E se a mobilidade urbana de Porto Alegre voltasse a 2015? Ao longo de uma semana, três repórteres de GaúchaZH utilizaram somente transporte público para os seus deslocamentos diários. A ideia era mensurar o impacto dos aplicativos no cotidiano e destacar os aspectos ora positivos, ora desgastantes da experiência de contar apenas com o poder público para se deslocar pela cidade.
Pontos positivos
Eficácia do GPS: inaugurado em agosto passado, o CittaMobi, aplicativo que informa as linhas que passam por cada ponto e as distâncias por GPS, funcionou quase perfeitamente. Embora tenha recalculado as distâncias em algumas ocasiões, melhorou significativamente a qualidade do serviço de ônibus ao dar mais previsibilidade ao sistema, poupando tempo nas paradas.
Preço em viagens longas: aparentemente, nos desacostumamos a usar o ônibus mesmo quando é uma ótima opção. Não foram raras as ocasiões em que os repórteres descobriram uma linha conveniente para um trajeto longo que diminuiu o preço da viagem para quase um terço do mesmo trajeto se fosse feito por aplicativo de transporte. Recorrer ao app, muitas vezes, é pura força do hábito.
Qualidade do táxi: quando os aplicativos chegaram, a promessa era oferecer um serviço melhor — que incluía balinha, água, ar condicionado e motoristas educados e bem vestidos — por um preço mais acessível ao do táxi. A tarifa continua mais salgada, mas hoje é o táxi que oferece carros e serviço melhores do que os aplicativos, cuja qualidade da viagem virou uma loteria.
Diferença no bolso: para a maioria dos trajetos, pedir um transporte por aplicativo seria opção mais prática e apenas um pouco mais cara. De "apenas um pouco" em "apenas um pouco", o custo é significativo no final do mês. Em uma semana, os repórteres gastaram em média R$ 90, mesmo recorrendo por vezes ao táxi. Com aplicativos, o valor seria aproximadamente 30% maior.
Segurança nos veículos: a união de esforços dos órgãos de segurança conseguiu reduzir em mais de 80% ocorrências de ataques a ônibus na Capital em três anos. O resultado é perceptível dentro dos coletivos, em que a maioria dos usuários utilizava telefones e fones sem receio, ao menos em trajetos diurnos. As paradas de ônibus, todavia, ainda são um ponto de risco à ação dos bandidos.
Pontos negativos
Trajetos sem linhas: há pontos cegos no transporte público mesmo entre bairros centrais próximos. Em um sábado à noite, por exemplo, o trajeto mais rápido sinalizado entre a Cidade Baixa e o Moinhos de Vento era uma caminhada de 48 minutos. De ônibus, todos os trajetos possíveis envolviam dois coletivos com mais de uma hora de viagem.
Lotações às cegas: mesmo com muita boa vontade, para alguém que não está acostumado aos itinerários do sistema, é difícil descobrir se um lotação passa por algum trajeto desejado. Não há GPS nos veículos e o site é confuso. A solução é recorrer a aplicativos terceirizados que mapearam o sistema, como o Moovit.
Preço x tempo em trajetos curtos: com a devida organização pessoal, o transporte público supre a maior parte das necessidades a um custo mediano. Porém, a relação custo-benefício pende para o aplicativo quando considerado o fator tempo. A maior parte dos trajetos cumpridos de ônibus, mesmo executados com sucesso, seriam mais rápidos por aplicativo.
Resposta dos problemas do BikePoa: embora a qualidade das bicicletas seja muito boa, todos os repórteres tiveram problemas técnicos nas estações do BikePoa. O mais comum deles é não computar a devolução da magrela. Até que o problema seja resolvido, são 24 horas sem poder usar a bicicleta novamente.
Calor sem ar condicionado: apesar de a prefeitura afirmar que 38% da frota de ônibus conta com ar condicionado, foram raros os veículos com a funcionalidade. Porém, em viagens curtas o benefício seria pouco significativo. No calor porto-alegrense, o maior problema é circular a pé até as paradas, um problema sem solução.