Não sobrou nem cerveja vencida. Atendendo exclusivamente por entregas em razão do distanciamento social desde abril, os sócios d’O Barzito, na Rua Miguel Tostes, foram surpreendidos com um cenário desolador no fim da semana passada. Ao chegar no local para buscar um produto, um deles deparou com uma grade serrada, três portas arrombadas, uma janela e parte do telhado quebrados. Dentro do bar de drinks inaugurado há cerca de um ano e meio restavam apenas algumas garrafas de bebidas pela metade. Eletrodomésticos, tablet, objetos de decoração, botijão de gás, destilados, cervejas e até mesmo embalagens usadas nas entregas tinham sido levados.
– Fizeram a limpa. Levaram coisas de família, com valor emocional, o projetor que usávamos para colocar o cardápio na parede, todas as heinekens e as cervejas artesanais. Até umas vencidas que eu ia usar para produzir licor – conta Beto Galetto, um dos sócios.
Os proprietários não sabem dizer o dia em que teria ocorrido o furto. Como nos últimos meses passaram a trabalhar apenas com entregas, as idas ao local foram restritas às sextas-feiras e sábados. Eles acionaram a Brigada Militar no dia em que identificaram os arrombamentos, e registraram ocorrência junto à Polícia Civil nesta terça-feira (22). A reportagem busca contato com o delegado responsável.
O crime complicou ainda mais a situação do estabelecimento que, segundo Beto, vinha operando apenas para pagar as contas desde o começo do distanciamento social. No início da pandemia, tinham negociado o valor do aluguel para conseguir manter o negócio no imóvel, uma casa de dois pavimentos na quadra entre a Rua Cabral e a Avenida Protásio Alves.
– A gente não queria perder a casa, porque levamos meses até encontrar um lugar como queríamos. Além de furtar o bar, levaram as coisas que a gente tinha para correr atrás do prejuízo – observa.
O passo seguinte foi avisar à clientela. Em uma postagem no perfil do estabelecimento no Instagram, com quase 5 mil seguidores, eles relataram o furto e pediram ajuda. Em vez de contribuições espontâneas, no entanto, estimularam as pessoas a comprarem os drinks e a recomendarem o bar para os amigos. A postagem teve mais de 2 mil curtidas e engajou parte do público, que movimentou as encomendas.
– Achamos mais legal pedir para comprar do que nos darem dinheiro, já que a situação está ruim para todo mundo. Foi o fim de semana que mais a gente teve pedidos até hoje. Foi super bom, mas a gente estava bem atrapalhado. Ia trabalhando e descobrindo coisas que tinham sido levadas – conta Beto, que comanda o bar ao lado de Bruno Ritzel e Vitória Fetter.
Para conseguir dar conta dos pedidos, contaram com a ajuda de outros bares, que emprestaram equipamentos e embalagens. Voltaram às redes sociais para agradecer aos compradores e pedir desculpas pelo atraso nas entregas em razão dos percalços.
O trio também divulgou nas redes sociais do bar um inventário com fotos dos objetos de família furtados na ação. Entre eles estão um candelabro ornamentado, dois abajures em bronze, um relógio de mesa em madeira e uma licoreira em vidro, entre outros. Pedem aos clientes que denunciem caso identifiquem os artefatos em sites de compras.
Agora, buscam imagens de câmeras de segurança do entorno para tentar descobrir o dia dos arrombamentos – uma obra próxima teria sido furtada na mesma semana. Enquanto a investigação não avança, tentam especular o que teria ocorrido: sem sucesso ao quebrar a janela do banheiro, que é gradeada, nem ao arrombar a maçaneta da porta, os ladrões podem ter tentado entrar pelo telhado, que é fechado. Serrar a grade, avaliam, pode ter sido a última das tentativas de ingressar no imóvel, cuja fachada discreta, em cinza, lembra a de uma casa comum.
– Por ser um imóvel discreto, a gente tinha receio de que acontecesse alguma coisa quando houvesse clientes. Mas a casa é toda gradeada. A gente nunca achou que alguém ia entrar – relata Beto.
Inaugurado em 2018, O Barzito trabalha com drinks autorais e cervejas. Mesmo com a flexibilização de regras para o funcionamento de bares e restaurantes, os sócios optaram por seguir a distância em razão da pandemia de coronavírus.