Um ponto colorido contrastava com o céu nublado do início da manhã desta quinta-feira (10), na zona sul de Porto Alegre. Produzido em 1976, o fusca rosa do corretor de seguros Jonas dos Santos, 31 anos, chama a atenção não apenas pela cor: personalizado, o veículo tem forração branca nos bancos, uma prancha no teto e uma mala estilo retrô sobre o motor — localizado na traseira, para os desavisados. O para-brisa é móvel, no estilo das caminhonetes de safári. Há, ainda, um adereço semelhante a uma manivela de dar corda ao lado da placa.
— Quando estraga, é só dar corda e arranca — brinca o proprietário.
Nas vias do bairro Ipanema, o fusca motor 1.300 é alvo de fotos de pedestres e também de outros motoristas, que chegam a mudar o caminho para se aproximar do carro estilizado. Passageiros de um ônibus que passou ao lado do veículo também direcionaram olhares para o automóvel. As crianças, segundo o corretor, pedem para posar ao seu lado.
A personalização custou R$ 8 mil e demorou nove meses, do fim de 2019 até a metade do ano atual. Se somado o desembolsado para compra do carro, o montante alcança R$ 14 mil, valores que, segundo o dono, dificilmente seriam recuperados em uma possível transação.
A cor na lataria não foi modificada, com intenção de quebrar o preconceito sobre homens que possuem artigos que, antigamente, seriam usados como referência apenas para mulheres. Não faltam, devido a pintura, brincadeiras ligadas a uma marca de cosméticos norte-americana, conhecida por premiar com um carro rosa os vendedores que se destacam na empresa.
Jonas afirma receber propostas diárias para negociar o Herbie, referência à franquia cinematográfica lançada nos anos 1960, que tem como personagem principal um fusca falante. A referência ao famoso xará do cinema é vista sobre a mala, nas mesmas cores que o emblema do modelo ficcional, e o número 53 no logotipo. A mais recente tentativa de compra foi feita ao vivo, durante entrevista à Rádio Gaúcha, nesta quinta.
— Taco a taco no meu, agora — gritou um ouvinte da Gaúcha ao passar pela Avenida Guaíba, próximo de onde a reportagem era apresentada.
As histórias que envolvem o “pink beetle”, apelido usado na descrição do carro-blogueiro no Instagram com a conta @fuscarosa76, também envolvem o desejo de posse sobre o automóvel.
— Parei em uma blitz, estava com o documento atrasado, e o policial começou a tirar foto. Depois, me fez proposta, queria comprar, mas eu não aceitei — relembra.
Em situação semelhante, o casamento foi posto em risco.
— Quando eu comprei, cheguei dirigindo em casa e minha esposa — na época noiva —, achou que era para ela. Eu disse que não, ficou um clima, mas hoje ficou para a família — jura o corretor.
Um fato, ainda sem explicação, gerou repetidas situações constrangedoras ao dono do modelo pouco convencional.
— Já fui parado mais de uma vez na rua por gente perguntando se eu tinha seda, essas de fechar cigarro de maconha, para vender. Não sei qual a conexão — questiona, perplexo, reiterando ser contra o uso de substâncias ilícitas.
Como todo fusca, não podiam faltar viagens interrompidas por pane mecânica, seja por gasolina aditivada que levou para a bomba de combustível a sujeira acumulada no tanque, seja por um incêndio provocado pelo fio do alternador. Nos dias frios, ligar o carro é o primeiro desafio. Mas tudo encarado com bom humor:
— Tenho um carro mais novo para trabalhar, esse é para passear de vez em quando. Mas vou colocar uma ignição eletrônica.
Confira a entrevista feita no programa Gaúcha Hoje