Com as novas restrições da prefeitura de Porto Alegre, Márcia do Espírito Santo, 42 anos, ficou em dúvida se poderia abrir as portas ainda nesta terça-feira (23). Proprietária de uma pequena joalheria na Galeria do Rosário, no centro da Capital, ouviu as notícias no rádio e foi trabalhar, mas os clientes não vieram. As pessoas já deduziram que estava tudo fechado, conclui.
Ela culpa a falta de empatia da população para o novo retrocesso — todo o comércio da cidade terá que fechar na quarta-feira (24) para frear a evolução da covid-19.
— No momento em que ocorreu a flexibilização e tudo começou a abrir, o entendimento foi de que o vírus não estava mais aí e as pessoas foram relaxando. Vamos fechar novamente, passando por dificuldades financeiras, mas torcendo que agora as pessoas se conscientizem e façam sua parte para a gente voltar.
Pelo decreto em vigor desde segunda, apenas microempreendedores individuais, além de serviços essenciais, como farmácias e supermercados, ainda podem abrir na cidade. Já o novo decreto determina que todo o comércio não essencial deixe de atender a partir de quarta.
Com um tapete desinfetante na entrada e um kit de álcool 70º de prontidão para higienizar tudo o que está ao alcance e a todo momento, a banca de artigos religiosos de Claudia Kolesar, 54 anos, ainda abriu nesta manhã no Mercado Público. Os funcionários atendiam os clientes junto ao corredor, e só entrava quem realmente fazia questão, um por vez apenas. Mas os cuidados já não garantem o funcionamento do negócio. Só restaurantes, estabelecimentos de comércio de alimentação e venda de produtos alimentícios poderão funcionar ali, por telentrega e pegue e leve, segundo a prefeitura.
O movimento já era baixo nesta terça no prédio de 150 anos, e as pessoas pareciam mais apressadas que de costume. Elisete Dipp, 65 anos, professora, parou poucos segundos para contar à repórter que saiu para comprar carne, mas estava preocupada por ser de grupo de risco.
— Entendo que tem que dar uma freada — diz ela, sobre as novas restrições, emendando: — E vou indo porque já conversamos demais.
O gerente de um restaurante, que, a partir de quinta, precisa voltar a operar apenas com o sistema de pegue e leve e telentrega, conta que os funcionários estão assustados. Parte deles teve contrato suspenso e foi chamado de volta em maio, e não sabe o que deve acontecer agora. Vendedor de uma loja de perfumes na Rua Marechal Floriano Peixoto, Robert Daniel Severo, 52 anos, também vive essa dúvida:
— Para nós, é péssimo. Ficamos dois meses fechados, negociamos com o dono para ganhar 50% nessa época. Mas agora vamos ter de partir para nova negociação.
GaúchaZH também circulou pelo bairro Menino Deus nesta manhã. Embora o comércio esteja praticamente todo fechado, ainda havia circulação considerável de pedestres. Entre eles, Claudio Mota, 54 anos, que foi levar o relógio para o conserto em uma relojoaria. Ele contou à reportagem que nem acompanha mais os decretos:
— É um fecha, abre, abre e fecha.
Mota é da opinião que não deveria haver restrições ao comércio, porque "as pessoas têm que trabalhar, e a pandemia ainda vai durar muito".
Dono de um comércio de materiais fotográficos na Getúlio Vargas, Filipe Corrêa, 37 anos, avaliou que ainda podia abrir sua loja por se enquadrar como microempreendedor. Mas ele relata que, se for solicitado pelos fiscais, vai voltar a fechar. A demanda, segundo ele, já está sendo muito baixa.
Os lojistas que desrespeitarem as novas restrições podem ser interditados e multados. Nesta segunda, as ações de fiscalização buscaram orientar lojistas e estabelecimentos, mas, já a partir desta terça, podem ser aplicadas sanções.