Mesmo sem o respaldo de um novo decreto, que ainda não tem data para ser publicado, os trabalhos em obras privadas de Porto Alegre foram retomados nesta segunda-feira (10). Desde as 7h, parte dos 27 mil trabalhadores da Capital já voltou aos canteiros, em convocação do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS).
O sindicato justifica a retomada alegando acordo firmado com o prefeito Nelson Marchezan, fato que teria ocorrido na última sexta-feira (7).
Entre os profissionais que voltaram a atuar está o carpinteiro José Augusto Bueno, 63 anos. Morador do bairro Santa Tereza, ele saiu de casa às 5h30min e caminhou até o prédio que ajuda a erguer, no bairro Cristal.
– A gente estava apreensivo já em casa, com medo - afirma.
Os primeiros veículos chegaram ao estacionamento do edifício antes do nascer do sol, na área conhecida como Pontal do Estaleiro, às margens do Guaíba, na Avenida Diário de Notícias. Ainda com a lua visível, dois guindastes iniciaram o içamento de blocos que serão montados na estruturara.
Sobre os andaimes, uma dezena de estacas de madeira foram afixadas pelos profissionais, formando uma espécie de cerca de proteção, primeira atividade da retomada da construção do conglomerado de edifícios. Além de salas comerciais e da área da saúde, um hotel é previsto para operar no local.
O som estridente da serra circular sobre os ferros pôde ser ouvido na Rua Gonçalves Dias, no bairro Menino Deus, onde há uma sequência de prédios em construção. Na maior das intervenções, pouco mais da metade dos profissionais compareceu ao canteiro em que uma torre de 15 andares é elevada.
Há, ainda, dúvidas dos operários sobre os horários do expediente, regulamentação que deverá ser esclarecida pelo executivo a partir da nova regulamentação que é redigida.
Logo na entrada do terreno, os cuidados de proteção contra a covid-19 são visíveis: álcool em gel está disponível ao lado de uma pia com torneira e toalhas de papel. O vestiário e o refeitório terão as utilizações escalonadas, a fim de evitar aglomerações.
Em alguns condomínios também foi possível encontrar reformas em apartamentos – apenas reparos emergenciais estão autorizados segundo a determinação vigente.
Nenhum trabalhador foi visto sem máscara nos ambientes visitados pela reportagem de GaúchaZH.
Segundo o Sinduscon, nos 62 dias em que foi permitido o andamento das obras em Porto Alegre, nenhum funcionário foi diagnosticado com coronavírus. No site do sindicato, o presidente da entidade, Aquiles Dal Molin Junior, defende que "o momento implica mais do que nunca em cuidados", e prometeu um setor "atento" e "rigoroso" no controle das medidas sanitárias. "Façamos a nossa parte pelo bem social e econômico de nossa Cidade", complementa o dirigente.
A prefeitura reforça que, sem a publicação do decreto, as atividades não são permitidas. Em nota, o Executivo afirma que "apesar de termos combinado com entidades empresariais de diversos setores a publicação do decreto que regulamenta o retorno das atividades em Porto Alegre, isso não será realizado até o alinhamento dos termos da reabertura com Estado, Ministério Público e Judiciário. A cautela visa a garantir maior segurança jurídica e evitar novos prejuízos aos comerciantes".
De acordo com o mapa de distanciamento controlado do governo do Estado, a construção civil pode operar mesmo nos municípios com bandeira vermelha. Há, porém, a limitação do efetivo a 75% da mão de obra total.
Confira a nota da Prefeitura na íntegra
"Apesar de termos combinado com entidades empresariais de diversos setores a publicação do decreto que regulamenta o retorno das atividades em Porto Alegre, isso não será realizado até o alinhamento dos termos da reabertura com Estado, Ministério Público e Judiciário.
A cautela visa a garantir maior segurança jurídica e evitar novos prejuízos aos comerciantes - como os já causados, nesse feriado, pela confusão (desnecessária) entre competências municipal e estadual."