O frei Luiz Sebastião Turra, pároco da Paróquia Santo Antônio há 13 anos, sentiu o padroeiro agir no dia dele, celebrado anualmente em 13 de junho. Neste sábado (13), a igreja no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre, precisou adaptar a programação devido às normas de distanciamento social devido ao coronavírus e contou com uma ajudinha divina.
Tradicionalmente, o dia de festejo é aberto com fogos de artifício, mas o frei explica que o santo casamenteiro agiu bem mais cedo, antes do início da missa – transmitida pelas redes sociais, às 8h30min.
— Fomos surpreendidos por um temporal, muita chuva, muito vento, relâmpagos, e, por isso, não precisamos fazer um acordar com foguetes. Santo Antônio os mandou lá de cima (risos). E ela foi parando logo na sequência, com o pessoal assistindo à celebração online — explica Turra.
Na sequência da missa, uma pequena quantidade de membros da igreja saiu em carro aberto por ruas da região, abençoando populares com uma imagem do santo. Nas janelas, o frei conta que milhares de pessoas colocaram panos brancos para homenagear os profissionais da saúde que atuam na luta contra o coronavírus.
Na igreja, era permitida a entrada somente de 40 pessoas por vez, para participar de breves orações. Depois, a partir das 14h, o movimento de carros causou congestionamento nas duas ruas ao redor da igreja. A tradicional bênção dos pães e dos veículos foi unificada em um mesmo momento: o fiel se aproximava com seu carro e, ali mesmo, mostrava o pão ao frei, que já realizava as duas orações.
A logística era auxiliada por voluntários, como o bancário Roberto Zimmer, 55 anos, que estava diante de uma das filas de carros realizando a entrega de um cartão com a oração e uma medalha já abençoada. Participante da comunidade há mais de 10 anos, ele vê o engajamento como uma forma de agradecimento:
— A fé nos ajuda muito a enfrentar momentos bons e difíceis, como esse que passamos. Quando trabalho aqui, a gente recebe proteção de Deus e vejo o quanto as pessoas estão carentes, precisando de esperança. Existem muitas formas de se chegar a Ele, e todas são válidas — acredita Zimmer.
Famílias e motociclistas
Ao longo das ruas Luiz de Camões e Paulino Chaves, cruzamento em que fica a paróquia, quatro freis davam suas bênçãos sobre os veículos. Na fila, era preciso um pouco de paciência, mas o cenário era de tranquilidade dentro deles. A farmacêutica Analigia Lara Almeida, moradora da região há sete anos, foi ao local acompanhada dos pais, Sonia e Jorge, para receber a prece.
— Depois de ela morar um tempo no norte do país, quando ela voltou para cá, falei para morar no bairro Santo Antônio. Sempre dizia que era onde ela iria construir a vida dela, e deu mais do que certo — conta Sônia sobre a filha, que acabou se casando na igreja do Partenon dois anos atrás.
Promessa na incerteza
O cenário de incerteza diante do coronavírus fez com que Iracema Moretto e Arlenio Salvador adaptassem uma promessa, que consistia em distribuir balinhas. Iracema é voluntária na comunidade há pelo menos 15 anos e sempre participa da procissão. Com o cancelamento da caminhada noturna, ela tem ficado em casa, e saiu somente para a bênção.
— Seguimos forte na fé e em primeiro lugar em Deus e depois em Santo Antônio. Vai dar tudo certo, isso tudo vai passar — reforça Iracema.
Casados há mais de 14 anos, Alex Sandro Barros da Silva e Adriana Rodrigues de Souza também são voluntários e sempre traziam a família para receber a bênção. Como seus pais estão acima dos 90 anos, eles têm evitado sair de casa. Diante do vírus, acreditam que as pessoas precisam ter mais fé.
— Temos que orar muito e ser menos materialistas e mais humildes. Está faltando humanidade. Nós também fazíamos a caminhada de Santa Tereza até aqui, e nossos pedidos sempre foram atendidos. O momento é de ajudar o próximo como puder — pontua Adriana.
Motos abençoadas
E não eram só carros que estavam na fila para receber a oração especial. Richard Dias Figueiredo e Ana Maria Sena e o casal de amigos Sadi e Kelly de Oliveira vieram com suas motos, por serem o instrumento de trabalho deles durante a semana. No caso de Sadi e Kelly, eles deixaram os filhos de nove e 15 anos em casa, para evitar que corressem riscos.
— Eu sempre peço pela família, porque Santo Antônio nos responde de várias formas. Além de casamenteiro, ele é do nosso dia a dia, sempre protege cada um da nossa família — reforça Kelly.
— E ele é um abre caminhos, para sempre seguirmos em frente, para não ter nenhuma porta fechada na nossa vida — completa Richard.
Para o frei Turra, o momento de isolamento social tem mostrado que a população de Porto Alegre segue ainda mais forte na fé.
— Eu estou impressionado de ver a imensa fé do nosso povo. Acho interessante que esse período não se chama só isolamento, mas sim interiorização, de entrar dentro de cada um, entrar em si para descobrir o que há de melhor em cada ser humano — finaliza o frei.
A programação do Dia de Santo Antônio seria encerrada com uma missa presidida pelo arcebispo Dom Jaime Spengler , na paróquia, às 18h, com transmissão pelo Facebook da igreja.