriga cerca de 90 famílias, conforme o Departamento Municipal de Habitação (Demhab). Em setembro, o próprio departamento, segundo recordam moradores, informou que as famílias enfim deixariam a área nos 30 dias seguintes.
A transferência seria para apartamentos no loteamento Irmãos Maristas, que fica a poucos minutos do local e é mais conhecido por ser o destino de boa parte das famílias da Vila Nazaré, outra ocupação da Capital que passa por reassentamento.
Entretanto, mais de dois meses depois de serem notificados, os moradores seguem na Vila Valneri Antunes. O problema é que, como devem deixar o local a qualquer momento, famílias que estavam investindo em reformas nas casas cessaram com os reparos, venderam os materiais de construção e, agora, sofrem com a falta de manutenção nas residências.
A vila em si não tem infraestrutura adequada para moradia. Esgoto a céu aberto, ligações irregulares de energia elétrica e problemas no abastecimento de água são situações comumente vivenciadas por quem vive na área de extrema vulnerabilidade social.
Parte da comunidade acredita que o atraso na mudança se deve aos problemas estruturais do loteamento Irmãos Maristas que vieram a público recentemente, como rachaduras que ocasionaram a retirada de 40 moradores de um dos prédios do local. Entretanto, a situação foi normalizada após técnicos emitirem laudos que garantem a segurança da construção, na segunda metade de outubro.
Adiado
Moradora da Valneri Antunes há 12 anos, a estudante de Biblioteconomia Priscila do Nascimento Silva Santos, 27 anos, diz que escolheu seu apartamento e assinou contrato com a Caixa Econômica Federal há dois meses. Foi informada de que a mudança poderia ser feita em uma semana. Mas, com a evacuação de um dos prédios, o processo foi interrompido.
– O material de construção que tínhamos foi vendido porque íamos sair em duas semanas, no máximo. Arrumei até algumas caixas, encaixotei muitas coisas – conta Priscila.
Na casa que ela divide com o marido, o eletricista Leonardo André Santos de Mello, 31 anos, e três filhos, a situação é complicada:
– O telhado cedeu e chove como na rua.
Promessas desde 2018
Conforme a dona de casa Ana Paula da Silva Fermino, 30 anos, as primeiras informações sobre a saída das famílias surgiram em 2018. Desde então, o ritmo de manutenção ou reformas nas casas da comunidade reduziu drasticamente, pois, a qualquer momento, as residências poderiam ser colocadas abaixo.
– Estava reformando a casa e o Demhab esteve aqui para fazermos a escolha do apartamento. Paramos as obras, vendemos o material e escolhemos o apartamento. Logo depois, seria assinatura do contrato com a Caixa. Mas, até agora, estamos sem resposta. As tábuas da minha casa estão podres. Em dia de temporal parece que vai cair o telhado.
A auxiliar de serviços gerais Madalena Silveira, 41 anos, vive há pouco mais de uma década na Vila Valneri Antunes. Ela sempre teve consciência de que a área era ocupada e as famílias precisariam sair em algum momento.
E quando a notícia se concretizou, com a construção do loteamento Irmãos Maristas, pelo menos houve certeza do destino dos moradores. Agora, o maior empecilho é a demora para as mudanças.
– Ainda estou esperando fazerem contato comigo, o Demhab nunca me procurou – reclama Madalena.
“Na verdade, não há atraso”
Em nota, a direção-geral do Demhab informou que “na verdade, não há atraso”. A autarquia diz que a demora se trata do “trâmite necessário em um processo de reassentamento” e garantiu que as mudanças vão começar já na próxima semana. O órgão explicou que as famílias estavam apresentando documentação para assinatura dos contratos e fazendo a escolha das unidades para onde vão e que cada família escolheu o seu apartamento.
Porém, no período, também houve a necessidade do Demhab “renovar o contrato com a empresa que faz a demolição de desocupações, para se evitar novas invasões das áreas, contrato que já está renovado”.
Os moradores da área desocupada vão para as unidades restantes do loteamento Irmãos Maristas. Ficaram excedentes os 4º e 5º andares de alguns blocos.