Distante dos áureos tempos, o Hotel Everest viveu nesta terça-feira (29) um dos seus últimos capítulos na Rua Duque de Caxias, no Centro Histórico de Porto Alegre. Se no passado o local fervilhava de hospedes instalados em seus aposentos, hoje o motivo do movimento foi a venda do mobiliário e de objetos. O estabelecimento encerrou as operações após 56 anos.
Nesta tarde, uma fila de clientes esperou mais de três horas para ingressar no prédio tradicional, junto ao viaduto Otávio Rocha. Por volta das 17h, cerca de 20 pessoas aguardavam na calçada sem saber se entrariam e o que encontrariam. Na Duque de Caxias, ao menos oito caminhões com os baús abertos estavam estacionados em frente ao hotel, com vários trabalhadores acomodando nos veículos as compras.
No saguão, um grande de número de pessoas carregava objetos e mobílias recém adquiridos: colchões, bancadas, televisores, talheres, equipamentos de frigobar, cadeiras, copos, entre outros.
Hoje, a venda foi somente para empresas e pessoas jurídicas do setor de bares, restaurantes e hoteleiro. Dono de uma loja de venda de móveis usados, Gilberto Miranda chegou ao local às 10h e só conseguiu entrar no hotel às 13h. Apesar da longa espera, saiu satisfeito com as novas aquisições:
— Comprei vários equipamentos de ar-condicionado, bancadas, frigobar. Fizemos um belo rancho. Andamos por todos os andares. O valor (das mercadorias) está valendo muito. Vai vir lucro certo. Valeu a pena.
Já a dona de um bar na área central de Porto Alegre, Bruna Dutra lamentava na calçada não conseguir entrar no prédio.
— Mais de três horas aqui e ainda não consegui entrar. Ainda não sei o que vou comprar. Mas espero primeiro conseguir entrar. Por enquanto, está complicado — desabafou.
A família responsável pelo hotel contratou uma empresa para organizar a venda dos produtos. O responsável pela comercialização do acervo, Júlio Lovato, destacou que a venda dos itens está ocorrendo em etapas. Primeiro, familiares e funcionários adquiriram itens. Nesta terça-feira, foi a vez de abrir para pessoas jurídicas. Nesta quarta-feira (30), a venda será aberta ao público em geral, às 9h.
— Se hoje, com um público bem restrito, já tivemos fila e grande procura, nesta quarta-feira, o movimento será bem maior. Mas estamos respeitando todos os cuidados aqui dentro em relação ao distanciamento — destacou Lovato.
Ao longo desta terça-feira, a entrada no prédio só foi liberada conforme saíssem clientes. O número de itens à venda não foi informado pelos organizadores do acervo.
O Everest
O encerramento das atividades do Everest, um dos hotéis mais tradicionais de Porto Alegre, foi noticiado pela imprensa no início de setembro. O local, que teve sua operação interrompida em razão da pandemia de coronavírus, foi isolado com tapumes. Reportagem de GZH na ocasião informou que a decisão foi tomada no começo de julho, conforme Ana Fett, neta do fundador e administradora do hotel. Depois de três meses inoperante e sem boas perspectivas para o retorno, a família decidiu demitir os 26 funcionários — outros 21 tinham sido demitidos em março — e fechar as portas de vez. Foram 56 anos de atividade.