Porto Alegre será a primeira cidade do Brasil a colocar em prática um programa internacional destinado a melhorar a segurança do trânsito no entorno de escolas e evitar mortes como a de Mariana, aos 11 anos, ocorrida uma década atrás quando voltava da aula para casa.
O pai da estudante, Clóvis Rodrigues, acompanhou o ato de assinatura do convênio entre prefeitura, a organização International Road Assessment Programme (iRAP) e a Fundação Thiago Gonzaga na Escola Estadual Mané Garrincha na manhã desta sexta-feira (8). Inicialmente, cinco estabelecimentos serão incluídos no programa batizado de Caminho Seguro, mas os demais colégios participantes ainda não foram definidos.
— A Mariana teve os sonhos interrompidos por um crime de trânsito. Espero que esse projeto se espalhe para muitas instituições de ensino. A vida é muito frágil — afirmou Rodrigues, 54 anos, apresentado como "padrinho" da iniciativa na Capital.
Mariana, atingida por um veículo no bairro Sarandi, era filha única. Rodrigues jamais voltou a ser pai. O atropelador foi identificado, mas morreu durante o andamento do processo judicial. O esforço para evitar que histórias trágicas como essa se repitam envolve um sistema informatizado desenvolvido pela iRAP, uma organização sem fins lucrativos com sede na Inglaterra e atuação em cerca de cem países por meio de diferentes programas.
Um dos mais recentes, do qual Porto Alegre é a primeira cidade a se engajar no país, chama-se Star Rating for Schools (algo como Classificação por Estrelas para Escolas). A ferramenta está em teste em 30 países e será formalmente lançada em fevereiro, na Suécia.
Em resumo, pessoas treinadas pela organização coletam informações sobre infraestrutura, fluxo de pedestres e de veículos nas ruas próximas a colégios e abastecem o sistema criado pelo iRAP por meio de um aplicativo. O sistema analisa as informações e faz uma avaliação sobre o nível de segurança do entorno, atribuindo a cada via uma avaliação que varia de uma a cinco estrelas. Para um local ser considerado adequado, deve contar com pelo menos três.
— O sistema também permite simular cenários com base em possíveis melhorias. Se alterar a velocidade máxima naquele ponto ou mudar o local de travessia, por exemplo, ele estima o impacto na segurança e recalcula a classificação daquele trecho — explica a coordenadora global do Star Rating for Schools, Rafaela Machado.
Assim, o aplicativo pode orientar o investimento público em cada região com base em evidências concretas e aumentar a possibilidade de sucesso.
— Quando vemos o próprio presidente da República fazer campanha contra a educação e a punição no trânsito, temos de investir nesse tipo de trabalho — afirmou o secretário de Mobilidade Urbana, Rodrigo Tortoriello, em referência a declarações recentes de Jair Bolsonaro contra o que costuma chamar de "indústria da multa" ou ações como a suspensão do uso de radares móveis em rodovias federais.
A intenção é que as melhorias no trânsito sejam implementadas a partir do próximo ano letivo. A Fundação Thiago Gonzaga deverá participar do projeto, ajudando a coletar e abastecer a ferramenta de informações com apoio da comunidade escolar. Também participaram da assinatura do convênio, em uma sala de aula repleta de alunos e com a presença do mascote da EPTC (o Azulito), o criador da fundação e professor Régis Gonzaga, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Marcelo Gazen, e o diretor regional do iRAP nas Américas, Julio Urzua.
Como funciona
- Pessoas são treinadas pelo iRAP para abastecer um aplicativo com informações sobre a infraestrutura (condições das calçadas e da rua, existência ou não de sinaleira, local de travessia de pedestres etc.), fluxo de pedestres e veículos.
- Durante a coleta de dados, também são buscadas informações com alunos, professores e familiares sobre as condições das vias no entorno da escola.
- Com base nas informações, o sistema atribui uma classificação de segurança a cada trecho do entorno em uma escala que varia de uma a cinco estrelas. Uma via adequada deve ter pelo menos três.
- Possíveis melhorias na segurança podem ser testadas por meio de um simulador. Ele indica qual o impacto de possíveis medidas como mudança de local de travessia, mudança do limite de velocidade, colocação de sinaleira, entre outras ações.
- Com base no resultado das simulações, o poder público pode orientar investimentos em busca dos melhores resultados de segurança.
- O resultado prático pode continuar a ser monitorado com base nos critérios do aplicativo, comprovando o acerto das medidas ou indicando a necessidade de complementações.