Uma vez adquirido o hábito de ter um motorista à disposição de um toque no celular, era sabido que voltar exclusivamente ao transporte público por uma semana requereria algum esforço, como ter mais organização pessoal para planejar os meus trajetos. Porém, não esperava ter de contar com coisas como preparo físico, camisas reserva e um robusto pacote de internet.
Logo no primeiro dia, a falta de organização pesou. Lembrei que começaria o desafio apenas na hora de deixar o apartamento rumo à redação de GaúchaZH, já atrasado. Tive de decidir rapidamente entre duas alternativas: o BikePoa ou o táxi. O resultado da pedalada às pressas no verão porto-alegrense foi uma marca de suor do tamanho da mochila nas minhas costas, para espanto dos colegas. Camisas claras, até o final da reportagem, estariam proibidas.
No sábado à noite, outro problema apareceu quando decidi ir ao cinema. Morador da Cidade Baixa, descobri que moro em um ponto cego no sistema de transporte urbano da Capital. Eram 20h quando pesquisei como ir da Lima e Silva até o Moinhos Shopping e ri de nervoso. O aconselhável era caminhar 48 minutos, pois as duas alternativas de ônibus ofereciam trajetos esdrúxulos superiores a uma hora de viagem com baldeação. Ou seja: eu já estava atrasado para a sessão de cinema das 21h30min. Resolvi pedalar de BikePoa até o Bom Fim e de lá pegar uma linha direta.
Combinando caminhada, bicicleta, ônibus e um certo desprendimento de caminhar à noite por ruas vazias, consegui chegar ao shopping em 37 minutos. Não sem antes ter de renovar o meu pacote de internet para destravar a bicicleta, pois eu passara a semana planejando trajetos. Quem faria isso se não fosse obrigado? Quem combinaria dois modais, encararia uma parada na Osvaldo Aranha vazia para gastar R$ 4,70 em vez de R$ 12, como gastou minha namorada que desembarcou em 15 minutos?
Porém, não se pode incorrer no erro de desconsiderar sempre o ônibus. Minha maior lição foi ao retornar da rodoviária em um dia de semana. Naturalmente escolheria entre táxi e Uber, mas descobri pelo aplicativo CittaMobi que a linha C3, que me deixa na esquina de casa, passaria em seis minutos. O trajeto, com ar-condicionado e tudo, foi ainda mais rápido graças à faixa exclusiva da Independência. Se me rendesse à preguiça, teria gasto mais do que o dobro dos R$ 4,70 para encarar o trânsito do Centro Histórico. Ponto para o transporte público.