Pelo menos 72% dos 94 bairros oficiais de Porto Alegre já tiveram alguma morte provocada pelo coronavírus desde o início da pandemia até o final da tarde deste domingo (19).
Entre as 68 regiões com notificações de óbito nesse intervalo, os maiores números se concentram no Centro Histórico, com nove vítimas, seguido por Lomba do Pinheiro, Menino Deus e Rubem Berta, com oito cada uma. Até a realização do levantamento, a Capital somava 204 vidas perdidas para a pandemia.
Conforme a análise realizada por GaúchaZH nos microdados divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), que passou a acrescentar a informação sobre o bairro dos infectados pelo novo vírus em suas planilhas, seis registros de mortes não especificavam a zona de origem.
O epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry afirma que a quantidade de ocorrências por bairro ainda não é tão significativa em termos estatísticos para resultar em conclusões definitivas, mas permite observar algumas tendências. Uma delas é a de agravamento da pandemia, que desembarcou no Brasil afetando principalmente as classes mais altas, em áreas de maior vulnerabilidade social.
— Esse é um fenômeno que já foi estudado em São Paulo, onde se verificou uma mortalidade maior em áreas mais pobres em comparação a áreas mais ricas. Estamos começando a ver isso aqui também — observa Petry.
Entre os cinco bairros da Capital com mais mortes aparecem Lomba do Pinheiro e Rubem Berta, que apresentam renda familiar 70% e 55% inferiores à média da cidade, respectivamente. Isso poderia indicar uma condição prévia de saúde mais precária ou maior dificuldade de acesso a serviços. Mas outros indicadores também ajudam a entender melhor a distribuição da mortalidade por covid-19.
Quando se analisa o tamanho da população e a densidade de moradores por quilômetro quadrado, as áreas mais atingidas em geral ficam acima da média municipal. O Centro Histórico, conforme dados do site do Observatório da Cidade de Porto Alegre (ObservaPOA), é o sétimo mais populoso da Capital, e tem uma densidade demográfica 5,6 vezes superior à do município.
Além disso, os idosos são o grupo afetado de forma mais grave pela doença. Nem todos os bairros que lideram o ranking de fatalidades da covid têm as proporções mais elevadas de moradores com 60 anos ou mais, mas em pelo menos dois deles esse pode ser outro componente para entender o cenário atual. A zona central tem quase um quinto da população nessa faixa etária — contra uma média municipal de 15% —, e o Menino Deus, sétimo colocado no ranking de idosos da Capital, tem 23,4%.
Já o Moinhos de Vento, embora tenha a maior proporção de pessoas velhas da cidade, com 34%, notificou apenas uma morte até o domingo. A seu favor, a região tem uma população de apenas 7 mil moradores e uma renda média mais de duas vezes superior ao padrão de Porto Alegre.
A Lomba do Pinheiro chama a atenção, em sentido oposto, pela jovialidade de seus habitantes: menos de 9%, conforme os dados do ObservaPOA, são idosos. A Lomba também destoa das demais áreas por ter uma densidade demográfica inferior à de Porto Alegre, mas está entre as regiões mais populosas. É o quinto bairro em número de moradores, com 48,4 mil habitantes.